O reino das águas doces no Dique do Tororó recebe o presente de Oxum

Às vésperas da festa de Iemanjá e com o cheiro da alfazema no ar, o presente de Oxum é preparado por seus filhos e filhas no Dique do Tororó na noite desta quinta-feira (1). A orixá que reina sobre as águas doces reuniu diversas pessoas vestidas de branco e movidas pela fé e axé para participar da sua homenagem.

O ato em homenagem a orixá é conhecido como Sórodó, palavra que significa o ato de levar oferendas para as águas, resgata uma tradição forjada em uma experiência de fé. O evento surgiu em 1990 uma mãe clamou a Omolu, orixá da cura, para que sua filha fosse curada e como retribuição Omolu pediu que o presente fosse entregue nas águas, para Oxum. “Depois da morte da mãe, o Sórodó fica parado porque a filha é evangélica, mas Oxum exigiu a volta do presente e cá estamos nós cumprindo essa missão há 14 anos”, explicou o auxiliar administrativo, Joselito Pinheiro.

Joselito participa do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) e ajudou na preparação do presente que a cada ano se torna melhor e maior. “Esse ano, como sempre, foi feito pelo terreiro de Pai Daniel junto com alguns outros. Temos o balaio principal e dentro do balaio principal tem os secundários, que as pessoas vão colocando os presentes também”, disse.

As oferendas são entregues em balaios repletos de flores, folhas, grãos, frutos e comidas que agradam a orixá, como milho e mungunzá. Toda a homenagem é feita com materiais biodegradáveis para impedir agressões na natureza.

Para a filha de Oxum Maria de Lourdes, 60, o Sórodó precisa ser conservado. “Acho que esse ano está mais cheio, é uma energia maravilhosa. A energia de minha mãe Oxum é fantástica. Desta vez trouxe um perfume para ela, porque o terreiro que eu frequento terá sua festa no sábado e estaremos fazendo um presente para ela”, relatou.

O trompete dos Filhos de Gandhy deram início ao cortejo que seguiu com orações, banhos de água de cheiro e alfazema. As pessoas se mexiam ao som dos tambores e cultuavam as palavras sagradas para Oxum, até mesmo aquelas que vinham pela primeira vez se envolviam com o ritmo.

“Eu nunca tinha participado desse momento, dessa entrega. É maravilhoso, porque é uma forma da gente estar expressando, reverenciando e agradecendo aquelas que nos protegem”, expressou Jacineide Arão.

Com a entrada da banda feminina Yayá Muxima, os metais de Gandhy seguiram o ritmo delas ao dar uma volta ao redor dos balaios. O ambiente lotado trouxe diversas personalidades para assistir a homenagem, inclusive o ator soteropolitano Evaldo Macarrão que interpreta Jupará.

Como filho de Oxum, estar no presente foi uma reverência à própria mãe, segundo Macarrão. “Eu nunca tinha vindo nessa festa e para mim esse presente é uma troca do que Oxum me dá e do que eu posso dar para ela em orgulho e em reverência de ancestralidade. Oxum é minha grande ancestral, minha grande mãe, meu amor, minha rainha e me faz renascer para dramaturgia na televisão. Eu sou feliz por isso e que bom que isso acontece aqui na minha terra”, disse.

A multidão ainda irá seguir os sons da Yayá Muxima e Filhos de Gandhy no sentido Estação da Lapa. De lá, eles seguiram do Dique até a Fonte dos Orixás, onde o presente será entregue às águas.

A partir das 19h, devido a entrega do presente, o trânsito de Salvador sofreu alterações. Houve a interdição progressiva do tráfego de veículos na região do Dique do Tororó, em uma faixa, nas seguintes vias: Avenida Presidente Costa e Silva (saída no estacionamento em frente a Itaipava Arena Fonte Nova), Avenida Centenário (via que margeia o Dique) e Avenida Vasco da Gama (sentido Bonocô, via que margeia o Dique do Tororó, chegada próximo ao Habib”s).

No mesmo dia, a partir das 23h, também haverá interdição progressiva do tráfego de veículos quando da realização da “Entrega do Presente de Oxumaré”, na Avenida Vasco da Gama, com saída no Terreiro Ylê Axé Oxumaré, retorno defronte ao Supermercado Assaí e chegada no Dique do Tororó.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo