A abertura dos Jogos Olímpicos e a atenção à simbologia

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  • Gabriel Galo

Publicado em 24 de julho de 2021 às 05:23

- Atualizado há um ano

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A cerimônia de abertura de Jogos Olímpicos – ou de encerramento, no caso eternizada por Misha em sua despedida de Moscou 1980 – é sempre cercada de expectativa. Boa parte do globo para acompanhar a festa, que é representação da união dos povos. E não é para menos. Nos Jogos Olímpicos, assim como na Fifa, há mais países filiados que na ONU. Formalidade geopolíticas são amenizadas, abrindo espaço inclusive para que refugiados se destaquem sob bandeira neutra. Esta é afirmação poderosa de como, pelo menos para o esporte, há espaço para todos.

Países entram enfileirados, ordenados pelo idioma local. Atletas exibem orgulhosos suas bandeiras nacionais, representantes máximos que são da honraria por merecimento. Depois, a festa segue com símbolos que buscam refletir aspectos da cultura local. Enfim, em sequência emocionante, a pira olímpica é acesa, anunciando oficialmente que se comecem os Jogos.

No resumo frio, toda abertura é a mesma. Mas, por um momento, entende-se por que ritos são tão importantes para nós seres humanos.

Em artigo para a The Conversartion, o professor-assistente de Antropologia da Universidade de Connecticut, Dimitris Xygalatas, escreve que “ao alinhar o comportamento e criar experiências compartilhadas, os rituais forjam um senso de pertencimento e identidade comum que transforma os indivíduos em comunidades coesas. Como mostram os experimentos de campo, participar de rituais coletivos aumenta a generosidade e até sincroniza os batimentos cardíacos das pessoas.” Observa também a Antropologia que em tempos de incertezas, somos propensos a aumentar a quantidade e frequência de nossos rituais.

Vivemos, pois, tempos de incertezas. A pandemia esvaziou arquibancadas e também as delegações que, um dia, entraram em quase sua totalidade para celebrar a largada dos Jogos. Pelo Brasil, apenas 2 atletas a dividir a bandeira e 2 funcionários do COB, não muito diferente das outas delegações.

Não podemos entender, no entanto, que seja esta abertura menos significativa.

Porque embora mais simples que o habitual – quem havia de esperar luxo e pirotecnia demasiada nestes tempos? – a abertura, carregada de símbolos tradicionais do Japão, trouxe um afago a quem assistiu de que, sim, há saída rumo à normalidade. Comparações com outros Jogos e eventos são descabidas: outros tempos, outras realidades.

Saber o beabá do que viria, de como terminaria, recolocou os espectadores nos eixos, numa zona de conforto que não apenas não espalhou complexidade para compreender os símbolos expostos, mas manteve uma necessária coesão para que o óbvio ficasse evidente.

E o óbvio, como cunhou o filósofo Heráclito de Éfeso, é que a única constante é a mudança.

A cerimônia foi um pêndulo que deslizava entre o tradicional e o futuro. Entre as fundações de um país que mais batalha para preservar sua história, e novos conceitos que reescrevem a maneira de ser do povo japonês.

Nesta linha, Rui Hachimura e Naomi Osaka são uma representação de um país que abraça a mudança muito além da tecnologia. Mestiços, o porta-bandeira jogador de basquete e a tenista que acendeu a pira olímpica são uma afirmação singular de que uma nova era está em mutação.

A pira foi acesa, começaram os jogos e o avanço da integração de culturas se torna realidade de um jeito simbolicamente belo. É a familiaridade da mudança soprando ventos de um futuro integrado.

Gabriel Galo é escritor e se emociona ao ver a pira olímpica ser acesa.