A Rússia será uma boa anfitriã?

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  • Miro Palma

Publicado em 4 de outubro de 2017 às 04:10

- Atualizado há um ano

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Faltam exatos 252 dias para a Copa do Mundo de 2018, será que a Rússia está preparada para receber o evento? Não vou nem entrar no demérito da corrupção espalhada pelas construções dos estádios e equipamentos que serão utilizados nos dias de jogos. Afinal, o Brasil tem seu teto de vidro quanto a isso. Me pergunto se os russos, o povo, os donos da casa, estão preparados para os muitos visitantes que vão chegar com o início do Mundial e, como aquele tio solteirão, só vai embora quando a festa acabar.

Há uma semana, o jogador senegalês Sadio Mané, do Liverpool, foi hostilizado durante uma partida contra o Spartak de Moscou, pelo Grupo E da Liga dos Campeões. Torcedores do time russo imitavam sons de macaco toda vez que o jogador tocava na bola. Depois que Philippe Coutinho, colega de clube, fez um gol, Mané fez um sinal para que os torcedores parassem com os insultos. Não adiantou. Quando o inglês Daniel Sturridge o substituiu, também negro, ouviu os mesmos sons de macaco das arquibancadas.

Essa não é a primeira vez que a torcida russa demonstra essa triste postura. Os brasileiros Guilherme Marinato, Roberto Carlos e Hulk sabem bem disso. Os três já sofreram ofensas racistas em campo. Guilherme, naturalizado russo e goleiro do time Lokomotiv Moscou, foi o último a entrar nessa lista depois de ser chamado de macaco por parte da torcida do Spartak na final da Supercopa da Rússia, que aconteceu em julho deste ano.

E a coisa fica ainda pior fora de campo. No Portal Consular, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a recomendação para os brasileiros que querem viajar para a Rússia, grifada com uma tarja em amarelo, é de que devem “Viajar com grau moderado de cautela”. No tópico “Xenofobia e discriminação”, o MRE alerta que “Ataques contra minorias são uma dura realidade do país” e “casos de ‘skinheads’ e outras gangues organizadas podem ser mais graves”.

Sobre “Brigas e confrontos”, o ministério avisa: elas “podem envolver disparos de arma de fogo ou ataques com outros tipos de armas”. E “em alguns casos, cidadãos podem ser propositadamente drogados para serem roubados, assediados ou estuprados”. Calma, pois ainda não acabou. Para as mulheres, a orientação do MRE é “evitar andar sozinhas pelo país, especialmente durante a noite e/ou em áreas isoladas”.

Por lá, guias da cidade distribuídos em hotéis, aeroportos e pontos turísticos advertem, de acordo com matéria de O Globo: “evite atrair a atenção não falando alto em sua língua natal ou andando nas ruas se você bebeu. Se você é africano, árabe, descendente de asiáticos ou tem a pele escura, tenha cuidado, particularmente à noite”. Agora me diga, como um baiano apaixonado por futebol vai conseguir falar baixo para não atrair atenção? Esse é um tipo de comportamento que não condiz com a festa que uma Copa do Mundo promove.

Que a Rússia vá conseguir mudar esse comportamento deplorável de boa parte da sua população a tempo do início dos jogos, eu acho difícil. Apesar de recentes iniciativas do governo russo no combate ao racismo, esse é um traço social que, infelizmente, não muda tão fácil. Nós, por aqui, sabemos bem disso. Mas, talvez, a Fifa possa criar  critérios de seleção dos países-sede do Mundial que envolvam este tipo de questão. Afinal, não adianta fazer uma festa, se for para desrespeitar os convidados.

*Miro Palma é subeditor e escreve às quartas-feiras