A rainha viúva

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  • Nelson Cadena

Publicado em 27 de abril de 2018 às 06:04

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Foi Stefan Zweigg, um dos maiores escritores do mundo, quem definiu a Bahia como “A rainha viúva” __ acrescentando__ “grandiosa como as peças de Shakespeare”, no generoso capítulo que nos dedicou no seu livro “Brasil País do futuro”. Ao desembarcar do avião da Panair em janeiro de 1941, no hidroporto de Itapagipe, Zweig enxergou primeiro o mar e depois Salvador e seu povo, com os mesmos olhos de biografo com que um dia retratou Balzac, Maria Antonieta, Napoleão, Dickens, Dostoievski ou Erasmo de Rotterdam. E enxergou a nossa alma. Nenhum outro dos ilustres visitantes e moradores de ocasião de sua época, nem mesmo Gilberto Freire, ou, Antônio Maria, nos retrataram com tantas cores e fidelidade e tanto entusiasmo. Ao embarcar dias depois para o Recife__ os pernambucanos morreram de ciúme com toda a admiração demonstrada pelo escritor com a Bahia__ concedeu uma entrevista à Agência Nacional e descontraído confessou: “abandono esta terra com saudades... Guardo nitidamente a sucessão de verdadeiros milagres de arte que desfilaram entre meus olhos a cada passo na cidade...Conheço a maioria dos países do mundo. Tenho me interessado especialmente pelo que de original cada um pode oferecer, mas, em nenhuma parte encontrei um sentimento popular tão puro, tão virgem como na Bahia...”

“Tive a felicidade de assistir aos festejos do Bonfim em todos os seus detalhes e não me recordo de haver visto, em toda minha vida, uma festa tão concorrida, tão encantadora...despida de artificialidades e cheia de sentimento popular, da alma da rua, e, por isso mesmo, uma festa em que esplendidamente se combinaram a religiosidade e a alegria da gente...O papel fino de cores nos carros e nos animais foi para mim um espetáculo verdadeiramente impressionante”. Sem o mesmo linguajar formal da entrevista, ao respeito da Lavagem, a descreveu no seu livro como: “a mais violenta histeria coletiva que até hoje tive a ocasião de observar”. Stefan Zweigg enxergou a Bahia como uma rainha viúva: “Todavia não abdicou, conservou a sua posição e, com esta, uma incomparável dignidade. Altiva e ereta olha do alto para o mar, no qual, séculos atrás, todos os navios se dirigiam para ela; ainda traz os antigos adereços, constituídos por suas igrejas e sua catedral, e essa dignidade de atitude continua a existir na sua população. Podem as cidades mais novas, podem o Rio, Montevideo, Santiago, Buenos Aires, ser hoje mais ricas, mais poderosas, mais modernas, mas, a Bahia tem sua história, sua civilização própria, seu modo de vida próprio. De todas as cidades do Brasil foi ela a que mais fielmente respeitou a sua tradição”.

“A Bahia, ao contrário de todas as outras cidades brasileiras, possui um traje próprio, uma cozinha própria e uma cor própria. Em nenhuma outra parte a rua mostra tanta variedade de cores como na Bahia, onde a população africana e a colonial antiga se conservaram sem grande modificação; sem cessar julgo estar vendo como quadros vivos as cenas do “Brazil Pittoresque” de Debret, todas aquelas coisas de outrora que já há muito tempo desapareceram das outras cidades grandes... Na Bahia podemos, num período de dez minutos, estar em dois, três ou quatro séculos diferentes, e todos eles parecem genuínos. O verdadeiro encanto da Bahia reside no fato de nela tudo ainda ser genuíno e não propositado...“ A Bahia, como todas as cidades da América do Sul que o escritor visitou, o bajulou o tempo todo, mas, também o amou. Os baianos se encantaram com a visita do afamado escritor e o seu carinho no retrato falado de nossa terra, e o homenagearam com um pequeno monumento - bronze em alto relevo - que ainda hoje pode ser apreciado na Barra. Stefan Zweigg suicidou-se em Petrópolis, faltaram-lhe, talvez, no seu retiro as cores da Bahia que um dia lhe iluminaram e gratificaram a alma.