A eterna irreverência de Cazuza

Jornalista Marrom conta como conviveu com Cazuza no auge do sucesso e da loucura dos anos 80

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 4 de abril de 2018 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Um dos maiores poetas da musica brasileira, Cazuza completaria hoje 60 anos. Cantor, compositor e herói de uma geração, ele viveu intensamente os anos 80, quando o BRock explodiu e conquistou corações e mentes. Eu, pessoalmente, fui um dos conquistados. Vi vários shows do Barão Vermelho - grupo que o lançou ao estrelato - e depois seus shows solo.

E o melhor: tive o prazer de produzir um show do Barão Vermelho, aqui em Salvador, no extinto Troféu Martim Gonçalves, prêmio aos melhores do Teatro Baiano, criado por Carlos Borges e pelo saudoso Hamilton Celestino, e produzido pela TV Aratu, na época retransmissora da TV Globo. Tive a honra de dar continuidade à premiação, quando Carlos e Tito se afastaram.

Então, imaginem, eu um garoto começando no jornalismo,  com essa imensa responsabilidade.  A festa sempre acontecia num dos salões do Hotel Meridien. O convidado daquele ano foi o Barão Vermelho.

Festa linda, salão cheio, tudo de bom. No dia seguinte recebo uma ligação da então RP ou gerente de eventos, não me lembro bem a função. Era uma estrangeira, chamada Cristine Languas. Furiosa, ela disse que não realizaria mais a festa no Meridien, porque Cazuza tomou um porre, ao lado do querido e também saudoso poeta Wally Salomão, e quebrou o quarto do hotel. Foi um auê. A TV teve que arcar com o prejuizo, enfim.

[[publicidade]]

Muitos anos depois, quando Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, lançou o livro Só as Mães São Felizes, ela relata esse episódio. Ano passado, num almoço no apartamento de Gil e Flora, no Corredor da Vitória, fui apresentado à Lucinha. Ai me identifiquei, dizendo que eu tinha sido o produtor do tal evento. Elegante como sempre, ela falou: "Oh, meu filho, me perdoe, me desculpe”. Eu disse: "Que nada, isso tem tanto tempo. E seu filho foi show".

Já se passaram 28 anos de sua morte em 1990, vítima de complicações decorrentes da AIDS.  E ouvindo os discos de sua primeira fase com o Barão Vermelho, podemos constatar o quão atual são são suas letras. "Que tempo mais vagabundo esse agora que escolhemos pra gente viver", bradava ele em Milagres, do disco Maior Abandonado. Ou "Mais uma dose é claro que tou a fim/ a noite nunca tem fim/ porque é que a gente é assim? da música Porque  a Gente é Assim, do mesmo disco. Ah! que falta que Cazuza faz nesses tempos de pouca criatividade, muita banalidade e pouca poesia. (Foto: Arquivo pessoal) Essa foto foi tirada anos antes numa festa na casa de Caetano Veloso no Rio: Caetano Veloso, Bruno Barreto, Paulinho Lima, Cazuza e eu