A Dramaturgia de Jaques Wagner

Por Aninha Franco

  • D
  • Da Redação

Publicado em 3 de março de 2018 às 03:22

- Atualizado há um ano

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A última vez que eu estive com o governador Jaques Wagner, de saída do governo, ele me disse que faria teatro depois do mandato. Pensei comigo que ele já fazia, mas, à época, ignorava o quanto. Nesse Brasil véi sem fronteira, muita gente faz teatro, mas como a base do teatro é o ator e o dramaturgo, quem não é nem uma coisa nem outra acaba sendo apenas personagem de si mesmo. Isso dava certo antes da web. Depois dela ficou difícil. Como é que Jaques Wagner, o sindicalista, aquela categoria que chegou ao Planeta pra defender os fracos e oprimidos da Era Industrial, explicará por que escolheu morar numa casa que tem uma réplica da casa de E o Vento Levou dentro? Vejam bem, a discussão aqui não é o preço da casa que, dizem, é de 6 milhões de republicanas, é o desejo do sindicalista de morar lá. 

É lógico que Wagner sabe que a casa de E o Vento Levou é o cenário da guerra de secessão estadunidense contada a partir da perspectiva dos sulistas racistas. Por isso, é difícil explicar o desejo do personagem sindicalista que discursou a vida inteira em favor dos baianos negros, de morar numa casa ilustrada pela casa dos sulistas brancos. Só com a dramaturgia do teatro do absurdo!

Outro desencontro do personagem Jaques Wagner com o humano Jaques Wagner no teatro político, é que o humano que demole um estádio de futebol que não precisava ser demolido, que cria uma parceria pública privada que lesa o público em benefício do privado, não combina com o personagem que promete beneficiar os que mais precisam. No teatro, o espetáculo termina, o público aplaude, e o ator volta para o humano liberto do personagem. Na vida real, ator e personagem são inseparáveis, e um sindicalista que chegou ao poder com o discurso de beneficiar os que mais precisam, não pode voltar pra casa errada. 

E deve explicar quem demoliu a Arena Fonte Nova, aquele projeto lindo de Diógenes Rebouças. Se foi o humano morador do Victoria Towers está explicado, mas se foi o sindicalista que declara pensar nos que precisam mais, a dramaturgia é bichada. Os que precisam mais precisavam de uma Arena de Futebol nova? De um circo novo quando o velho estava bom? Eu, por exemplo, tenho certeza que o povo que mais precisa, na Bahia, precisa de um choque na educação para aumentar a renda per capita de R$ 862,00, e diminuir a mortandade nas periferias, mortandade que aumentou muito desde que Jaques Wagner, o sindicalista, chegou ao poder prometendo justiça. 

E quem argumenta que não existe superfaturamento em parcerias públicas privadas só pode ser o personagem Wagner, porque o humano está caindo de saber que pode. Na PPP há recursos públicos e privados, e se os recursos públicos forem elevados, deles sairão propinas. No caso da Arena Itaipava Fonte Nova,  há o agravante do governo estadual, - nós, nossos impostos, nosso trabalho – , pagar, anualmente,  pelo não retorno do investimento. É o que está ocorrendo agora e já é suficiente para deixar humano/personagem Jaques Wagner sob suspeição. Nós, o Estado, estamos pagando ao consórcio OAS/Odebrecht pelo déficit de renda da Fonte Nova. 

Aliás, desde que chegou ao poder, em 2007, Wagner se esgalfinha com seu personagem “republicano” que frequentava os camarotes monárquicos dos Carnavais de antigamente com desenvoltura exagerada, camarotes que ofereciam três tipos de áreas vips, com lugar reservado para o governador sindicalista na área vip vip. Uma comédia bufa, como se vê.