Vaquinha do peru: Natal em família é alternativa para garantir ceia com mesa farta

Levantamento mostra que sete em cada dez (73%) entrevistados pretendem dividir as despesas da festa

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 07:05

- Atualizado há um ano

Então é Natal! Será? Com a crise, há quem diga até que o frango está tomando o lugar do peru à mesa. Aonde, pai! É lenda! Pelo menos é o que revela pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). O levantamento mostra que o brasileiro vai dar um jeito, sim, de cair de boca no peru no dia 24. No peru, no bacalhau e, quem sabe, até nas nozes. Como? Em baianês, “rachando” a conta.

O levantamento mostra que sete em cada dez (73%) entrevistados pretendem dividir as despesas da festa, compartilhando os custos entre os familiares (37%) ou estipulando que cada membro leve um tipo de prato ou bebida diferente (36%). A realidade é que, com os perrengues da economia, as famílias ficaram ainda mais unidas financeiramente.      No G Barbosa, região do Iguatemi, a cabeleireira Sônia Gomes, 56 anos, catava maçãs verdes na seção de hortifrútis. Maçãs? Pois é: um dos ingredientes do salpicão. Pretende gastar R$ 80 no prato. Abaixo até da média nacional. Este ano, o consumidor deve gastar, em média, R$ 136,52 com os preparativos da ceia ou do almoço de Natal. A cifra mostra um comportamento mais cauteloso, uma vez que, no ano passado, a intenção de gasto era de R$ 167,90.

Vai ser a contribuição de Sônia para o Natal da família, que terá entre 15 e 20 pessoas. “Cada um vai levar algo para comer ou beber. Foi-se o tempo que ficava tudo na mão do dono da casa”, disse Sônia. Por outro lado, seu salpicão promete. Vai ter até frango defumado misturado ao creme de leite e batata palha. 

Na ceia da família de Fábio Ramos, os pratos não são tão tradicionais.  “Eu vou levar lasanha. É que lasanha é diferente. Senão fica muita coisa repetida”, explicou. Nos tempos áureos, era seu pai que botava tudo. “Era outra época. A família cresceu, os filhos estão trabalhando, a crise chegou, tá na hora de ajudar o velhinho”, brincou Fábio. Fábio Ramos também vai contribuir para a ceia da família (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Para o economista e planejador financeiro pessoal Edísio Freire, a crise da economia ampliou um pouco o que já era feito por muitos brasileiros em eventos como aniversários. Agora, até a classe média vai dividir os gastos do Natal. “Essa iniciativa de cotizar a ceia de Natal é uma solução muito boa para o momento atual. E acaba unindo ainda mais a família. Afinal de contas, o mais importante é a confraternização”, diz o economista.     Patriarca Segundo o levantamento do SPC e CNDL, 15% dos entrevistados garantiram que apenas uma pessoa deverá arcar com todas as despesas da ceia, sejam eles mesmos (9%) ou outro anfitrião (6%). Caso do representante comercial Luiz Antunes Feitosa, 74 anos. Carrinho de supermercado cheio, pode deixar a ceia com o patriarca. Tradição de família. “Esse negócio de dividir eu não gosto. Ou você é o chefe da família ou não é. Sempre foi assim”, conta. Serão 16 pessoas filando o rango pago por seu Feitosa, que, justamente por arcar com tudo, tava de olho nos preços. 

A comerciante Marli Almeida, 60 anos, fez, por muito tempo, igual a seu Feitosa. A tradição mandava que a ceia ficasse por sua conta.

Mas os tempos mudaram. Com a crise, aproveitando que sua filha casou, vai dividir os custos com o genro, que é vendedor. “Eu ainda vou dar a maior parte, mas minha filha e meu genro vão ajudar. Aliás, o Natal este ano vai ser na casa deles”, revelou. Umas 20 pessoas vão participar. 

Inflação e Consumo Os dados que indicam a queda do gasto médio do brasileiro no Natal caminham no mesmo sentido que a desaceleração dos preços dos alimentos que compõem a cesta. O departamento de economia do SPC Brasil mostra que, enquanto a inflação medida pelo IBGE estava em 2,80% em novembro deste ano, a inflação dos alimentos da ceia de Natal caiu  4,83% em 12 meses.  No ano passado, enquanto a inflação geral estava em 6,99%, a inflação dos itens natalinos era ainda maior e atingia 11,18%.