Urbanista colombiano destaca potencial de Salvador para agregar pessoas

A convite do CORREIO, palestrante do Fórum Agenda Bahia visitou trechos da cidade mais moderna e do Centro Histórico

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  • Andreia Santana

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 07:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

É praxe os forasteiros se impressionarem com as particularidades — excentricidades, talvez — de Salvador. Elas costumam impactar e, também, gerar reflexão.  Foi precisamente o que aconteceu com o urbanista colombiano Carlos Cadena Gaitán. Ele passeou na terça, 29, pela cidade, a convite do CORREIO, e não ficou imune à mistura de encantamento e curiosidade pelos contrastes da capital. De celular em punho, registrou cada detalhe do passeio entre exclamações de “muy lindo!” (muito bonito) e perguntas sobre a história e cultura. Era o impacto. 

Nesta quarta, será a reflexão. Carlos Cadena Gaitán está em Salvador como conferencista máster do seminário Cidades, no Fórum Agenda Bahia 2017, que acontece, a partir das 8h, na sede da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb). 

Depois de enfrentar um voo de 18 horas, de Bogotá, na Colômbia, até Salvador, com escala no Rio de Janeiro; ele recebeu a reportagem no hotel e, de lá, embarcou em um tour pela nova e a antiga Salvador.

A visita começou pela Avenida Luís Viana Filho (Paralela) onde ele fotografou desde os ambulantes nos pontos de ônibus até o trânsito intenso do final de tarde. Ficou interessado na estrutura das passarelas que interligam os dois lados da avenida e decepcionado com a falta de conexão entre as ciclovias da região, que cobrem apenas um pequeno trecho da Paralela. 

Também ficou surpreso com o fato das estações de metrô no local não possuírem um terminal de transbordo intermodal, que facilite a microacessibilidade dos usuários do sistema. 

Encontro com o mar  Um dos trechos preferidos da visita foi a área revitalizada de Piatã, com calçadas para patinadores e pedestres e ciclovias (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Carlos Cadena Gaitán é cicloativista e defensor de meios de transporte mais sustentáveis. Ele foi eleito Líder de Sustentabilidade do Futuro, em 2015, por ações desenvolvidas no coletivo La Ciudad Verde e no Fórum Mundial da Bicicleta.

Por isso, ao se deparar com as antigas ciclofaixas da Avenida Dorival Caymmi que  se converteram em estacionamento ao longo do meio-fio, não escondeu o desapontamento: “As pessoas  aqui devem achar mais fácil sair de carro próprio do que usar outros meios. A estrutura viária da cidade contrasta com a atmosfera acolhedora”, opinou.

Na saída da Dorival Caymmi para a Sereia de Itapuã, uma onomatopeia serviu de tradução para o encantamento diante do encontro com o mar. O tour seguiu pela orla marítima, com uma parada em Piatã, onde além de arriscar a pronúncia do nome da praia,  também fotografou a interação entre ciclistas, aspirantes a maratonistas e patinadores. 

“É admirável haver um espaço para crianças aprenderem a andar de bicicleta. Aqui, além de muito bonito, é um lugar onde as pessoas convivem. As cidades devem ter mais locais assim, que valorizem o verde e o azul (mar, rios, lagoas)”, acrescentou.

Seguindo pela orla, Cadena ficou curioso com os remanescentes dos antigos rios e lagoas da cidade. Na altura do canal do rio Jaguaribe, ao se deparar com as pixações de ativistas ambientais contra o projeto de cobrir o canal, concordou que o ideal seria revitalizar a área. “A cidade deve valorizar seus mananciais e as áreas verdes, converter esses ambientes em lugares de convivência para os moradores”. 

O prédio mais bonito

Depois de conhecer a Salvador mais moderna e sua orla, o urbanista colombiano percorreu a área mais antiga da capital. Na Praça Municipal, o Elevador Lacerda foi eleito por ele o prédio mais bonito da região. Em segundo, no ranking, ficou a Câmara Municipal.

Cadena quis saber o contexto de construção do Elevador e como era a relação dos moradores com a sua cidade dividida em dois níveis. Debruçado na balaustrada da praça, falou do potencial da região do Comércio e ficou um pouco desapontado ao saber que aquela área, antigo centro financeiro e comercial da cidade, tem muitos prédios abandonados. “Esses prédios deveriam valer muito, essa área tinha de estar toda ocupada, com moradores, centros culturais, é maravilhoso”, exclamou, apontando para os casarões em ruínas ao lado da parte baixa do Elevador Lacerda. 

O espetáculo visto do alto, da paisagem da Baía de Todos os Santos estendida logo abaixo, só não foi mais encantador para Cadena do que a descoberta de que o nome original dela é Kirimurê, como a baía era chamada pelos índios tupinambás, antes da chegada dos colonizadores portugueses.

“Esse nome é muito mais bonito. As pessoas chamam a baía assim?”, perguntou, não escondendo a surpresa ao ser informado que não, que prevalece o nome dado pelos colonizadores católicos.

Da Praça Municipal, o visitante foi levado ao coração do Centro Histórico, no Terreiro de Jesus, Cruzeiro de São Francisco e na suntuosa igreja barroca toda decorada de ouro, onde na hora da visita, acontecia a tradicional missa da terça-feira da bênção.

Ele não escondeu o riso ao, na saída da igreja, se deparar com o palco já armado para a festa “profana” que acontece sempre depois da devoção e achou peculiar o fato da cultura baiana ser tão diversa.

Na volta ao hotel, o urbanista, um pouco cansado, mas satisfeito com a experiência, disparou: “Já estou me sentindo como um nativo da terra”. Claro que foi convidado a voltar.