A culpa é de Cleiton Xavier?

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  • Elton Serra

Publicado em 6 de maio de 2018 às 05:13

- Atualizado há um ano

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O futebol é um esporte capaz de criar várias muletas quando os clubes passam longe do sucesso. Num momento de adversidade, é muito fácil achar um vilão. Normalmente, quando tudo vai mal, o culpado nunca é aquele que gere o negócio – ou quando é, sempre tem um álibi capaz de destruir argumentos.

No Vitória, o culpado por todas as catástrofes do mundo é Cleiton Xavier. Contratado em 2017 para ser o maestro do time, o meio-campista tornou-se o jogador mais caro do rubro-negro. Como não rendeu tecnicamente e sofreu com sucessivas lesões, se transformou num fardo para as finanças do clube e numa muleta para todos os problemas da Toca do Leão.

De fato, a operação para contratar Cleiton Xavier foi uma das piores ações do Vitória nos últimos anos. Independentemente da qualidade técnica do jogador, um vínculo de duas temporadas e meia para um atleta de 33 anos na época da assinatura do contrato, com um salário acima dos padrões do clube, era um negócio de alto risco. Além disso, a diretoria comandada por Ivã de Almeida envolveu a jovem promessa Yan no acordo com o Palmeiras, potencializando ainda mais o equívoco.

Porém, Cleiton Xavier passou a ser tratado como um vírus no Vitória. Uma pecha absurda e que serve de subterfúgio para todos os outros equívocos do rubro-negro. Se o clube não contrata, é por culpa do salário do meio-campista; se a renovação com o basquete não acontece, é por conta do custo de Cleiton; se o time não rende dentro de campo, é por causa do “medalhão que vive no departamento médico”. Para piorar, a atual diretoria expõe o jogador ao afirmar que busca um novo clube para ele, talvez na tentativa de dar uma satisfação ao torcedor. Uma prova inequívoca de que o negócio se mistura constantemente com a paixão.

Desatar os nós que envolvem o negócio entre Cleiton Xavier e o Vitória não é fácil. O meia não trouxe retorno técnico ao rubro-negro, mesmo trabalhando sem envolvimento nas polêmicas em torno de seu nome. Pelos altos valores envolvidos, a solução precisa ser a mais racional possível, a fim de não sangrar ainda mais as contas do Vitória. Logicamente que a situação não tem sido confortável para nenhum dos lados, mas colocar o jogador como vilão de todos os problemas é de uma desonestidade sem tamanho. Parte da torcida, também, precisa saber separar as coisas.

Algo parecido acontece com Guto Ferreira. Desde que chegou ao Bahia, o técnico é cobrado pelo desempenho do time. Quando o tricolor perde, os pedidos por sua saída crescem assustadoramente. Nos momentos em que a equipe apresenta bons resultados, o nome de Guto é exaltado por grande parte da torcida. A muleta para os fracassos do Bahia é o trabalho de seu treinador. Apesar da postura tímida fora de casa em muitos momentos, pode-se dizer que a passagem de “Gordiola” pelo Fazendão é de grande sucesso.

Assim como a generalização, reduzir insucessos a apenas um personagem é um erro recorrente no futebol. É não querer enxergar que o esporte é feito de inúmeros processos, que envolvem dezenas de pessoas. Na maioria das vezes, sucesso e fracasso são produtos de vários protagonistas, apesar de o maior responsável, normalmente, ser aquele que comanda a engrenagem. No entanto, num mundo onde é fácil apontar o dedo para qualquer um, as muletas são bem convenientes.

Elton Serra é jornalista e escreve aos sábados