Um Natal de brindes contidos

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Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 05:12

- Atualizado há um ano

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Os vinhos certamente serão caríssimos. A comida, é bem provável, será farta e saborosa. Também é grande a chance de os presentes custarem uma nota. Já a decoração, imagino eu, estará bem luminosa. Mas, também num exercício de imaginação, ouso arriscar: os brindes da ceia de Natal de Marco Polo Del Nero não serão tão animados.

Dezembro, definitivamente, não foi um mês bom para o agora afastado presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), aquele que não põe os pés fora do território brasileiro porque sabe que tem tudo para ser lançado no xadrez.

Do ponto de vista prático, Del Nero enfim foi golpeado nas suas reiteradas alegações de inocência. A partir de informações vastamente conhecidas sobre os caminhos das propinas em negociações de direitos de transmissão, a Fifa o afastou por 90 dias de qualquer atividade ligada ao futebol. Logo, o chefão da CBF teve que sair do cargo – é claro que ele segue mandando, mas a ferida está aberta.

A situação inchou pra Del Nero durante o julgamento do seu ex-amigo inseparável José Maria Marin. Além das provas e dos depoimentos de testemunhas e delatores que implicam o (ainda) presidente da CBF, a própria defesa de Marin jogou Del Nero na fogueira.

Nesse contexto, há um dado que chama atenção e mostra como a corrupção está arraigada entre os dirigentes brasileiros, do mesmo modo que está arraigada na política. Dos 42 réus de várias nacionalidades envolvidos no chamado Fifagate, Del Nero é o único que não saiu do cargo. Todos os outros estão presos, ou sendo julgados ou renunciaram, como o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter.

Tal vexame só se impõe graças à conivência das federações estaduais e dos grandes clubes brasileiros, cujos representantes se beneficiam das trocas de favores e pagamentos imorais - quando não ilícitos – nos labirintos da CBF.

 Outro fator que contribui para o vexame é a proximidade entre nossos cartolas e políticos de ficha corrida bem conhecida, o que resulta em patacoadas como a CPI do Futebol, cujo relatório final, elaborado pelo senador Romero Jucá, incrivelmente não indicava a investigação de nenhum dirigente, mesmo diante de todas as provas.

 Acontece que dezembro de 2017 não foi bom para Del Nero. E aí, além do afastamento determinado pela Fifa, ele tem que encarar uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, que só agora resolveu apurar supostas falcatruas do tempo em que o mangangão presidia a Federação Paulista de Futebol. Há suspeitas de lavagem de dinheiro, estelionato e organização criminosa.

Outro episódio do fatídico mês é que, segundo a Folha de S. Paulo, Del Nero tomou falta na final da Copa Sul-Americana, no Maracanã, porque foi “aconselhado” pelo presidente da Conmebol, que não o queria a seu lado.  

Pra completar, um exame de DNA solicitado pela Justiça provou que Del Nero é pai de um comerciante de 48 anos que pede R$ 3 milhões em indenização ao genitor que nunca o reconheceu. É claro que esse é um problema pessoal do presidente afastado da CBF, sem relação com as investigações de que é alvo, mas é possível que esteja no hall de coisas para as quais ele torcerá o bico na hora do brinde.

No fim das contas, quem gosta de futebol e das coisas bem feitas espera ansiosamente o dia em que Del Nero será realmente punido. Aí sim, todos brindarão de verdade.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados