A tecelã digital do futuro

Marcela Sabino quer tecnologias mais acessíveis na vida cotidiana

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  • Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 23:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

Pensar em moda como  o gatilho que dispara a entrada do futuro tecnológico na vida cotidiana não é coisa de super-roupas de filmes de ficção científica. Ao menos para Marcela Sabino, diretora do Laboratório de Atividades do Amanhã, do Museu do Amanhã (Rio de Janeiro), a moda, que já foi até traduzida como "a pele que escolhemos", oferece inúmeras possibilidades de inovação e conexão no dia a dia de quem passa longe dos grandes desfiles.

Marcela apresentou os resultados do programa Tecnologia na Moda durante o seminário Conexões, na última quarta-feira (27), no encerramento do Fórum Agenda Bahia 2017, e aproveitou para incentivar quem pensa em se arriscar em projetos novos.

"Não existe inovação sem erro, sem frustração. Mais do que mostrar os produtos que desenvolvemos, é importante exibir para as pessoas a história por trás da criação de cada coisa, as frustrações, a dinâmica de dar um passo para a frente e dois para trás. Só assim a gente inova, errando, corrigindo e avançando", acredita.

Tecnologia na Moda, contou Marcela, nasceu de uma inquietação sobre a indústria tradicional. "A gente se questionava sobre essa moda não sustentável, que não enxerga que as soluções de curto prazo afetam todos nós em longo prazo, inclusive a própria indústria", acrescenta.

O projeto foi realizado com alguns parceiros como a plataforma multicultural Cluster e a empresa de biotecnologia, Biotecan. A ideia era usar ferramentas tecnológicas durante o processo, como eletrônica, sensores, impressão em 3D, corte a laser e biotecidos para explorar uma nova forma de fazer moda, "mais responsiva, inclusive e sustentável", pontua Marcela Sabino. Marcela Sabino participou de um debate com Cybele Amado sobre a tecnologia e as novas conexões (Foto: Betto Jr./CORREIO) Corpo expandido 

Os resultados surpreenderam até mesmo o time de especialistas reunido para dar conta da iniciativa. Ao todo, enumera Marcela, foram selecionados 14 participantes - de 160 inscritos -, que se juntaram a quatro professores e especialistas parceiros do laboratório em áreas diversas como programação, biologia e artes plásticas.

"Foi um projeto de várias mãos, contribuições  e cooperação", diz  Marcela, que dá como exemplo da sinergia durante a pesquisa, a união de  estilistas com artistas que faziam origami, técnica japonesa de dobradura, para criar roupas  para cegos.

"O desafio foi desenvolver uma moda que promovesse bem estar, aumentasse nossas capacidades e solucionasse problemas com o equilíbrio de forma e funcionalidade", acrescenta a diretora.

Entre as experiências realizadas, ela destaca os biotecidos desenvolvidos a partir de micélio, um fungo, e da kombucha, um tipo de bebida com propriedades probióticas. "Queríamos criar protótipos funcionais. Além de pensar no aspecto cultural da moda, queríamos roupas que fizessem uma interface entre quem veste e o mundo", define Marcela Sabino, para quem a tecnologia tem várias possibilidades, desde desenvolver ferramentas que facilitam a vida a até mesmo contribuir para criar roupas que funcionem como sensores para monitorar a saúde de quem usa. "Já existem as tecnologias vestíveis, pulseiras que contam passos, sensores que ajudam  a corrigir a postura e nós criamos um colar com sensor de perigo", revelou.

Os pontos altos da palestra

*Conexões. O conhecimento de uma área pode ser conectado com o de outra para a produzir  inovação e soluções.

*Sintonia,  O Laboratório de Atividades do Amanhã reúne um time que inclui de engenheiros a programadores, de artistas a biólogos. Todos trabalham em sintonia, colaborando dentro de suas áreas de conhecimento.

*Sustentabilidade. Marcela acredita e defende que é preciso projetar um futuro mais sustentável para a indústria de alto consumo.

*Mochilas. O projeto Tecnologia na Moda desenvolveu um protótipo de mochila que serve também para recarregar o celular.

*Mistura.  Os modelos criados uniram design, funcionalidade, impressão 3D, corte a laser, biotecidos e sensores para criar roupas futuristas, mas com usos úteis.

*Interação.  A ideia de Marcela Sabino é que as roupas sejam mais do que cultura e identidade, que elas também façam a interface entre quem veste e o ambiente, conectando as pessoas umas com as outras.

*Colar.  Um colar anti pânico foi criado pelo projeto Tecnologia da Moda para servir de alerta em situações de perigo. Um sensor no acessório faz com que em uma situação extrema, a pessoa toque o colar e um SMS seja enviado para cinco pessoas de confiança.

*Parcerias. O Laboratório do Amanhã tem parcerias com o MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Estados Unidos), referência mundial em desenvolvimento de novas tecnologias.