35 mudas são plantadas em projeto de recuperação da Lagoa dos Patos

Além do plantio, foi feita limpeza no local e medição do nível da água

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  • Gabriel Moura

Publicado em 19 de maio de 2019 às 16:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Há 16 anos, quando se mudou para a Pituba, a terapeuta Ivana Maciel, hoje com 59 anos, via a Lagoa dos Patos linda, cheia de bichos e de vida. Lá, costumava brincar com o filho, à época com oito anos. Entretanto, nos últimos anos, devido ao clima mais quente e à ocupação urbana, a beleza de outrora deu lugar a um local quase abandonado, que chegou a secar no ano passado.

"Aqui era um lugar muito aprazível. Eu e meu filho vínhamos sempre andar em volta da lagoa, dávamos comidinhas aos peixes, ele ficava correndo atrás dos bichinhos… Hoje, quase não se tem crianças por aqui, quem vem mais são os adultos que fazem caminhadas e exercícios em volta do local”, conta Ivana.

E é justamente buscando recuperar a beleza quase morta, mas viva nas memórias da terapeuta, que é realizado no local um plano de revitalização da Lagoa dos Patos, por iniciativa da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis). Neste sábado (19), foi finalizado o plantio de 35 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica no local para recuperação da mata ciliar. 

Além disso, está sendo feito um estudo que mede o nível da água do lugar para saber quais ações podem ser tomadas para minimizar os impactos em períodos de seca. Uma limpeza já foi feita no local. A construção de um cachorródromo, um parque infantil, uma horta comunitária e uma passarela atravessando a lagoa também estão presentes no projeto."A prefeitura tem reunido esforços no sentido de ver a lagoa bonita novamente e de mantê-la viva, principalmente no verão. Mas, sabemos que esse processo não é rápido e exige um empenho, não só do poder público, como também dos moradores. As outras iniciativas programadas complementarão as medidas para que a lagoa seja requalificada, como educação ambiental e a fiscalização de poços artesianos no entorno”, explica André Fraga, secretário da Secis, responsável pelo projeto. Lagoa dos Patos em 1980 e em 2006, respectivamente (Foto: Divulgação) A beleza do local atraiu, há quatro anos, a psicóloga Simone Miranda Chaves, 61. Ela morava em São Lázaro, na Federação, e seu apartamento tinha uma vista para o mar, que foi encoberta por um outro prédio. Por conta disso, ela decidiu se mudar para um lugar onde pudesse apreciar a natureza logo na janela de casa e escolheu - ou melhor, foi escolhida - pela Lagoa dos Patos.“Antes de eu encontrar um apartamento nesta região, a lagoa já tinha me escolhido. Já sabia que era para aqui que gostaria de vir morar. Minha primeira visão daqui foi de um oásis dentro da Pituba, cheio de vida, árvores e animais”, lembra a psicóloga. Plantio As 35 mudas plantadas neste sábado são de árvores nativas da Mata Atlântica e que possuem características que favorecem a recuperação de áreas alagadas. Entre as espécies estão a Pata de Vaca, Aroeira, Carrapeta e o Ingá. Elaine Souza, bióloga técnica responsável pela requalificação do local, conta que a prioridade agora é recuperar a lagoa.

“O Ingá, por exemplo, tem uma função importante de captação da água da chuva para o lençol freático. Outra coisa necessária é a realização de uma nova limpeza. Também estamos monitorando o nível de água da lagoa no período de um ano através de três piezômetros, que fazem essa medição desde o lençol freático”, explica. Elaine Souza, bióloga responsável pelo projeto (Foto: Marina Silva/CORREIO) Além da recuperação da água da lagoa, o professor Fernando Esteves, que faz uma consultoria para o projeto, conta que as espécies plantadas também beneficiam a fauna local. “Aqui é cheio de vida, tem peixes, patos, dentre outros animais. Essas árvores são fontes de alimentação e também de abrigo para essas espécies. Com essa requalificação, toda uma cadeia irá se beneficiar”, comemora.

Poços ilegais Uma das causas para a queda no volume de água é a presença de poços artesianos ilegais instalados no local. Um levantamento feito pela Secis, em 2017, indicou a presença de oito condomínios passíveis de terem poços artesianos no entorno da Lagoa.

A Secis acionou o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão responsável pela autorização para perfuração e uso de água subterrânea. Dois condomínios foram multados em R$ 5 mil por perfurar poços sem autorização. De acordo com o relatório, em um dos dois casos, o poço foi perfurado há 35 anos, quando o empreendimento foi erguido.  

A bióloga Elaine Souza chama a atenção para os males que esta prática pode causar para a local. “Por estar numa área de restinga (região da Mata Atlântica localizada próxima do mar), a Lagoa já tem uma tendência natural em secar. A instalação desses poços artesianos ilegais, além de ser crime, reduz significativamente o nível de água”, alerta. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier