Urbanista defende mobilidade mais sustentável nas cidades

Para Carlos Cadena Gaitán, as pessoas precisam reocupar a rua para retomar o sentimento de grupo e transformar a realidade social nos centros urbanos

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  • Andreia Santana

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 23:25

- Atualizado há um ano

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As cidades precisam favorecer que seus moradores reocupem o espaço urbano e reestabeleçam laços de convivência inerentes à espécie humana. Com mais gente indo e vindo, as ruas se tornam seguras e acolhedoras. Com essa ideia, o urbanista colombiano Carlos Cadena Gaitán abriu ontem o seminário Cidades, evento do Fórum Agenda Bahia 2017. E intimou a plateia, que lotou o auditório da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb): “Temos de civilizar as ruas para recuperar o tecido vital das cidades”

Cadena Gaitán veio à Salvador apresentar as mudanças sociais e urbanísticas de Medellín, na sua Colômbia natal, onde um plano de mobilidade sustentável e com modais integrados se aliou ao conceito de ‘urbanismo social’, com investimentos de infraestrutura, educação e cultura nas comunidades mais pobres. 

No espaço de uma geração, Medellin evoluiu de “capital mundial do homicídio” para um exemplo global de inovação urbana, vencendo, inclusive, o prêmio City Of The Year (Cidade do Ano), em 2013.

Questionado sobre como foi possível implementar tantas melhorias urbanas e diminuir a violência, Cadena foi taxativo: “o oposto da insegurança não é a segurança. O oposto da insegurança é a convivência. A partir do momento que as cidades acolhem os seus moradores e que as pessoas convivem nos espaços públicos e ocupam as ruas, a violência diminui”.

Decisões compartilhadas 

Para chegar a essa equação em que mais qualidade de vida para todos significa menores índices de violência, foi preciso que comunidade, poder público, empresários e as universidades de Medellin trabalhassem juntos em prol da cidade. Todos os projetos foram tocados a partir de decisões compartilhadas e horizontalizadas; ou seja, com o diálogo fluindo entre os envolvidos.

“Isto é sinergia, colaboração, que tem mais força do que participação. A comunidade tem de colaborar com os projetos, se envolver nas discussões, compartilhar  decisões. É preciso que haja conversa e não informação unilateral”.

Um exemplo de decisão compartilhada citado por Cadena tem relação com o fato de determinadas ruas de Medellin terem sido fechadas ao tráfego, para permitir que as pessoas interagissem entre si e com o espaço público. No começo, os comerciantes locais reclamaram, achando que iriam perder clientela. 

"Depois, perceberam que quem anda a pé consome mais do que quem está de carro. A partir daí, concordaram com as mudanças. Em Salvador tem experiências assim, como na Barra, mas para dar certo, é preciso engajar o comércio local, mudar a cultura. É preciso espaço para as pessoas conviverem e viverem a cidade”.

Urbanismo Social

Citando a ativista canadense Jane Jacobs, para quem a rua é o componente essencial das relações humanas nas cidades, e a cientista política norte-americana Janette Sadik-Khan, que afirma que "mudar a rua é mudar o mundo", Cadena apresentou índices surpreendentes da revolução positiva de Medellin.

Com os PUIs (Projetos Urbanos Integrais), as comunidades carentes locais não ganharam só escadas elétricas e teleféricos, mas diversas obras de microacessibilidade que fazem a interconexão dos modais de transporte. 

Além disso, foram criados 17 parques, porque segundo Cadena, o verde e o azul (árvores e rios) tornam a paisagem mais amável; e desenvolvidos 290 projetos sociais associados às políticas de mobilidade.

As ações ainda geraram 3.439 postos de trabalho diretos para os habitantes do setor da cidade onde o  piloto dos PUIs foi testado. "É importante criar nas pessoas o sentimento de pertencimento às suas comunidades e também permitir a geração de negócios, tornando as mudanças sustentáveis", afirma Cadena.

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.