1ª audiência do caso de estudante chamada de 'macaca' por colega acontece amanhã

As duas discutiram dentro da Faculdade 2 de Julho, quando, segundo denúncia, uma aluna disse frases racistas

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  • Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2017 às 19:41

- Atualizado há um ano

Está marcada para esta quarta-feira (21), no Fórum Criminal de Sussuarana, a primeira audiência do caso em que uma estudante foi acusada por uma colega de racismo dentro da Faculdade 2 de Julho, em Salvador, em novembro do ano passado. "Eu tratei com a promotoria, que identificou que realmente foi um crime, e entrou com uma denúncia", explica Jéssica Pimentel da Silva, 25. A injúria racial tem como pena prisão de um a três anos e multa.

Segundo Jéssica, durante todo esse primeiro semestre ela continuou vendo a colega que a atacou durante atividades na faculdade. "Ela nunca me procurou para pedir desculpa. O fato teve uma repercussão grande, mas mesmo assim ela nunca chegou para falar nada", afirma. "Na época ela tinha dito que iria dar queixa na delegacia do idoso dizendo que eu que cometi crime contra ela. Até essa queixa não foi para frente", afirma. 

O objetivo da estudante é seguir adiante até o fim com sua denúncia. "Eu realmente espero justiça, porque diante de tanta coisa que acontece a gente não fala, não corre atrás, então vou até o fim. Até porque ela é uma estudante de direito que saiu da faculdade agora, com essa missão de fazer as coisas dentro das regras, e ter uma conduta dessa...". 

A audiência está marcada para 9h. As duas partes foram intimadas e testemunhas também devem ser ouvidas.  

RelembreAo CORREIO, Jéssica relatou que ficou "muito sentida" com tudo que aconteceu. Ela explicou que foi à noite até o setor financeiro da universidade para fazer o pagamento. Havia uma fila única e somente um caixa funcionando, mas outra aluna, também estudante de Direito do curso noturno, do 9º semestre, se aproximou do caixa que esta vazio e quis saber se iria abrir. "A funcionária disse que iria abrir por conta do horário e ali mesmo ela ficou. Quando eu me direcionei para o caixa eu perguntei se tinha atendimento preferencial. Ele disse que não, pela quantidade de caixas e pela fila única. E essa pergunta que eu fiz foi o suficiente para ela se virar para mim, me dar tapas no braço, perguntando se eu sabia com quem ela estava falando, que era uma aluna antiga", diz.

Foi aí que começaram as agressões raciais. "Ela mandou eu calar a boca, disse 'cuide da minha vida, sua preta, vá cuidar do seu cabelo'. Me chamou de macaca. Os outros alunos perceberam, todo mundo viu". E completa: "Ela passou na frente de todo mundo, desrespeitou. Ela se chateou porque fiz minha pergunta direcionada ao funcionário. Nenhum momento eu direcionei minha palavra a ela".

Jéssica ligou e chamou a polícia, mas houve demora e a outra estudante saiu da faculdade. "Na terça eu vim para a faculdade e ela veio também, normalmente. Até então a faculdade não tinha tomado nenhuma providência", relata. Nesta quarta, a estudante foi informada pelo diretor que a agressora foi suspensa por 10 dias. "Mas ela não se pronunciou, não veio pedir desculpa", conta.

Como a polícia não fez o flagrante da situação, Jéssica procurou a 1ª Delegacia (Barris) para registrar a ocorrência. Ela também procurou o Ministério Público da Bahia. "Como não consegui dar o flagrante, vou ter que tentar outros meios. Tem os outros alunos que presenciaram tudo". 

A Faculdade 2 de Julho divulgou uma nota em seu site afirmando que "não coaduna com qualquer manifestação de preconceito contra a pessoa humana" e que repudiava "qualquer manifestação" de desrespeito neste sentido.