Vencedores do Prêmio Braskem destacam resistência do teatro; confira depoimentos

“O teatro não tem como acabar: vai resistir a tudo, haja o que houver", garante o diretor vencedor do Braskem, Rino Carvalho

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  • Laura Fernades

Publicado em 20 de abril de 2017 às 19:56

- Atualizado há um ano

“O teatro não tem como acabar: vai resistir a tudo, haja o que houver. Ele não precisa da gente, é a gente que precisa do teatro”, garantiu o diretor teatral Rino Carvalho, 51 anos, vencedor do Prêmio Braskem de Teatro pelo espetáculo Mágico Mar. Um dos oito premiados na cerimônia que aconteceu na noite de quarta, no Teatro Castro Alves, Rino declarou ao CORREIO que a resistência marcou a 24ª edição da maior premiação das artes cênicas baianas.

“Nós todos somos premiados, todos os envolvidos no fazer teatral. Todas as pessoas que fizeram e fazem, são merecedoras desse reconhecimento, porque a gente sabe como é difícil fazer teatro”, declarou o diretor que ultrapassa 25 anos de carreira e não compareceu ao evento por conta de trabalho e de uma declarada fobia a multidão. “Para mim é muito assustador enfrentar o público, falar. Mas fui muito bem representado e estava vibrando”, justificou.O diretor Thiago Romero destacou a coragem e a resistência do espetáculo Rebola (Foto: Betto Jr./CORREIO)Após assistir 53 espetáculos baianos, em 2016, a comissão julgadora elegeu os oito melhores das artes cênicas. Para a jornalista Katia Borges, 49, que integrou a comissão, o Brasil vive um momento muito afirmativo “e o teatro baiano está dando conta da contemporaneidade” com uma “reflexão sobre a vida”. “Foram 53 espetáculos e um painel muito rico. O que fica pode ser resumido em uma única palavra: resistência. Resistiremos, todos nós, na arte, até onde for possível. Esse é um recado muito claro que o teatro baiano manda”, elogiou Katia.

Melhor espetáculo adulto, Rebola é um exemplo de resistência por ter ocupado o Beco dos Artistas, no Centro, com a temática LGBT durante quatro meses. “Há muito tempo falo sobre o que é ser homossexual, sobre o que a gente enfrenta. E o projeto que a gente fez no Beco foi um projeto muito corajoso, porque o Beco está completamente adormecido”, afirmou o diretor do espetáculo, Thiago Romero, 35. “É um espetáculo que fala sobre bicha, que é composto por bichas. É emocionante a Braskem valorizar isso, ainda mais nesse período político que a gente está vivendo”, comemorou.

Vencedor da categoria revelação, pela direção de sua peça de formatura Malva Rosa, Alisson de Sá, 27, ressaltou que a edição do Prêmio Braskem foi marcada pela força do teatro em ser contrário ao que a sociedade impõe. “O teatro tem esse lugar de resistência e é uma afirmação da vida, mesmo quando a vida está mal, como nos tempos atuais, políticos, econômicos... O teatro vem dar uma esperança, um sopro de vida para todos nós. Por isso estou fazendo teatro”, disse Alisson, que está prestes a se formar na área.

DificuldadesNascido no Ceará e residente em Salvador há 17 anos, o ator Igor Epifânio declarou ser apaixonado pelo teatro baiano que “é cada vez é mais diverso”. Porém, o ator vencedor do 24º Prêmio Braskem disse que “hoje em dia é muito mais difícil fazer teatro”. “Pode ser que eu esteja falando isso porque sou o homem do hoje, mas pra mim, que sobrevivo de teatro, faço teatro todos os dias da minha vida, é muito difícil”, pontua.A Cia. OperaKata, de Vitória da Conquista, denunciou a dificuldade do teatro no interior (Foto: Betto Jr./CORREIO)A Cia. OperaKata, vencedora do melhor espetáculo do interior, por Pariré, bem sabe das dificuldades, já que sua cidade, Vitória da Conquista, está sem teatro. O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima foi interditado para uma reforma que duraria no máximo seis meses, mas isso já faz três anos e o espaço continua fechado.

“A gente enfrenta uma realidade dificílima na nossa cidade. Companhias foram desestruturadas, grupos estão sem espaços, colegas desistiram do ofício... Ter um prêmio como esse faz com que reverbere esse olhar para o interior”, comemorou a atriz e figurinista Kécia Prado, 30, da Cia. OperaKata, revelando que o prêmio recebido em dinheiro, no valor de R$ 5 mil, vai ser usado na finalização da sede da companhia. “A gente sabe o quanto a arte tem esse papel transformador de potencializar o indivíduo. A gente está aqui por isso, porque a gente acredita”, finalizou.

Referência no teatro baiano, o ator Gideon Rosa, 59, declarou que, apesar de nos últimos anos a Bahia ter “sofrido um revés de financiamento muito forte”, ainda se faz “um bom teatro” e a cena está renovada. “Tenho ouvido de alguns diretores de dentro do Brasil, de outros estados, como a Bahia é provocadora. É evidente essa renovação de nomes, autores, diretores... Talvez o que há de extraordinário, nessa cena, é que a gente não vive de medalhões. É permitido que você ouse e isso é muito estimulante”, comemora.

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