‘A droga é a válvula de escape dela’, diz Luisa Arraes sobre Manu

Em entrevista ao CORREIO, atriz fala sobre personagem polêmica de Segundo Sol

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  • Laura Fernades

Publicado em 21 de julho de 2018 às 18:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paulo Belote/TV Globo

Uma fala do líder comunitário e professor de capoeira Acácio (Dan Ferreira) define bem quem é Manu, controversa personagem interpretada por Luisa Arraes na novela Segundo Sol: “Quando você tá limpa é uma pessoa; quando se droga, é outra”. Envolvida com o tráfico de drogas sintéticas em Salvador, a conturbada jovem vai escapar por pouco de uma overdose e vai ser salva de um tiro por Luzia (Giovanna Antonelli), nos próximos capítulos da trama das nove da Globo/TV Bahia.

“A droga é a válvula de escape dela. Mas, na verdade, a novela mostra que não é uma solução e, sim, um adiar”, reflete a atriz Luisa Arraes, 24 anos, em entrevista ao CORREIO. A artista carioca de nascimento e pernambucana de alma acredita que, apesar de o desequilíbrio familiar de Manu ter influenciado o destino da jovem, ele não determinou o rumo lisérgico da sua vida.

“Cada ser humano é de um jeito. Tem pessoas que passam por situações mais difíceis e não vivem isso. O desequilíbrio familiar não implica o uso de droga. Não existe uma fórmula. Parte também da personalidade da pessoa. Não ter laços ajudou, claro, mas não é regra”, pondera Luisa, que é filha do diretor Guel Arraes com a atriz Virginia Cavendish e neta de Miguel Arraes (1916-2005), ex-governador de Pernambuco.

Polêmica, Manu desafia Luisa diariamente ao exigir a dose certa de desequilíbrio. “Criamos uma linguagem diferente para cada estado. Ela não está sempre doida do mesmo jeito, porque ficaria cansativo para a novela. Às vezes é mais tensa, mais solta, mais deprimida, mais raivosa...”, explica Luisa. A Atriz  também pode ser vista no Teatro Castro Alves neste sábado (21), às 21h, e domingo (22), às 19h, com a peça Grande Sertão: Veredas. Manu (Luisa Arraes) será salva por Luzia (Giovanna Antonelli), que vai levar um tiro no seu lugar (Foto: João Cotta/TV Globo) Fazer barulho Apesar de discreta, Luisa Arraes é militante e não se furta a amplificar o discurso que reivindica mais educação, segurança, saúde e cultura para a sociedade contemporânea. Seja na peça baseada na obra-prima do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), “uma Bíblia” que reflete sobre a construção de um novo homem e uma nova humanidade. Seja nas redes sociais, onde usa sua voz para “fazer barulho” e encorpar o coro em torno de causas como aquela defendida pelo colega de cena Dan Ferreira.

Soteropolitano, Dan escreveu uma nota de repúdio sobre uma publicação feita no portal Notícias da TV que usou a expressão “sexo com negão” para descrever o envolvimento entre Acácio e Rochelle (Giovanna Lancellotti). Luisa, então, compartilhou o desabafo do ator a respeito da manchete que considerou preconceituosa por estimular a sexualização do corpo negro.

“Fazer barulho é fundamental. Não ligo as redes para agradar. Sei que poderia não postar algumas coisas, porque a rede social logo vira um campo de ódio.  Mas é fundamental que não passe despercebido, inclusive questões de representatividade. É trabalho de formiguinha”, defende Luisa.

Para ela, a causa é coletiva. “Não adianta falar que o problema não me diz respeito. A gente vive numa comunidade, então tudo nos diz respeito e tudo é política. Em uma sociedade absolutamente desigual, não é suficiente não ser racista”, garante.