A possível eleição de Bolsonaro terá enorme repercussão na Bahia

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  • Armando Avena

Publicado em 26 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, a se confirmar a previsão dos institutos de pesquisa, terá enorme repercussão na Bahia, tanto do ponto de vista político, quanto no que se refere ao cenário econômico. Em termos políticos, o governo do estado torna-se oposição ao presidente da República e a Bahia será o mais importante reduto do partido que perdeu as eleições. Além da Bahia, o Partido dos Trabalhadores elegeu apenas os governadores do Ceará e do Piauí e disputa o 2º turno no Rio Grande do Norte, o que faz do governador Rui Costa, juntamente com o senador Jaques Wagner, a principal liderança petista entre os estados governados pelo partido. O PT fará oposição cerrada ao novo governo e isso terá, inevitavelmente, implicações no reordenamento das forças políticas no estado. Um aspecto importante será a posição dos partidos que na Bahia compõem a base aliada de Rui Costa, mas que nacionalmente devem apoiar o presidente, pois será cada vez mais difícil votar em projetos nacionais que serão condenados explicitamente pelo PT e pelo governador.  Por outro lado, o papel do DEM na formação da base de apoio de Bolsonaro no Congresso Nacional também terá implicações políticas importantes na Bahia, já que, se compor a base do governo federal, o prefeito ACM Neto, que preside o partido, saíra fortalecido, especialmente se o atual presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, for reconduzido ao cargo.  A movimentação no tabuleiro político baiano será grande logo após a eleição de Jair Bolsonaro e nesse xadrez muitas peças vão mudar de lugar.  Assim, em se tratando de política, muita água vai rolar a partir de segunda-feira quando o país já terá oficialmente um presidente eleito. Sob o ponto de vista econômico, há duas questões a considerar. A primeira diz respeito à política econômica que será adotada caso Jair Bolsonaro seja eleito e que, inevitavelmente, afetará a Bahia. Tudo indica que Bolsonaro vai manter e aprofundar o ajuste fiscal e dar continuidade às reformas, especialmente a reforma da Previdência. Como os fundamentos da economia estão alinhados, esse tipo de política deve fazer a economia crescer e, se o presidente conseguir maioria no Congresso para aprovar as reformas e manter a estabilidade política, a tendência será a ampliação dos investimentos privados, especialmente se os projetos de concessão e privatização deslancharem rapidamente. A economia baiana deve responder positivamente a esse processo, mas o grande problema estará no relacionamento entre o governo federal e o governo estadual, que será tenso, especialmente se o governador Rui Costa assumir uma postura oposicionista agressiva. Isso não significa que a Bahia não será contemplada com obras e investimentos federais, não só porque o candidato se comprometeu a retomar as obras paradas, e muitas delas estão na Bahia, a exemplo da Ferrovia Oeste-Leste, mas também pelos compromissos com o estado que é o 4º mais populoso do país e pelo fato de haver outros interlocutores, a exemplo da oposição e mesmo de lideranças não petistas aliadas ao governador, que podem comandar a atração de recursos e projetos para o estado. De todo modo, se a vitória de Bolsonaro se concretizar, a Bahia será outra a partir de 1º de janeiro e um novo cenário político vai se formar tendo como pano de fundo a oposição entre o governo do PT na Bahia e o governo federal.

REFORMA DO SECRETARIADO A se concretizar a eleição de Jair Bolsonaro, como indicam todas as pesquisas de opinião, o governador Rui Costa terá de fazer uma reforma ampla do seu secretariado. Por um lado, terá de montar um equipe com mais peso político para manter sua base política no interior, que será cortejada por muitos partidos, munidos de recursos e do apoio do governo federal.

Além disso, a Bahia será o principal estado governado pelo PT, tendo de atender a demandas internas e externas, inclusive por cargos, afinal o partido perdeu a eleição em muitos estados e verá o desmonte dos cargos que ainda mantém, inclusive no governo federal. Por outro lado, o governador precisará de um grupo de secretários com perfil mais técnico, que drible o embate político, e tente negociar na base da competência recursos e projetos no âmbito da burocracia ministerial. Os partidos aliados devem continuar compondo o secretariado, mas vão ter de se equilibrar entre o poder estadual e o poder federal.

OTTO E A BANCADA DO SENADO O senador Otto Alencar continuará como um fiel da balança na política baiana. Otto vai controlar a bancada da Bahia no Senado, pois com a eleição de Ângelo Coronel, nome do seu partido e uma escolha pessoal sua, dois votos da Bahia no Senado estarão automaticamente alinhados e terão peso na votação de projetos. Além disso, o PSD, partido do senador, elegeu a 2ª maior bancada na Assembleia Legislativa e fez Otto Alencar Filho o segundo deputado mais votado da Bahia na Câmara de Deputados, além de fazer mais três federais do partido.

O PRESIDENTE E A ECONOMIA Diferente do que apregoam alguns analistas, qualquer que seja o presidente eleito no próximo domingo ele vai receber o país em boas condições econômicas e com apenas um desafio de peso: ajustar as contas públicas.  É um desafio e tanto, mas a situação econômica é muito melhor, por exemplo, do que no início do segundo mandato de Dilma ou mesmo na posse de Temer, quando o país amargava uma recessão de grande porte.

É tão melhor a situação que o PIB cresceu 1,5% nos últimos 12 meses, medido pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e deve fechar o ano com um crescimento de quase 2% ou mais. Mesmo na questão fiscal, houve um refresco e  o déficit público em 2018, que seria de R$ 159 bilhões, caiu para R$ 139 bilhões.

Além disso, a Bolsa de Valores atingiu 85 mil pontos e tende a crescer, os investidores mostram-se ávidos por investir e o mercado de trabalho está se recuperando e já criou 720 mil novos empregos entre janeiro e setembro deste ano. Para completar, a taxa de juros é a mais baixa da história e a inflação está abaixo do centro da meta. Ora, num cenário como este, o grande problema é o déficit público e a relação dívida/PIB que será plenamente administrável se for feito um esforço de contenção de despesas e mantido o teto dos gastos.

E se, além disso, o novo presidente jogar todo o peso dos seus milhões de votos no esforço para aprovar a reforma da previdência e para montar um plano de concessões e privatizações, estarão dadas as condições para um ciclo de novos investimentos e para o país aumentar suas taxas de crescimento.

Mas, para que isso aconteça, é preciso que o presidente eleito não embarque em aventuras, nem tensione o país com medidas autoritárias, projetos polêmicos, ameaças à democracia ou disputas com outros poderes de modo a pôr fim ao clima de incerteza que espanta o investimento.