A cada hora, três baianos cancelam contrato com empresas de TV a cabo

Líder no Nordeste, Bahia tem 6% dos cancelamentos de assinatura do país

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 2 de dezembro de 2018 às 05:03

- Atualizado há um ano

Crise econômica, TV por satélite, TV por internet ou falta de tempo em casa. São inúmeros os motivos que levaram 24.543 baianos a cancelarem os contratos com empresas de TV por assinatura, entre outubro de 2017 e outubro deste ano, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) neste mês. 

O número corresponde a 68 cancelamentos por dia no estado ou 3 quebras de contrato a cada hora. Neste cenário, a Bahia representa 5,9% de todos os contratos rasgados no Brasil neste período, sendo o estado do nordeste com mais cancelamentos. Na região, apenas Maranhão, Ceará, Pernambuco e Piauí tiveram aumento de contratantes.

No cenário nacional, entre as quatro maiores empresas de TV por assinatura, apenas a Oi apresentou crescimento no mesmo período, com alta de 8,3% e mais de 123 mil novos contratos. As empresas Vivo (-1,1%), Claro (-4,7%) e Sky (-0,2) tiveram déficit nas contratações no mesmo período.   De acordo com a Anatel a queda nas contratações de TV por assinatura teve início no final de 2014, tanto no Brasil quanto na Bahia. O órgão atribui os números à crise econômica e à popularização dos serviços de streaming de vídeo, a exemplo da Netflix.   O vice-diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth Motta Marins, também atribuiu como os violões da queda nos contratos a crise e os novos serviços de vídeo, o que ele chamou de mudança tecnológica.

“É um conjunto de motivos. O Brasil enfrenta uma grave crise econômica desde 2013, com aumento no número de desempregados. E, como TV a cabo é entretenimento, muitas vezes é a primeira opção na hora do corte, até porque, existe a TV aberta, que tem custo zero”, explicou.   Ainda segundo Carlos Marins, o chamado acesso on demand é um dos motivos que levaram à quebra dos contratos com empresas de TV a cabo. “No últimos dois anos, os serviços de compra de vídeo por demanda ganhou popularidade no Brasil. Esse tipo de venda faz com que o usuário pague uma mensalidade mínima, se comparada aos contratos com empresas de TV por assinatura, e ele tem direito a assistir ao conteúdo em vários dispositivos, sem acréscimo no valor”, disse.   Por fim, o vice-diretor do Inatel também destacou aplicativos de vídeos, como o Youtube, além de ressaltar que as famílias, na hora do corte de gasto, optam por manter os serviços de banda larga, justamente, para ter acesso aos diversos aplicativos, o que inclui os serviços de streaming.

Por meio de nota, a Vivo afirmou que tem como foco “oferecer as melhores tecnologias de conexão na rede fixa e vem expandindo a tecnologia FTTH, rede de fibra ótica de última geração”. A empresa ainda complementou dizendo que, “para o triênio 2018/2020, vai dedicar cerca de R$ 7 bilhões dos investimentos da empresa para a expansão de fibra ótica pelo Brasil”.

O diretor de Varejo da Oi na Bahia, única empresa brasileira que teve aumento de contrato, Enéias Bezerra da Silva, comemorou os resultados da companhia no mercado de TV por assinatura. “Esses números são resultados de diferentes decisões positivas que a empresa tomou, se diferenciando das operadoras convencionais e provando que é possível se manter competitivo oferecendo soluções atraentes para os clientes”.

O CORREIO tentou contato com a Claro e a Sky, mas as empresas preferiram não se posicionar.

Streaming A administradora Krishna Garrido, 36 anos, se tornou mãe há pouco mais de 6 meses. Com isso, os serviços da TV Net estão em primeiro na lista de corte de gastos da casa. “Eu vejo TV aberta e meu marido também. Quando a gente quer um filme, recorremos à Netflix e, agora com a neném, a gente usa muito o Youtube para vídeos infantis”, disse.   A mãe da pequena Valentina afirmou que ainda não cancelou a TV a cabo, mas já está buscando uma forma de independentizar os serviços de telefonia e internet dos canais fechados. “A gente tem em casa o pacote que dá direito a telefone, internet e aos canais da TV a cabo. Mas, se a empresa tiver uma opção sem a TV, eu vou cancelar o serviço, porque precisamos economizar”, destacou.   A mesma coisa aconteceu na casa da funcionária pública aposentada Eliana Saliba. Depois que descobriu a Netflix, ela confessou não assistir mais aos canais fechados. “Emendo uma série na outra e, quando quero ver telejornais, recorro aos da TV aberta ou vejo as notícias na internet e ouço no rádio”, contou.   Outro ponto levantado por Eliana foi a praticidade das TVs inteligentes, as famosas smart TVs. “Meu neto, que tem 3 anos, quando chega em minha casa, só quer ver vídeos no Youtube. Tudo pode ser encontrado nos canais de internet. Então, é muito raro a gente recorrer à TV por assinatura na hora de entreter ele”, disse.   De acordo com pesquisa desenvolvida pela consultoria Business Bureau, a Netflix é a opção de 18% da população brasileira na hora de assistir a conteúdo pago pela internet. A Globo Play aparece na segunda colocação, com 4% do mercado nacional. Já o Telecine Play e o Sky Online têm 3% do mercado e os outros 72% estão fragmentados em diferentes plataformas.   A popularização da Netflix no Brasil aconteceu, justamente, no mesmo período em que se observa queda nas contratações das TVs por assinatura no país. Segundo a Anatel, “a quantidade de acessos de TV por assinatura (SeAC) está em queda no país desde o final de 2014, quando a quantidade total alcançou os 19,8 milhões de acessos”. O órgão apontou, ainda, que esse foi o maior valor observado para o serviço no país e que depois só houve queda.

A nutricionista Louise Tiúba, de 30 anos, explica que, depois de muitos anos como cliente da Sky, decidiu fazer uma reorganização nas contas de casa e, consequentemente, uma economia. “Minha mãe assinava a Sky para TV a cabo, com três pontos de instalação e um aparelho de gravação, e pagava muito caro só por esse serviço. Ela contratava também a Oi para os serviços de internet, celular e telefone fixo. Juntos, a conta chegava a R$1 mil”, disse.   A jovem explicou que, depois de pesquisar os serviços oferecidos por empresas de TV por assinatura, decidiu que seria econômico unir todas as necessidades em um mesmo contrato. “A gente mudou para a Net, tendo direito a tudo, nas mesmas condições de antes, e ainda acrescentando uma linha de telefonia móvel. O que mudou foi o valor pago, que teve redução de 50%”, afirmou.   Louise destacou, porém, que, desde que cancelou o contrato com a Sky, em maio deste ano, não parou de receber ligações da empresa com ofertas de novos serviços. “Eles ligavam muitas vezes por dia, para mim e para minha mãe. Só pararam depois que meu pai perdeu a paciência e pediu para não ligarem mais”, contou.

Crise x Economia Contratar um pacote de TV por assinatura custa ao bolso do brasileiro, por mês, entre R$ 49,90 e R$ 348, a depender do plano e dos pontos de acesso, além de canais em HD e outros especiais.   O CORREIO pesquisou as ofertas das quatro principais empresas de TV a cabo que oferecem o serviço na Bahia. A Claro, por exemplo, tem o plano básico mais barato, que dá direito a 99 canais por R$ 49,90. No entanto, o valor, que é referente a um ponto de instalação e não inclui canais de filmes, pode variar até R$ R$ 139,90.   Já a Vivo tem pacotes que variam de R$ 69,90 ao mês (40 canais) a R$ 149,90 (102 canais). Nas ofertas da empresa já estão incluídos alguns canais em HD, além de pacotes especiais de filmes e esportes, a depender do plano escolhido. Além disso, a cada ponto adicional, o cliente paga o valor de R$ 99,90 pelo equipamento.   Entre as empresas pesquisadas pelo CORREIO, a Sky foi a que apresentou os pacotes mais caros, com variações que vão de R$ 69,90 a R$ 348. No chamado pacote Smart, a empresa oferece assinatura de canais que são ou não em HD, com um ou dois pontos de acesso. Já o pacote Master é mais completo e pode ser adquirido por até R$ 134,90 ao mês.   O pacote mais caro da Sky é o Combo Full HD, que conta com 182 canais, sendo 89 em HD e dá direitos a 2 equipamentos. A OI, única empresa que teve aumento de contratos nos últimos 12 meses, tem pacotes em HD com mensalidades que vão de R$ 64,90 a R$ 104,90.   A partir da pesquisa de preço com as quatro maiores empresas de TV por assinatura, que juntas representam 97,1% dos contratos ativos do país. Para se ter uma ideia de comparação financeira o plano mais barato de canais fechados corresponde a 15,5% do valor da cesta básica na capital baiana - R$ 321,82. Já o mais caro ultrapassa em 8% o preço do kit de alimentos em Salvador.

Os altos valores das contratações de TV a cabo se encaixam na justificativa dada pela Anatel quanto ao déficit no serviço em razão da crise econômica no Brasil. Na série histórica dos últimos 5 anos, justamente quando a crise ganhou força, foram 73.631 contratos cancelados na Bahia. Já no cenário nacional houve queda de 0,4%.   O vice-diretor do Inatel, Carlos Nazareth Motta Marins, explicou que a crise econômica atingiu, principalmente, as classes C e D, que representavam as maiores contratantes dos serviços de TV por assinatura no Brasil. “É um público que levou mais tempo para ter acesso ao serviço, mas, quando a crise chegou, as pessoas precisaram cortar os gastos supérfluos e a TV a cabo entrou nesse cálculo”, disse.

Pirataria A pesquisa desenvolvida pela Business Bureau também apontou que o “gato net”, como é popularmente conhecida a instalação irregular de TV a cabo, ainda é bastante comum nos lares brasileiros.   Segundo levantamento, o aparelho, que possui todos os canais fechados por uma taxa mínima mensal (e pagando um preço maior no ato da "compra"), corresponde a 19% da pirataria na TV paga no Brasil.   Ainda de acordo com a consultora, no México esse número é de 6%, enquanto na Argentina, de 15%. Já a média da América Latina é de 13%, o que prova que o Brasil está acima da média.  Tecnologia A Anatel apontou que, em setembro de 2018, mais da metade dos assinantes de TV por assinatura no Brasil receberam a programação por satélite, o que representa quase 9,7 milhões de contratos (54,42 % do mercado), por cabo, 7,5 milhões (41,91%) e por fibra ótica foram 651 mil (3,65%).

Ainda segundo o órgão, “apenas os assinantes que receberam a programação da TV por assinatura por fibra ótica aumentaram nos últimos 12 meses, mais 268 mil (+70,17%). Os assinantes via satélite tiveram redução de 576 mil  (-5,61%) e os que recebem o sinal por cabo diminuíram em 118 mil (-1,56%).

Direitos x Reclamações Entre as empresas de TV por assinatura pesquisadas pelo CORREIO, a Vivo aparece em primeiro lugar no ranking de reclamações do site reclameaqui.com.br. Em números absolutos, nos últimos 12 meses, a empresa teve 81.319 registros, dos quais 33,9% aparecem como solucionados e nenhum respondido.   Em segunda posição está a SKY, com 42.936 ocorrências no site, das quais 61,5% foram resolvidas e 33,4% obtiveram resposta da empresa. Em seguida, aparecem a OI, com 34.156 reclamações, 41,1% de soluções e 0% de respostas, e a Claro, com 8.967 queixas, tendo resolvido 37,9% delas.   As principais reclamações que aparecem no site se referem a cobrança indevida, assistência técnica e problemas com sinal, além de problemas com cancelamentos. Qualquer denúncia sobre contratações de serviços pode ser feita junto ao Procon (BA). Em março deste ano o órgão divulgou que, em Salvador, as empresas de TV por assinatura ficaram na terceira posição das reclamações feitas por consumidores.  Veja abaixo lista de locais onde reivindicar os direitos:   ● Procon Cajazeiras (Salvador): Estrada do Coqueiro Grande, S/Nº, Fazenda Grande 03 - (71)3305-0479; ● Procon Periperi (Salvador): Rua Edmundo Bispo, S/N, Shopping Center Periperi, Sala 104, 1º andar - (71) 3397-9786; ● Procon Instituto do Cacau (Salvador): Av. da França, S/Nº, 1º andar, Comércio - (71) 3326-2012; ● Procon Shopping Barra (Salvador): Av. Centenário, 2992, Sobreloja, 1º piso, Chame-Chame - (71) 3264-4581; ● Procon Salvador Shopping (Salvador): Av. Tancredo Neves, 2915, Caminho das Árvores, Estacionamento G2 - (71) 3116-5785; ● Procon Liberdade (Salvador): Estrada da Liberdade, 405, Shopping Liberdade, 2º piso - (71) 3243-8557; ● Procon BA (Salvador): Rua Carlos Gomes, 746, Centro - (71) 3116-8517; ● Procon Jequié: Rua Itália, 20, Centro - (73) 3526-7818; ● Procon Vitória da Conquista: Praça Virgílio Ferraz, 86, Centro - (77) 3429-7852;

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro