Baianos, turistas e trabalhadores do Carnaval retomam a rotina na Quarta-feira de Cinza

Depois de folia com circuitos carnavalescos lotados,, chegou a hora de retornar ao cotidiano

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  • Saulo Miguez

Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 05:00

Há 27 anos ela faz tudo sempre igual. Se sacode na quarta-feira de que antecede a abertura do Carnaval, carrega o isopor e vai para a frente do Cinema Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, para só sair de lá uma semana depois.

Josimeire da Silva, 45 anos, mora em Cajazeiras e, devido à distância para o circuito, literalmente se muda para o trabalho durante oito dias. A trabalhadora dorme e se vira como pode.

Ela começou a vender quando teve a primeira filha. No primeiro Carnaval de Josimeire como ambulante, ela também era mãe de primeira viagem e a saudade da sua bebê, que ficou com uma vizinha também recém-parida era enorme.

Os anos se passaram e o sentimento de querer voltar à rotina não mudou. Ela ama o Carnaval, pela festa e por tirar de lá seu sustento, mas também não vê a hora de descansar após tanto trabalho.

A rotina de Josimeire, em maior ou menor proporção, é a mesma dos cerca de três milhões de baianos e turistas que curtiram e trabalharam no Carnaval de Salvador e que agora voltam às suas vidas normais.

Também vendedora ambulante, Gil Oliveira, 61 anos, chega a sonhar acordada com a noite de sono de terça, quando não mais vai se preocupar em voltar no dia seguinte para a Avenida Centenário, onde montou seu ponto de venda.

Moradora de Cosme de Farias, ela, este ano, fez todos os dias o percurso de ida e volta de casa para o trabalho. "Não só eu, mas todos que estão aqui trabalhando vêm porque precisam. Então a gente merece um descanso", contou.

As vendas, segundo Gil, poderiam ter sido melhores. "Está tudo muito caro: água, gelo, bebida", disse enquanto atendia um cliente que pechinchava a garrafa de água anunciada a R$ 5,00.

Chegou e foi ficando

A psicóloga Sophie Laborde, 27 anos, veio do Rio Grande do Norte para curtir a folia baiana. Ela chegou para a festa de Iemanjá, marcou presença em festejo pré-carnavalescos e foi ficando até a terça-feira (13).

A natalense já havia visitado Salvador em outras oportunidades, mas não conhecia a festa baiana. Sua referência de Carnaval de rua era o de Olinda e a comparação foi inevitável. "Achei a estrutura daqui muito boa, muito maior. Tudo muito bem sinalizado e organizado. Isso foi muito bacana".

Sobre a volta pra casa após duas semanas longe, o coração está dividido. "Por um lado, está na hora de voltar mesmo depois de tanto tempo viajando, mas por outro está sendo renovador estar aqui nessa cidade curtindo essa grande festa".

Chicleteiro de carteirinha, Érico Lopes, 44, é natural da capital baiana, mas há bastante tempo mora em Santa Maria da Vitória. Fã de Bell Marques, todos os anos ele pega a estrada e atravessa os 867 km que separam as duas cidades baianas para curtir a festa. Ele foi um dos muitos que acompanharam o desfile do Camaleão, no circuito Dodô, na terça-feira. "Todos os anos a gente está colado no Camaleão. Sou fã de Bell e acompanho desde jovem".

Ele relembra que há alguns anos atrás curtia o Carnaval do início ao fim. Desde aquela época, a nostalgia já começava a bater quando chegava o último dia. "Hoje meu Carnaval ficou um pouquinho mais curto. Bate aquela saudade, mas já programando o próximo ano. Então ficam os bons momentos e isso que é importante".

Doido para acabar

Mas nem todos estão saudosos com a folia. O motorista de aplicativo Eriomar Souza Lopes, 40 anos, que há quatro trabalha na função de levar passageiros, não vê vantagem no Carnaval e reza para chegar a Quarta-feira de Cinzas. "Estou doido para acabar isso aqui", desabafou.

Ele conta que costuma faturar em média R$ 400 por dia. Na semana do Carnaval, o ganho bruto é o mesmo, porém, o gasto é muito maior por conta dos engarrafamentos, o que joga seu lucro lá pra baixo.

Para ele, a concorrência dos táxis e moto-taxis em relação aos aplicativos é muito desigual. "Só ganha dinheiro mesmo moto e táxi, por conta do corredor de exclusividade dos táxis e e da versatilidade da moto. O aplicativo para ganhar dinheiro tem que pegar corrida por fora, mas eu não entro nessa não", concluiu Eriomar.

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