A matemática deve ser ensinada de maneira aberta, criativa e visual

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  • Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quem não conhece um amigo que diz: “Não tenho dom para a matemática”? Quem nunca ouviu o discurso de que a matemática é difícil, sofrida ou algo para poucos que já nasceram com esse talento? De certa forma, avaliações nacionais e internacionais parecem reforçar essa crença.

Na última edição do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), realizada em 2015 pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com jovens de 15 anos, 70% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível de aprendizagem considerado adequado em matemática. Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, divulgados nos últimos dias de agosto pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), demonstram que o ganho de aprendizagem na disciplina entre os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental teve pouco avanço entre 2015 e 2017, passando de 256 para 258.

O desafio de aprendizagem em matemática não é apenas brasileiro. Outros países, entre eles os Estados Unidos, enfrentam esse problema. Então, como reverter o quadro? Pesquisadores ao redor do mundo têm sido categóricos em afirmar: todos podem aprender matemática em níveis complexos e avançados. Esse foi o recado dado pela pesquisadora Jo Boaler, da Universidade Stanford (EUA), no Seminário Mentalidades Matemáticas, realizado recentemente em São Paulo.

Boaler, considerada uma das maiores lideranças mundiais no assunto, defende que, para que isso aconteça, é preciso uma mudança drástica na forma de ensino da disciplina e também na relação que professores e alunos têm com ela.

Diferentemente de como a maioria de nós estudou, aprender matemática não se limita a decorar fórmulas e dar respostas certas ou erradas para os resultados das equações. Ao contrário de nossas crenças sobre a rigidez da disciplina, Jo Boaler traz uma visão disruptiva ao afirmar que ela deve ser ensinada de maneira aberta, criativa e visual.

Sim, visual! Usando a neurociência, a pesquisadora demonstrou que quando uma pessoa faz atividades relacionadas à matemática, das cinco áreas ativadas no cérebro, duas são do campo visual. Ou seja, quando estudamos conceitos matemáticos sem a utilização de recursos visuais, ativamos apenas 60% da capacidade potencial do cérebro para absorver os novos aprendizados.

Entretanto, para que mais docentes possam inovar no ensino de matemática, será necessário transformar a sua formação, articulando teoria e prática, e os apoiando para que também estejam abertos a aprender, junto com seus estudantes. As pesquisas conduzidas por Jo Boaler provam que é possível fazer isso, com resultados importantes para a melhoria do aprendizado dos alunos.

Temos, inclusive, casos brasileiros que indicam que resultados apontados em estudos internacionais são factíveis também por aqui. Na Escola Estadual Henrique Dumont Villares, localizada em São Paulo (SP), professores de matemática têm sido formados em metodologias inovadoras de ensino da disciplina, com resultados já sentidos nas práticas de sala de aula, tanto por alunos como por professores. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2017,  a escola obteve 7,5, ficando bem acima da meta, de 5,9. Outra experiência inovadora que vale a pena ser acompanhada é a do Centro de Estudos Youcubed (www.youcubed.org), da Universidade Stanford, que já recebeu mais de 25 milhões de visitantes e acaba de ganhar versão em português.

Ao entendermos que o raciocínio lógico e a compreensão matemática fazem parte de nosso DNA, é possível escolher novos caminhos metodológicos e nos desfazermos de preconceitos sobre as limitações do potencial humano. Esse deve ser nosso objetivo: ajudar cada vez mais jovens brasileiros a desenvolverem o gosto por essa habilidade, com a convicção de que eles já têm dentro de si a capacidade inerente de aprender matemática complexa.  Ya Jen Chang é  presidente do Instituto Sidarta; Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social; e Camila Pereira, diretora de Educação da Fundação Lemann

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