A desindustrialização da Bahia

Amando Avena escreve às sextas-feiras

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  • Armando Avena

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 14:43

- Atualizado há um ano

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A Bahia está se desindustrializando. Esta coluna já fez a mesma afirmação há cerca de dois anos, mas o problema é que o processo vem se acelerando. A crise econômica afetou as indústrias de todos os estados brasileiros, mas na Bahia a queda foi muito mais acentuada, o que significa que estamos reduzindo nossa posição no ranking dos estados mais industrializados do país.  No primeiro semestre de 2017, por exemplo, enquanto a indústria nacional cresceu 0,5%, a indústria baiana registrou uma queda de 7,4%, a maior redução entre todos os estados pesquisados pelo IBGE. No mesmo período, o estado de Santa Catarina, que recentemente superou a Bahia, tornando-se o 6° maior PIB do Brasil, cresceu 3,3%, enquanto estados do Nordeste, como Ceará e Pernambuco, cresceram 0,6%.

A desindustrialização que vem ocorrendo na Bahia não é, todavia, um problema conjuntural, é um problema estrutural que precisa ser discutido para que possa ser estancado. A indústria baiana está perdendo importância relativa tanto em relação aos demais estados da federação quanto internamente, na formação do PIB baiano. Em 2010, a indústria como um todo representava 26,5% do PIB da Bahia e era o setor que mais crescia, sete anos depois representa cerca de 20% e sua produção vem caindo mês a mês a dezesseis meses seguidos.

A produção da indústria de transformação, que é o principal segmento do setor industrial, com empresas petroquímicas, montadoras de automóveis e outras, vem despencando ano a ano, com muitas empresas fechando e outras reduzindo a produção. A indústria de transformação baiana, que em 2004 representava 16,5% do PIB, reduziu sua participação para 13,9% em 2010, e deve fechar 2017 representando cerca de 9% na formação do PIB baiano. Isso significa que o estado está se desindustrializando de forma acelerada.

E se, internamente, a perda de posição é nítida, em relação aos demais estados da federação é dramática. A Bahia perdeu posição no PIB do Brasil, reduziu sua participação no PIB do Nordeste e, embora ainda se mantenha como sétima província industrial do país, a produção industrial cresce menos que outros estados, como Santa Catarina e Goiás. Em 2010, a Bahia gerava 4,1% da produção industrial do Brasil e 45% do Nordeste, mas foi gradualmente perdendo posição e em 2015 gerou cerca de 3,5% da produção industrial brasileira e aproximadamente 40% da produção nordestina.

O fato é que a Bahia está se desindustrializando e ficando um estado cada vez mais dependente do setor serviços – grande parte dele caracterizado pela baixa complexidade e qualificação – e da administração pública, que elevou sua participação na formação do PIB baiano para mais de 20%. Ou seja, na Bahia, o setor público tornou-se mais importante do que o setor industrial. O processo de desindustrialização do estado vem se dando em várias frentes, comandada pela redução na produção de petróleo da Refinaria Landulpho Alves, pela obsolescência de parte do setor petroquímico, com exceções como a Braskem, Basf e outras, pela falta de competitividade das empresas em função dos gargalos logísticos e pelos altos preços das matérias-primas e da energia.

A Bahia ainda é o maior estado industrial do Nordeste, mas frente ao quadro atual o governo do estado e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia – Fieb precisam mobilizar as lideranças empresariais, elaborar planos e propostas para atrair empresas e estimular o empresariado local a investir para assim recuperar a pujança do setor, afinal, se nada for feito, a força industrial da Bahia pode se esvair rapidamente.

0,5 foi alta da indústria nacional no semestre 

7,4 foi queda  registrada pela atividade na Bahia no período

Codeba sem crise Apesar do governo federal estar quase a pedir esmolas e pensando em aumentar impostos para cobrir seu  gigantesco déficit, o presidente da Codeba – Companhia das Docas do Estado da Bahia, Pedro Dantas, anunciou esta semana que o sistema portuário estadual terá investimentos, com recursos federais e privados, da ordem de R$ 1 bilhão. É possível até que os projetos que forem bancados com recursos privados deslanchem, mas se for contar com os recursos federais, o mais provável é que a Codeba fique a ver navios.

Fecomércio 70 anos Na comemoração dos 70 anos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia – Fecomércio-BA, que reuniu esta semana as lideranças empresariais da Bahia, três comentários corriam soltos pelo cerimonial onde se realizou a comemoração. O primeiro dava conta que os empresários não aguentam mais a monumental carga tributária do país e vão lutar contra qualquer tentativa de criar ou aumentar impostos. O segundo ia no sentido de que o empresariado baiano tem de começar a agir para alavancar diretamente suas empresas e não ficar esperando os resultados da política governamental. E o terceiro constatava que Carlos Andrade, presidente da Fecomércio-BA, a cada dia se consolida como uma das principais e das mais atuantes lideranças empresarias da Bahia.

3 foram os principais comentários feitos por quem participou da comemoração pelos 70 anos da Fecomércio-BA

Mercado imobiliário toma fôlego Após um período de mais de 20 meses demitindo mais que contratando, em julho, o setor da construção civil na Bahia tomou fôlego e registrou um saldo positivo de 590 trabalhadores contratados com carteira assinada. É um sinal, ainda débil, de que o número de lançamentos deve aumentar no segundo semestre. Quem ainda parece sem fôlego é a atividade comercial que, em julho, eliminou 1.473 vagas de emprego com carteira assinada.

A arena e a Campus Party A Arena Fonte Nova já se consolidou como um espaço multiuso por excelência e está ocupando o vácuo deixado pelo Centro de Convenções, tornando-se o maior polo de eventos de Salvador. Nesse momento, o estádio está sediando a Campus Party, o maior encontro de tecnologia do país e que acontece pela primeira vez na capital baiana. Foi também a primeira vez que uma Campus Party se realizou em um estádio de futebol e isso foi possível porque a Arena Fonte Nova tem uma estrutura extremamente flexível que se molda às necessidades dos eventos. A verdade é que a Arena Fonte Nova, que já se tornou o grande palco de shows musicais nacionais e internacionais da cidade, está agora tomando o lugar do Centro de Convenções de Salvador e em julho sediou eventos que tradicionalmente ali se realizavam, como Congresso Nacional de Saúde e Atenção Domiciliar e a Feira de Convenção Baiana de Supermercados, Atacados e Distribuidores.

A prefeitura e os portos O Porto de Salvador é um dos melhores do Brasil, não só pela rapidez na entrada e saída de navios, com menor tempo de uso de práticos e rebocadores, mas, principalmente, porque é um dos poucos no país, senão o único, que tem uma via expressa de duas pistas dentro da área portuária, praticamente ao lado dos navios. Nesse sentido, é um terminal muito mais competitivo do que os terminais privados situados no Porto de Aratu, e os exportadores e importadores deveriam fazer essa conta. Mas isso não tem nada a ver com os três barracões que a prefeitura pretende usar para colocar equipamentos de entretenimento na região. O melhor era demolir os três barracões, desvendando a vista para o mar, ou, então, envidraçar todos eles e colocar ali equipamentos para os turistas e a população. A questão dos terminais privados e dos barracões do porto merece mais espaço, por isso voltarei a ela brevemente.

3 armazéns deveriam ser retirados do porto

Portos públicos devem receber R$ 1 bilhão em investimentos federais e privados