A arte e a insanidade podem conviver e levar a caminhos insondáveis

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  • Cesar Romero

Publicado em 28 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Obra de Aurelino dos Santos em cartaz no MAM-BA (foto/divulgação) No Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão) exposição individual de Aurelino dos Santos, que leva seu nome. Texto e curadoria de Caetano Dias, apresentando 70 obras do acervo da Paulo Darzé Galeria e de coleções particulares. Aurelino é um homem de vida simples, arredio a conversas, não sabe ler nem escrever, atento ao que faz, pródigo, de grande inteligência visual.

A quase totalidade da mostra é de pinturas, e ainda mais algumas volumétricas que saem da tela e invadem o espaço. Nasceu em 1942, em Salvador, e suas pinturas trazem uma geometrização que é a característica mais marcante de seu trabalho. Iniciou sua carreira nos anos de 1960 e nunca parou de pintar. Pode-se pensar nele como um artista “naif”, com incursões sofisticadas.

Não há perspectiva em suas telas, que se levantam em frontalidade, deixando claros seus signos/símbolos, seus casarios, navios, igrejas, peixes, quadrados, retângulos, círculos, meios círculos, luas, escadas, máscaras, que são diluídas entre retas e ritmos de cor. As cores em Aurelino são bem distribuídas, não causam em cada tela, nem apagões, nem estridências. Mas se apresentam diversas, em alguns quadros a luz é intensa, em outros média luz e alguns de tons baixos, esmaecidos. Os elementos cênicos são os mesmos e três variações de tonalidades, bem definidas.

Nas telas em que trabalha com volumetria, os objetos constantes são: pincéis velhos, caixas de fósforos, escovas de dentes, tampinhas de refrigerantes e cervejas, recortes de jornais, invólucros de medicações, pregos, parafusos, tudo num jogo de acumulação e depois amarrados por um barbante que circula em toda a composição. A originalidade de Aurelino é percebida num primeiro olhar. Apresenta um caráter fictício, transcendendo a realidade objetiva.

Seu fazer é posterior a ideia movente, fixa a imagem, mas a obra continua reprocessando singularidades. Sua arte não tem vícios de um mundo objetivo ou verdades absolutas, é sentimento fluindo nos gestos. É sua forma concreta de se comunicar, de falar as pessoas, de mostrar seu mundo interior. Aurelino quase não fala, seu silêncio é quebrado no uso dos pincéis, tintas e telas.

Sua carga simbólica está numa sacralidade sutil.

Aurelino tem afinidades de essência com Arthur Bispo do Rosário (1909 – 1989), a quem ele não conheceu. Ambos autodidatas, intuitivos, pouca instrução, nordestinos, pobres, reservados, solteiros, ambivalências com Deus, esquizofrênicos e ainda os dois de grande talento.

A arte e a insanidade podem conviver e levar o artista por caminhos insondáveis com um produto final surpreendente.