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Gabriela Cruz
Publicado em 20 de julho de 2025 às 13:36
Durante muito tempo, a ideia de luxo esteve ligada ao que é raro, caro, inacessível. Mas será que ainda faz sentido definir luxo apenas pelos objetos que brilham ou pelos nomes que carregam peso no mercado? O próprio setor de luxo está em transição. Seus códigos voltam ao centro da discussão — e o que antes era sobre desejo agora é também sobre valor.>
Jean-Noël Kapferer, um dos maiores pensadores do tema, já provocava: “O luxo nasceu como sonho do cliente, mas virou o sonho do investidor.” E nessa corrida por validação e visibilidade, o que se perde é justamente o que não pode ser apressado: a distinção real, a coerência estética, o tempo de maturação, o valor que se percebe — e não apenas se entrega.>
Talvez, hoje, o maior luxo seja justamente desacelerar. Estar presente. Ter tempo para si, para os outros, para pensar. Cultivar silêncios, vínculos, rituais. Escolher o que faz sentido. Reconhecer beleza no que não precisa de legenda. No fim das contas, luxo pode ser uma toalha estendida no chão da sala para tomar café com calma. Um livro relido. Uma noite inteira de sono. Um abraço que chega antes da resposta.>
A pergunta continua: o que é luxo para você?>
Existem lugares que pedem mais que uma visita — pedem presença. Espaços que não cabem em reels de 15 segundos, nem em listas apressadas de “lugares para ir”. São lugares para estar, sentir, caminhar devagar. Lugares que a gente entende com o corpo: escutando o silêncio, encostando na parede, sentindo a textura de uma escultura ao ar livre, percebendo o peso de um mobiliário, o desenho de um vão.>
É nessa pausa que certos centros culturais e institutos se impõem, não como vitrines, mas como percursos. São espaços de fricção entre arte, arquitetura, design e território — e ajudam a gente a entender melhor onde está pisando.>
Selecionamos alguns para visitar sem pressa:>
– Inhotim (Brumadinho – MG): onde natureza e arte contemporânea se encontram em escala monumental.>
– Casa de Vidro (São Paulo – SP): projeto de Lina Bo Bardi que transforma arquitetura em manifesto.>
– Museu Oscar Niemeyer (Curitiba – PR): curvas, volumes e luz que só se compreendem ao vivo.>
– Fundação Casa de Jorge Amado (Salvador – BA): um mergulho na literatura e no Pelourinho.>
– Casa dos Irmãos Campanha (Brotas – SP): onde a história do mobiliário brasileiro ganha corpo e memória.>
Eles não seguem mapas — seguem turnês. Não viajam por turismo, mas por sentido. São os fãs nômades, que traçam suas rotas com base em agendas de show e transformam cada palco em rito de passagem. Num tempo em que o streaming colocou tudo ao alcance do play, o ao vivo virou artigo de luxo. Estar presente, suar junto, cantar até perder a voz — tudo isso ganhou outro peso. Porque o “eu estive lá” não é só memória. É marca de pertencimento.>
A Galeria Instante faz sua primeira edição em Salvador de 25 a 27 desse mês, no restaurante Racletto, no Horto Florestal. Criado por Gabriela Cruz (euzinha aqui) e Liu Falcão — também realizadora do Mercado do Tira — o projeto propõe um encontro entre moda, arte, design, gastronomia e cultura, com entrada gratuita e programação das 13h às 20h.>
Com curadoria de marcas autorais, em sua maioria locais, o evento reúne nomes como Amará, Bee Home, Cargeh, Claudia Santoro Joias em Crochê, De Tudo Que Eu Vejo, Matulão, Santo B e Sillas Filgueira. Toda a casa estará integrada à programação, com menu especial de petiscos e carta de vinhos pensada para a ocasião, além de talks com Camila Martins e Michelle Gonzalez, do Clube; com a influenciadora Wladia Goes e com a consultora de imagem Kika Maia, além de oficinas de Bob Goods e pintura em taças promovidas pela Papelote.>