A teimosia da juventude e a (o) Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Michele foi morar em São Paulo (ela não teve culpa, coitada!) e, quando o calendário apontou três duelos quase consecutivos entre os tricolores de cá e de lá, ainda foi obrigada a ouvir pilhéria do estagiário.

Todo cheio de si e com a confiança em rotação máxima, o jovem tratou logo de chamar a baiana pra debaixo de uma aposta. Se soubesse o que ensina a sapiência impregnada nos becos da Bahia, a própria consciência poderia lhe salvar, lembrando: “teime, teime e teime, mas nunca aposte”.

Mas o que é a juventude se não um arroubo em forma de gente? Michele até tentou driblar a aposta, mas o cara, um tanto febril pelo jogo e pelo tricolor paulista, não arredou pé: “Tá valendo um almoço!”. Então tá.

Veio a primeira partida, com aquele sol arrogante das 11h num Morumbi inóspito, com o agravante de que não dá pra sair do estádio direto pra Rua K ou Piatã.

Michele estava lá, postando nas redes ao lado do amigo Wesley, tricolor cobra criada do Engenho Velho. Pra quem já ficou na Bamor na velha Fonte, o sol foi o de menos. O que causou revolta mesmo foi ver o jogo sentado - do ponto de vista fisiológico, zero a zero foi até bom, pra ninguém se desgastar gritando gol.

O placar em branco serviu também para acalmar os ânimos na firma. Na segunda-feira, cada um com sua marmita e segue o jogo, porque, ninguém duvide, a marmita é o que  salvará o mundo.

Mas aí veio o segundo duelo, já pela Copa do Brasil. Desta feita, Michele não foi ao Morumbi, porque, em suas palavras, “aquela porra é muito longe”. Mas, claro, vibrou duplamente com a vitória do Bahia, pelo resultado em campo e pelo conforto de não ter que se preocupar com o almoço do dia seguinte. Qual o quê?

Liso que nem quiabo, o estagiário logo transformou a aposta de jogo a jogo num combo de partidas. Ou seja, o vencedor só seria conhecido após aferição dos três confrontos. Em resumo, deu o famoso migué, talvez acreditando numa reviravolta em Salvador, o que, como se sabe, não passou de vã esperança.

Michele reconhece que ficou meio ressabiada com a partida de volta, nem tanto porque o Bahia deixaria de ganhar uma bolada sem a classificação às quartas de final e sim porque, neste caso, ela é que gastaria uma bolada pra alimentar o jovem Pedrinho. “Esse menino come demais. Ia ser um prejuízo no quilo!”.

Tal temor não se justificaria, porque o São Paulo pouco incomodou na Fonte Nova. Incomodado mesmo ficou o estagiário. No dia seguinte, chegou na firma de bico, contando que nem viu o final do jogo – após o gol do tricolor baiano, mudou de canal e foi ver o Fortaleza, treinado pelo ídolo Rogério Ceni, jogando a final da Copa do Nordeste. Mérito do Bahia, que ganhou em campo e ainda alavancou a audiência da Lampions.  

“Sim, mas e o almoço?”, eu quis saber, curioso depois de ouvir toda essa história durante nossa reunião virtual. “Deixei pra lá! O menino ganha pouco e já tava muito triste”, disse Michele.

Donde podemos concluir que a generosidade baiana – junto com as marmitas – é o que salvará o mundo.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.