Um povo de fé na festa e na bola

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Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 05:15

- Atualizado há um ano

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Um amigo querido, rubro-negro firme, e outros torcedores do Leão no final do Brasileirão do ano passado  fizeram uma importante promessa: caso o Vitória escapasse do rebaixamento à Série B, os dito cujos caminhariam unidos da Igreja da Vitória à Igreja do Bonfim.

A jornada foi previamente batizada de Caminho de Santiago Tréllez, numa alusão ao caminho percorrido por milhares de peregrinos todos os anos até Santiago de Compostela, na Espanha.

Noves fora a intenção, pra mim não ficou claro se, pra fazer jus ao batismo, os participantes teriam que receber dedadas durante todo o périplo, mas o fato objetivo e inescapável é que o Vitória manteve-se na primeira divisão e este amigo querido, rubro-negro firme, até hoje não pagou a promessa. Signatários idem.

Como se sabe, caro leitor ou bela leitora, desde que a Bahia é Bahia não é aconselhável descumprir promessas feitas aos planos superiores, especialmente quando o acordo envolve nosso Senhor do Bonfim.

Vislumbre aí aquela sala de ex-votos na Colina Sagrada, com tantos pedidos e agradecimentos, por formatura, por trabalho, por saúde, por carro, por casa, por amores que vêm e vão e Senhor do Bonfim assoberbado com aquele mundo de informações e objetos e de repente tem que interromper o serviço porque o cidadão pediu atenção ao clube do peito e, em troca, prometeu caminhar até um pouco mais do que a multidão caminha todo ano. O santo, claro, fez a parte dele, mas contrapartida que é bom até agora necas.

A barra dessa galera só aliviou um pouco anteontem, na Lavagem do Bonfim. Ali, na mistura de crenças, saberes e suores, muita gente aproveitou pra botar o futebol num dos nós da fitinha amarrada no gradil – sem falar nos que dedicaram todos os nós à paixão boleira. Nisso, a atenção do santo pode ficar um tanto difusa e quem já estava negativado no SPC da Colina ganha tempo para sanar as dívidas.

Um tricolor de boa-fé, igualmente querido, exagerou e amarrou três fitas. Uma para questões laborais, outra para a instância pessoal e a terceira exclusiva para o Bahia. A sapiência do povo indica não revelar pedidos, mas a puro malte o fez abrir exceção: pediu os títulos do Baiano, do Nordestão e da Copa do Brasil, de modo que nem precisou solicitar uma vaga na Libertadores pelo Campeonato Brasileiro.

Outro rubro-negro valoroso – este não escalado para o Caminho de Santiago Tréllez – andou da Conceição ao Bonfim com a camisa do Vitória (a rubro-negra, não a branca, observe-se). Já na Colina, uma Baêa amada e maledicente disse que podia dar azar. Ele mostrou os detalhes em branco do escudo, garantiu estar tudo combinado com Senhor do Bonfim e arrematou: “Não posso fazer nada!”.

Por sua vez, aquele que inventou de sair da Vitória ao Bonfim até compareceu à Lavagem, mas estava de serviço, então nem adianta argumentar de que ao menos uma parte da promessa já foi paga. Afinal, trabalho é trabalho, metafísica à parte.

Avisado de que seu débito iria parar neste texto (como já parou no de nosso líder Binho), o bom amigo assevera que o pagamento da promessa é questão de tempo: basta encontrar um denominador na agenda dos pretensos caminhantes.

Expliquei-lhe que não tenho nada com isso, dei apenas o recado. É com ele e o santo. Minha fita, que fique claro, amarrei na quinta-feira.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados