A exceção e a regra, ou a pródiga travessia da nordestina Luíza

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  • Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Faz 30 anos em 15 de novembro. De uma hora para outra o vento virou. Nas eleições para a prefeitura de São Paulo o ‘patinho feio’  Luíza Erundina, 54 anos, venceu, em virada emocionante, o macrocorrupto Paulo Maluf, o patrono de todas as roubalheiras que  apodreceram o Brasil nos últimos 40 anos. [Pesquisas apontavam a vitória do vilão arquetípico, mas, a 3 dias da eleição, podia-se perceber pelos quatro cantos da Pauliceia Desvairada: os malufistas se foderiam. Não deu outra].

Foi o momento de maior alegria cívica na vida deste jornalista e escritor pouco crente no caráter dos políticos brasileiros, mas sempre categórico na defesa da democracia. A propósito, a minha geração lutou contra a ditadura militar instalada no país em 1964, entre outros motivos, para que os nossos governantes fossem escolhidos pelo voto popular.

Domingo, 7 de outubro de 2018 – em primeiro turno da eleição presidencial brasileira que devastou o status quo político nacional -, reencontramos Luíza Erundina – 84 anos em 1 de novembro – com a mesma índole e o mesmo vigor. Na lista dos vinte deputados federais eleitos por São Paulo, entre tiriricas, baleias e alexandres-frotas, lá estava ela, em décimo-terceiro lugar, com 175.307 votos.

A paraibana Luíza Erundina – não exatamente bonita, homossexual low profile, leal ao pensamento de esquerda desde sempre – mudou-se do PT para o PSOL, mas foi capaz de votar em alto e bom som contra o impeachment de Dilma Roussef em 2016 – é o mais probo político da história recente do país. [Ficha limpa, atravessa incólume o mar de lama que sufoca o país há décadas].

Nunca tive proximidade com Luíza Erundina. Estive com ela apenas uma vez. Repórter da editoria de Cidades do jornal O Estado de S. Paulo em plantão sonolento de manhã de domingo, fui designado a acompanhar visita da  prefeita a bairro da periferia. Pauta fria, contei com a ajuda inesperada do cantor Agnaldo Rayol que apareceu ao lado dela no palanque e, juntos – eles e nós – cantamos ‘Gente Humilde’ (inspirada parceria de Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque).

Logo depois – a eleição de Luíza Erundina nunca foi digerida pelas elites – deram-me a missão de repercutir a eleição de mulher nordestina para um dos cargos mais relevantes da política brasileira. Baiano de nascimento, não carrego sotaque que me identifique. Entrevistados, pensando que eu fosse tão paulistano quanto eles, teimavam em repetir, enquanto me ofereciam cafezinho e docinhos: - Mulher e nordestina. O que se pode esperar dessa criatura?

Esta pergunta preconceituosa, em tempos novamente obscurantistas, volta a ser feita em altos decibéis em viva voz e nas redes sociais. Eu – sempre convicto de que criatura alguma deve ser julgada pela cor da pele ou pela orientação sexual – julgo imperativo não me levar pelos ímpetos, digamos, retrógrados que grande parte do eleitorado brasileiro está abraçando.

[Decidido: voto em quem dona Luíza Erundina mandar. Kaput.]