A saúde em segundo lugar

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  • Nelson Cadena

Publicado em 2 de abril de 2021 às 05:25

- Atualizado há um ano

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A saúde não foi tão prioritária quanto deveria para o Rei Dom João III quando ordenou a fundação da Cidade do Salvador, através do Regimento de Almerim, nomeando Thomé de Souza para o cargo de Governador Geral do Brasil. Era prioritária apenas para os funcionários públicos mais graduados, incluindo o nosso Capitão, nenhuma preocupação com as populações que aqui encontraram e, se sabia, pela experiência de outras conquistas, mundo afora, que o colonizadores disseminavam doenças entre os colonizados.

Entre os mais de mil homens que vieram na comitiva de Thomé de Souza, apenas dois eram profissionais de saúde: o Dr. Jorge Valadares, nomeado Físico-Mor da cidade e o farmacêutico Diogo de Castro, nomeado Químico-Mor; ambos faziam parte do grupo que embarcou na caravela Conceição, a que transportava o governador. Se alguém, na nau, teve uma indisposição nos 57 dias de viagem, certamente que foram socorridos por Valadares e Castro.

Não foi o caso dos ocupantes das duas outras embarcações, desassistidas de um socorro médico em caso de emergência. As longas viagens transoceânicas predispunham as tripulações e passageiros à gastroenterites e ao escorbuto, pela falta de vitamina C no organismo. Não há registros, contudo, de que alguém tenha falecido, na travessia

O Dr. Valadares e o boticário Diogo de Castro foram colocados à serviço do Hospital da Cidade, da Santa Casa de Misericórdia, com ordenado pago pela Fazenda Real, que também cobria os custos de manutenção. Como faltava moeda corrente, nos primórdios da cidade, Jorge Valadares recebia seu ordenado de 2,4 mil reis mensais, parte em dinheiro, o resto em mantimentos.   

Em 1553, chegou em Salvador um novo funcionário da Santa Casa, ainda pago pelo governo, o Dr. Jorge Fernandez com o salário de 5 mil reis, mais do dobro de quem o precedeu. O melhor ordenado deve ter sido pelo fato de ser um médico diplomado e, também, por ser homem rico, e isso fazia a diferencia. Era um membro da elite. O contrato do Dr. Fernando era de três anos, mas, acho que imaginou ficar mais tempo, tanto que trouxe consigo mil cruzados em espécie.

Hábil com o bisturi, inábil na política, se envolveu na querela entre o bispo Fernandez Sardinha e o governador Duarte da Costa. Tomou partido, a favor do bispo. O governador o mandou prender e lhe tomou todos os bens. O médico ficou prestando serviços particulares, na tentativa de se reerguer. Foi preso, novamente, desta vez por ordem do bispo, acusado de herege, cristão novo. O desventurado Dr. Fernandez faleceu em Salvador, em 1567.

O Dr. Afonso Mendes foi o terceiro médico a aportar na cidade, com o cargo de Físico-Mor. As doenças que acometiam os europeus eram tratadas com purgas e sangrias e prevalecendo o isolamento, conceito secular arraigado que fez com que o Hospital da Santa Casa fosse edificado fora dos muros da cidade e não dentro. Os navios que transportavam colonos, funcionários públicos, ou escravos, traziam também as doenças e daí que o maior contingente de internados nos primeiros séculos da cidade, tenha sido justamente o público portuário.

Quando de nossa primeira grande epidemia, a de febre amarela, em 1686 (as anteriores de varíola que dizimaram aldeias indígenas não tiveram destaque na história), Salvador estava despreparada para um evento dessa gravidade. A solidariedade de particulares como Francisca de Sande que montou um hospital na sua casa, às suas custas, atenuou o problema.