Wagner Moura protagoniza história de amor quente entre dois homens, que estreia hoje nos cinemas

Wagner Moura é protagonista de Praia do Futuro, que estreia hoje nos cinemas. Passado entre Berlim e Fortaleza, aborda temas como coragem, separação e amor gay, com fortes cenas de sexo

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de maio de 2014 às 09:44

- Atualizado há um ano

A distância e a separação são temas recorrentes nos filmes do cearense Karim Aïnouz, 48 anos. Foi assim, por exemplo, com O Céu de Suely (2006) e Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009), codirigido pelo pernambucano  Marcelo Gomes. Os dois temas voltam a ser abordados no bom Praia do Futuro, que estreia hoje nos cinemas e concorreu ao Urso de Ouro no último Festival de Berlim.

No novo filme de Karim, Donato é um salva-vidas que mora no Ceará e decide partir para a Alemanha, onde vive sem dar notícias à família. Doni, como é chamado pelo irmão Ayrton, vai para Berlim viver com Konrad, um alemão que ele conheceu durante o trabalho e por quem se apaixona. Donato vira as costas para a família e para o seu passado e passa quase dois anos sumido, até que o irmão resolve procurá-lo.Wagner Moura é Donato, um salva-vidas que vai para a Alemanha viver com o alemão Konrad, interpretado por Clemens Schick, em Praia do Futuro, que estreia hoje nos cinemas(Foto: Divulgação)O salva-vidas é interpretado por Wagner Moura, 37, que pela primeira vez trabalha com Karim, seguindo o passo de outros dois atores baianos: Lázaro Ramos, protagonista de Madame Satã (2001), e João Miguel, que atuou em O Céu de Suely. Konrad é vivido pelo alemão Clemens Schick, e Ayrton por Jesuíta Barbosa, o Fortunato da minissérie Amores Roubados.

A escolha de Wagner seria uma preferência de Karim pelos baianos? “Nunca tinha percebido que havia trabalhado com três atores da Bahia em três dos meus cinco filmes, mas tem algo muito bonito nessa relação com os baianos”, diz o diretor, que faz questão de incluir na lista o cineasta  amigo-irmão Sérgio Machado, diretor de Cidade Baixa (2005), cujo roteiro foi escrito por Karim e Sérgio.

Baianos

O flerte com Wagner era antigo e começou desde Madame Satã, quando o ator candidatou-se a um papel no filme estrelado pelo amigo Lázaro, mas não foi aprovado. Para viver Donato, Karim havia pensado inicialmente em um ator de sua terra. Descartava, por exemplo, Lázaro Ramos por ser de Salvador. Mas, como Wagner Moura é de Rodelas, no interior, Karim acabou admitindo que ele protagonizasse o filme.

E o resultado entusiasma o diretor: “Wagner é muito disciplinado, mas, por outro lado, é um animal, um bicho interpretando. E ele me ajudou a conseguir o que eu queria: um filme silencioso, mas que pulsasse por dentro”.

O silêncio a que Karim se refere contrasta com a poderosa trilha sonora, elemento fundamental na filmografia do diretor e também importante em Praia do Futuro.Karim Aïnouz esteve no Festival de Berlim, onde o filme foi exibido(Foto: Divulgação)Na bela trilha de O Céu de Suely, predominava a canção romântica brasileira. Em Viajo Porque Preciso, ouvia-se o popularíssimo Lairton e seus Teclados, aquele de Morango do Nordeste. Agora, o caminho é outro:  o destaque maior é David Bowie  em Heroes, canção glam rock de 1977.

Essa música para Karim foi tão importante que, sem ela, não haveria filme. “Foi essa música  que disparou o filme. Disse à minha produtora que, sem a música, não haveria filme. Ela é um sumário da história”.

Homossexualidade

Para Karim, Praia do Futuro é um filme sobre heróis de carne e osso, como Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter”, um dos personagens mais marcantes do cinema brasileiro, vivido por Grande Otelo (1915-1993) no filme de 1969 dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).

Mas o herói de Karim é diferente daqueles tradicionais das histórias em quadrinhos: eles tem um quê de covarde, de mentiroso. “Até os heróis americanos têm ficado mais humanos, como Batman e Homem-Aranha. Então, eu queria um herói mais humano, como um salva-vidas”, diz o cineasta.O alemão Clemens Schick, 42 anos, interpreta Konrad, por quem Donato, personagem de Wagner Moura, se apaixona. Clemens dedicou-se exclusivamente ao teatro por dez anos, até 2005, quando estreou no cinema (Foto: Divulgação)Karim lembra bem daqueles salva-vidas que ele via na Praia do Futuro,  que ele frequentava muito em Fortaleza durante a juventude. A escolha do local como cenário para a primeira parte do filme não foi à toa: “Fortaleza sempre me inspirou, eu virei gente na Praia do Futuro. E é um lugar cheio de prédios inacabados porque a altíssima salinidade inviabilizou a construção daqueles imóveis”.

Para Karim, a Praia do Futuro simboliza o paradoxo a Berlim, cenário da segunda parte do filme. Enquanto a praia de Fortaleza representa a ruína, a capital alemã é o símbolo da construção, do renascimento. “Enquanto a Praia do Futuro é um lugar distópico, Berlim é utópico. E isso tem  a ver com a dramaturgia do filme, com o renascimento do personagem de Wagner”, observa Karim.Além de Clemens Schick e Wagner Moura, Praia do Futuro tem no elenco o cearense Jesuíta Barbosa, que atuou em Serra Pelada e Tatuagem, ambos de 2013, além da minissérie Amores Roubados. Jesuíta vive Ayrton, que parte para a Alemanha em busca do irmão Donato, que não tem contato com a família há mais de dois anos (Foto: Divulgação)As fortes cenas de sexo entre Konrad e Donato são encaradas com naturalidade por Karim: “É curioso que a paixão entre duas pessoas do mesmo sexo ainda gere discussão hoje em dia. A homossexualidade ainda incomoda muita gente, mas não consigo entender a razão disso. Mas acho bom o filme suscitar esse debate”.