40 vítimas: além do Centro Histórico, outras áreas da cidade registram ataques de morcegos

Das 180 espécies que existem no Brasil, apenas três se alimentam de sangue. As outras comem insetos ou preferem as frutas

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  • Carol Aquino

Publicado em 23 de maio de 2017 às 07:26

- Atualizado há um ano

Mesmo à noite, a janela do quarto da aposentada Dagitônia Pirajá, 76 anos, ficava aberta. Ela, que vive no Barbalho, preferia dormir assim. Mas as coisas mudaram. Depois que ficou sabendo dos casos de mordida de morcego na cidade, dona Dagitônia passou a adotar medidas de segurança para não ser a próxima vítima. Agora, todas as janelas e portas vivem fechadas.

Não é para menos. Desde março, 40 pessoas já foram atendidas no Hospital Couto Maia para fazer a profilaxia antirrábica após terem sido mordidas por morcegos. Ou seja: já são pelo menos 40 casos conhecidos de ataques, de acordo com o Grupo de Trabalho de Raiva do Departamento de Vigilância Epidemiológica do estado (Divep).

Na verdade, o número pode ser maior: o atendimento também pode ser feito nos postos de saúde da rede municipal. A maior parte dos ataques foi mesmo no Santo Antônio Além do Carmo. Até a semana passada, o Centro de Controle de Zoonoses tinha registrado 15 casos de mordida de morcegos por lá. No Hospital Couto Maia, foram dez ocorrências atribuídas ao “bairro do Centro Histórico”.

No ranking do hospital, logo após vêm os bairros de Brotas (3) e Barbalho (2), também no Centro Histórico, e onde dona Dagitônia mora. “Eu fico assustada porque é bem próximo daqui. Morei no Santo Antônio na década de 1980 e sempre encontrava algum morcego pendurado no teto”, conta. Agora, todas as janelas e portas ficam fechadas  à noite. DesequilíbrioO que explicaria esses ataques seria o desequilíbrio ecológico, de acordo com a consultora ambiental Débora Magnavita, que é pesquisadora do Centro de Ecologia e Conservação Ambiental da Universidade Católica (Ecoa/Ucsal).

“O que pode estar acontecendo em algumas localidades da cidade é que, devido a algum desequilíbrio em seu ambiente natural, seja pela perda de áreas verdes e consequente escassez de suas presas, esses animais estejam buscando animais domésticos (gado, cavalo, porco, cachorros de médio porte) ou até mesmo o homem, como tem acontecido ultimamente”, diz.

Das 180 espécies que existem no Brasil, apenas três são hematófagas - ou seja, se alimentam de sangue. As outras são insetívoras (comem insetos) ou frugívora, que preferem as frutas. Embora os três existam na Bahia, é o chamado ‘morcego-vampiro’ (da espécie Demodus rotundus) que é mais comum em áreas urbanas. Esses costumam usar como abrigo espaços ocos de árvores, cavernas, túneis, bueiros e edificações.

“A preferência alimentar deles não é sangue humano. Eles só se alimentam de sangue, mas de mamíferos de médio e grande portes, que na mata podem ser veado, porco do mato, animais maiores”.