A cultura e a cidade

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  • Da Redação

Publicado em 9 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A cidade é - por excelência - espaço de criação, produção e difusão cultural, afinal é a vida urbana que realiza a cultura enquanto modos de ser e de viver de uma sociedade. As artes e a estética são suas expressões mais visíveis. Já a cultura é essencial à construção e afirmação da cidadania, pois a Constituição Federal assegura ao cidadão o acesso e a fruição dos bens culturais, o direito de criar, se expressar e se reconhecer como sujeito cultural. Portanto, cultura é tema ligado à política, ainda que sua institucionalização seja fato recente. No Brasil, a criação do Ministério da Cultura em 1986 seria a afirmação da relevância das políticas culturais. Porém, a recente extinção do MinC e seu rebaixamento a mera secretaria do Ministério da Cidadania evidencia a instabilidade do setor. A cultura está longe de ser uma questão de Estado, seguimos reféns dos humores dos governos e seus ocupantes.

Por isso, é preciso chamar a atenção para o trabalho que a Fundação Gregório de Mattos, órgão executivo da política cultural municipal, vem desenvolvendo. Criada em 1986 e tendo tido um início promissor, passou por ciclos de omissão e descaso, mesclados por pontuais esforços, que não correspondiam à importância histórica de Salvador, cidade em que o patrimônio arquitetônico colonial convive com manifestações da cultura tradicional e produções em teatro, dança, literatura, audiovisual, artes visuais, além da expressiva produção musical que faz da Bahia um celeiro de artistas e gêneros. Em resumo, Salvador tem na cultura seu melhor capital.

Como professor e pesquisador dedicado ao estudo de públicos e mercados culturais, registramos nos últimos anos a redução dos investimentos dos governos federal e estadual na cena cultural soteropolitana, enquanto a prefeitura (enfim) assumiu a centralidade do fomento à cultura. Salvador passou a ter Conselho Municipal de Cultura, além de extenso e inédito portfólio de programas e ações estruturantes, como o Viva Cultura e os editais de patrocínio para todas as linguagens, além da recuperação de espaços como o Teatro Gregório de Mattos, a Casa do Benin e o Centro Cultural da Barroquinha.

A cultura tem recebido da municipalidade investimentos significativos em valor e extensão. Projetos como o Boca de Brasa e o Arte em Toda Parte são vitais para ampliar o contato da população com ações culturais estruturadas e qualificadas, pois o acesso - e a distribuição dos espaços e da programação cultural - é desigual, concentrado em determinadas áreas da cidade. A mobilidade urbana à noite e nos finais de semana, horários de maior oferta cultural, é limitada e o consórcio entre cultura e comunicação de massa cria hegemonias que afetam e segregam a diversidade.

Por isso, as políticas públicas de cultura precisam de contínuo melhoramento. O baixo engajamento de artistas e demais profissionais da cultura com as ações culturais do município é um desafio a ser superado. A articulação política do meio cultural com as instâncias de poder político-institucional pode ser ampliada através da melhoria das interfaces e dos mecanismos de reivindicação e pressão. A realidade mostra que as conquistas são frágeis e há muito trabalho a ser feito para que Salvador consolide sua vocação para cidade da cultura.

Sérgio Sobreira é professor adjunto 4 da Faculdade de Comunicação da Ufba, pesquisa e ensina sobre produção e organização da cultura, com ênfase em práticas de consumo cultural e economia da cultura.

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