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Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Talvez você não concorde comigo, caro leitor ou bela leitora, mas estou no time daqueles que acham que o fato mais instigante desta Copa do Mundo, até agora, deu-se antes da abertura oficial do torneio.
Como você já pode suspeitar, refiro-me ao quiprocó arrumado pelo agora ex-treinador da seleção espanhola, Julen Lopetegui.
Nem vou me alongar sobre a negociação iniciada pelo Real Madrid na surdina ou sobre a cabacice do técnico: se tivesse optado pela transparência, poderia ter ficado de boa com a seleção e com o time.
Pra mim, o maior vacilo de todos foi do presidente da Real Federação Espanhola, um tal de Luis Rubiales. Mas, repare bem, o erro não foi demitir Lopetegui depois de tomar uma bola nas costas. O erro crasso, épico mesmo, foi efetivar o diretor Fernando Hierro como o treinador para os jogos do Mundial.
Nada contra Hierro, de quem não tenho absolutamente nenhuma notícia como treinador. Mas o que eu gostaria mesmo de ver era um time jogar a Copa do Mundo sem técnico, na pegada baba. Ponto final.
Alguém aí duvida que a Espanha, com o elenco que tem, poderia dar um trabalhinho sem nenhum mala à beira do campo? Acho até que ganharia a simpatia de muita gente ao redor do mundo. Por outro lado, se fosse avançando de fases, a Fúria ia matar de raiva a turma que só falta babar pelo treinador predileto. Seria engraçado.
Outra opção, que certamente traria drama e ludicidade à narrativa da Rússia, também não foi considerada pelo dirigente espanhol, o que denuncia a mentalidade parva deste senhor. Qual seja: Iniesta (quem mais além dele?) poderia muito bem ser alavancado ao posto de jogador-treinador, tal qual Romário, no Vasco, Ryan Giggs, no Manchester United, ou o grande George Weah, na seleção da Libéria.
Juntos, pois, vislumbremos o futuro que nunca virá: Iniesta (autor do gol do título mundial de 2010) tabela com David Silva e faz o primeiro da Espanha na semifinal de 2018, ali pelos 25 minutos do segundo tempo. Percebendo-se cansado, Iniesta tira Iniesta e coloca Asensio, que faz o segundo num contra ataque. No dia seguinte, o diário Marca estampa: “Andrés, El Rey”. Findada a Copa, com ou sem título, Iniesta volta ao lar, desiste de ir jogar no Japão, entra para a política, vira primeiro-ministro e em seis meses resolve a histórica picuinha entre Espanha e Catalunha. Como? Sei lá!
Nunca saberemos, pois toda esta heroica jornada virou apenas lorota desta coluna, já que o cidadão que manda na Real Federação Espanhola optou pelo pragmatismo, pegou pelo braço o sacana que estava mais perto e botou no lugar do técnico.
Agora, se a Espanha for bem no Mundial, por puro mérito de quem entra em campo, certamente vai aparecer um entendido pra dizer que teve o dedo de Fernando Hierro. Se a Espanha for mal, usará para sempre a justificativa de que perdeu o treinador na véspera do torneio e pronto, este terá sido apenas mais um episódio esquecido no rodapé do livro das Copas.
Para fazer história, caro leitor ou bela leitora, é preciso ter um pouco de imaginação.*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados