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A Copa do Brasil é o país em campo, revela nosso futebol como ele é


 

Publicado em 14/02/2019 às 05:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 11:08:04
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A Copa do Brasil, que começou ontem para a dupla Ba-Vi, é o campeonato mais com a cara do país. Diverso, heterogêneo, reúne 91 times numa disputa em que o Ferroviário consegue “dar testa” para o Corinthians e que a Juazeirense eliminaria o Vasco se não fosse um pênalti maroto inventado nos minutos finais. Mais do que isso, revela o futebol brasileiro como ele é.

A primeira fase da competição confronta um time grande ou médio contra um pequeno. Mostra que o nosso futebol não é formado por jogadores milionários, cada um com seu carrão importado e milhares de seguidores no Instagram, como é fácil pensar.

Esses são minoria, e bote minoria nisso. Só 3% recebem mais de R$ 51 mil por mês, enquanto a média nacional é de aproximadamente quatro salários mínimos, segundo pesquisa feita pela Folha de S. Paulo, em maio do ano passado, com dados do Ministério do Trabalho referentes a 2016, os mais recentes disponíveis naquele momento.

A média do país está em campo por muitos times nesse início da Copa do Brasil. São jogadores sem fama, sem fortuna e também sem a certeza de que terão um contrato de trabalho quando o estadual acabar. Treinam em clubes sem estrutura adequada e sem recursos para se hospedar em hotel muito estrelado quando viajam. Trocar camisa com o adversário no intervalo? Não dá.

Galvez e ABC fizeram a preliminar na rodada dupla que teve Rio Branco x Bahia como jogo de fundo. O Galvez, atual vice-campeão acreano, se tornou “conhecido” no país durante a Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro, porque não tinha dinheiro para pagar a volta para casa após ser eliminado para o Palmeiras. E o time paulista custeou as passagens dos meninos.

Como prova de gratidão, a boa ação foi retribuída ontem, do jeito que estava ao alcance da modesta situação financeira do clube. O Galvez fez uma promoção na qual o torcedor que foi à Arena da Floresta vestido com a camisa do Palmeiras tinha direito a pagar meia-entrada. E seguramente a torcida palmeirense é muito maior que a do time da casa, mesmo no Acre. Uma curiosidade: o Galvez Esporte Clube foi fundado em 2011 por policiais militares e até hoje tem oficiais da PM na diretoria. No Twitter, apresenta-se com a alcunha “O Time Militar”.

Em meio a fatos pitorescos como esses, inimagináveis na realidade milionária dos times de Série A, a Copa do Brasil mostrou também um caso em que o certo está errado. Aconteceu na vitória por 1x0 da Aparecidense sobre a Ponte Preta, anteontem, em Aparecida de Goiânia.

A Ponte Preta marcou o gol que seria de empate aos 44 minutos do segundo tempo com o atacante Hugo Cabral em posição de impedimento. O árbitro não viu, o bandeirinha não sinalizou, e o gol foi erradamente confirmado. Porém, poucos minutos depois, e supostamente avisado por alguém de fora, o juiz mudou de ideia e anulou o gol. Só que a regra não permite interferência externa, a menos que a partida utilize árbitro de vídeo (VAR).

Ou seja, no final das contas, o árbitro fez a marcação certa do lance, mas descumpriu a regra. E gerou um paradoxo no qual o correto é ilegal. Onde já se viu isso? Na Copa do Brasil. Tão controversa quanto este Brasilzão.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.