'A PM mata e o MP enterra', diz Rute Fiúza após denúncia da promotoria

Após Polícia Civil indiciar 17 PMs por homicídio, MP-BA levou à Justiça acusação contra sete por sequestro

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  • Bruno Wendel

Publicado em 10 de setembro de 2018 às 19:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Júnior/Arquivo CORREIO

A comerciante Rute Fiúza recebeu com indignação a notícia de que o Ministério Público Estadual (MP-BA) denunciou sete policiais militares pelos crimes de sequestro e cárcere privado de seu filho, o adolescente Davi Santos Fiúza, desaparecido em outubro de 2014, então com 16 anos.

Em agosto, a Polícia Civil havia indiciado 17 PMs por homicídio qualificado. O inquérito foi enviado ao MP-BA que anunciou, nesta segunda-feira (10), que denunciaria apenas sete, dos 17 citados na peça de acusação produzida pela polícia.

Para Rute, todos os policiais que participaram da operação da Polícia Militar - um teste para obtenção do título de soldado -, no bairro de São Cristóvão, onde a família morava na época, tinham que ser denunciados."Na minha opinião, tinham que ser todos. Todos eles juntos não valem o meu filho. Os outros dez vão ficar livres para continuar torturando, mostrando e ensinando na escola de tortura como é que se mata", afirmou a comerciante ao CORREIO, antes da coletiva de imprensa em que a promotora Ana Rita Nascimentou detalhou a denúncia.Rute Fiúza disse, ainda, que "O MP-BA é omisso, tem 100% de culpa nos crimes que ocorrem porque não fazem um controle do trabalho da PM. Eles têm tanta participação quanto a polícia".

Meu filho está na casa de quem? Outro razão da indignação da mãe do adolescente desaparecido é o fato dos PMs terem sido denunciados por sequestro e cárcere privado."Se isso é um sequestro e cárcere privado, apenas, e não um sequestro seguido de tortura e morte, onde está o meu filho? Já que eles [promotores] entendem que foi sequestro, quero saber na casa de quem ele está. Algum promotor do MP-BA está com o meu filho em casa, levou para passear?", indagou Rute. Embora mãe acredite em morte, corpo de menino nunca foi encontrado (Foto: Reprodução) Para a mãe, não há outro desfecho possível para o caso senão a morte do adolescente."Eles não levaram Davi somente para dar dois tiros e conversar com ele. Porque não foi assim com Geovane Mascarenhas, com Amarildo, e não foi assim com meu filho. Eu, como mãe, sei que não foi assim com ele porque não é assim com ninguém", mencionou.O MP-BA foi procurado pela reportagem para comentar as declarações, mas até a publicação desta reportagem ainda não havia se manifestado.

Os promotores de Justiça explicam que as provas apresentadas pela investigação da Polícia Civil não forneceram subsídios suficientes para que o Ministério Público denuncie os policiais pelo crime de homicídio. 

“A autoridade policial não logrou êxito em localizar o menor, seja este com vida, ou seus restos mortais, para que sejamos capazes de apontar, com supedâneo no laudo cadavérico próprio, as causas e circunstâncias que cercaram a sua morte, acaso esta tenha ocorrido”, afirmou a promotora Ana Rita Nascimento, uma das autoras da peça de acusação apresentada à Justiça.

Investigação própria Os militares denunciados são Moacir Amaral Santiago, Joseval Queiros da Silva, Genaro Coutinho da Silva, Tamires dos Santos Sobreira, Sidnei de Araújo dos Humildes, George Humberto da Silva Moreira e Ednei da Silva Simões foram denunciados pelos crimes de sequestro e cárcere privado (artigo 148, parágrafo 1º, incisos III e IV, combinado com os artigos 29 e 61, inciso II, letra g, do Código Penal). 

Embora tenha inidicado apenas sete policiais, o MP-BA informou que vai apurar, de forma independente, o paradeiro do adolescente. Para isso, a promotoria decidiu instaurar um Procedimento de Investigação Criminal (PIC).“Será necessário para que possamos lograr êxito, localizando o Davi vivo ou morto. Existem ainda alguns pontos que precisam ser esclarecidos”, declarou a promotora Ana Rita Nascimento, durante coletiva de imprensa, na manhã desta segunda-feira (10), quando detalhou a denúncia feita contra sete PMs pelo desaparecimento do rapaz.Procurada pelo CORREIO, a Polícia Militar não informou se os militares seguem trabalhando. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) disse que não comentaria o assunto.

"A SSP-BA comenta sobre inquérito que está em outra instância. Informa ainda que qualquer solicitação, de órgão competente, para novos procedimentos, será atendida. Por fim, acrescenta que, após envio do inquérito, nada foi requisitado", afirmou a pasta.