A fotografia textual feita por Pierre Verger em Fluxo e Refluxo

Esgotado há 20 anos, clássico da historiografia estuda o tráfico de escravos entre o Benim e a Bahia

Publicado em 28 de agosto de 2021 às 11:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: divulgação

Apesar da declarada aversão ao academicismo, um dos livros mais importantes do fotógrafo e etnólogo francês  Pierre Verger (1902-1996) tem origem justamente na tese de doutorado que ele defendeu na Sorbonne em 1966: Fluxo e Refluxo  - Do Tráfico de Escravos Entre o Golfo do Benim e a Bahia de Todos-os-Santos, do Século VXII ao XIX, resultado de vinte anos de pesquisa e de sua descoberta da Bahia.  

Apesar disso, a obra, considerada um marco da historiografia, só seria lançada no Brasil em 1987 - pelos esforços da também fotógrafa Arlete Soares, que criou a editora Corrupio justamente para publicar os trabalhos de Verger. Esgotado há mais de vinte anos, o livro ganha relançamento pela editora Companhia das Letras, com posfácio do historiador baiano João José Reis.        No prefácio, Verger conta que a origem do estudo foi na cidade de Uidá, no Daomé (atual Benim), quando encontrou, “por acaso”, 112 cartas do negreiro José Francisco dos Santos, conhecido como Alfaiate - profissão que ele exercia na Bahia antes de se estabelecer na costa africana. A partir dai, ele  reconstrói a rota de compra e venda de escravos entre a Bahia e o golfo do Benim no período da colonização portuguesa, e recupera os desdobramentos culturais dessa relação comercial.

“Apesar dessas duas comunidades terem praticamente perdido contato a partir do início do século XX, seus integrantes tornaram-se, em termos culturais, africanos do Brasil e brasileiros da África”, destaca Verger. Ele diz que seu objetivo foi apenas pesquisar e publicar, sem “comentários indignados ou moralizantes”, tudo aquilo que arquivos e relatos de viajantes poderiam revelar sobre nosso passado. 

E foi o que ele fez, detalhadamente, nas 976 páginas do livro - incluindo caderno de fotos, mapas e muitas citações e referências. No Arquivo Público do Estado da Bahia, por exemplo, se debruçou sobre os autos da devassa conta os malês, em 1835. Verger, como explica João  Reis, optou por transcrever longamente documentos primários, o que faz do livro dele uma fonte segura para vários outros estudos. “Em sua  neutralidade axiólogica, Verger decidiu fazer os documentos falarem sem parar, enquanto ele ficava na surdina”, anota João Reis. Desta forma, diz, era como se Verger adotasse uma espécie de fotografismo textual, equivalente ao que fazia com as imagens. 

“Sobre as pessoas que fotografava, dizia que as queria espontâneas. E assim também preferia ver os documentos, espontâneos, sem qualquer pose. Construiu sua narrativa como uma colagem de ‘retratos’ documentais que assegurariam a fidelidade e a isenção do historiador diante do passado”, diz Reis. 

FICHA

Livro: Fluxo  e Refluxo 

Autor: Pierre Verger

Tradução: Tasso Gadzanis

Editora: Companhia das Letras 

Preço: R$ 129,90 (976 páginas)  

Boas opções musicais no fim de semana

Lá se vão 22 anos e para marcar a data a JAM no MAM promove sessão de aniversário neste sábado (28), com uma transmissão on-line e ao vivo, direto do Solar do Unhão. A apresentação tem início 18h, quando o maestro Fred Dantas, um dos artistas convidados, vai tocar os primeiros acordes da noite, acompanhado da Banda Base. Sem puder ainda retornar às apresentações presenciais, a JAM tem investido no audiovisual, com filmagem com três câmeras, drones e edição em tempo real. Exibição gratuita no canal da JAM no YouTube ((www.youtube.com/jamnomam). A Jam no MAM terá transmissão, ao vido, do Solar do Unhão (Foto: Ligia Rizério/divulgação)  Outras lives  

1. Arnaldo Antunes - O cantor e compositor é a atração deste sábado (28) do projeto Som do Sesc. O artista apresenta em live o show do álbum O Real Resiste, seu 18º disco solo, lançado em 2020. Às 20h, no YouTube do Sesc RJ (/portalsescrio). 

2. Brown e Titãs - Neste sábado (28), às 18h, acontece o encontro entre Carlinhos Brown e a banda Titãs - juntos no palco pela primeira vez. A transmissão será no canal da seguradora Sul América no YouTube, com retransmissão nos canais dos artistas e também na Claro.

 3. Osba e Piazzolla - Para marcar o centenário de Astor Piazzolla, a Orquestra Sinfônica da Bahia realiza o concerto Piazzolla 100 anos, com a orquestra interpretando As Quatro Estações Portenhas, com regência de Carlos Prazeres. Neste domingo (29), às 18h, diretamente do palco do TCA, com transmissão ao vivo no YouTube da OSBA.