A tela no lugar do divã: as terapias online durante a pandemia

Psicólogos e pacientes tiveram que se adaptar ao modelo de consulta virtual

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  • Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O acompanhamento psicológico se baseia na relação entre o paciente e o analista, quase sempre num consultório. Mas, assim como está acontecendo em outras áreas, a necessidade de isolamento social está reconfigurando as sessões de análise e terapia. E levando-as para o universo virtual.

Para quem já estava frequentando um consultório, é importante que, dentro dos limites financeiros e de convivência, se mantenha conectado com seu psicólogo durante a quarentena. “É importantíssimo a continuidade do atendimento agora. É uma situação inédita e cada pessoa terá uma forma de diferente de enfrentar. Nesse sentido, os psicólogos ajudam com as subjetividades de cada um, a entender o que está acontecendo”, afirma a psicóloga Fernanda Burgos.

O psicólogo Marcelo Braz já avaliava a possibilidade de realizar  atendimentos virtuais antes da pandemia. Ele está de mudança para Florianópolis e já pensava de que forma manteria o contato com seus pacientes daqui: “Tinha que resolver como faria com os pacientes que não passei para um outro analista e que tinham uma relação mais forte comigo. Fiz um acordo de que, para alguns, a cada três meses viria a Salvador para uma consulta”, detalha Marcelo. O psicólogo Marcelo Braz tem passado a quarentena em Salvador e mantido a rotina de atendimento dos seus pacientes (Foto: Divulgação) Mas com o início da quarentena, ele retornou à capital baiana e a única alternativa, de fato, foi a online. Marcelo  destaca a importância de  elementos  como o “olhar presente e a voz”, afinal, para reforça, a figura do terapeuta existe tanto no virtual quanto no presencial, mas de formas diferentes.

A adaptação para uma nova versão do atendimento psicológico não é simples. Isabela Fontana, 20 anos, conta que nas duas primeiras semanas ficou sem o acompanhamento - que acontece semanalmente há dois anos. Até que sua psicóloga organizou a rotina e a forma de atendimento.

“No início eu não achei que fosse acontecer esse atendimento à distância. Depois, foi tudo adaptado e a gente mantém contato sempre no mesmo período que fazíamos presencialmente”, explica a estudante de arquitetura, que tem feito as consultas por ligação telefônica.

A também estudante Milla Lopes, 21, enxerga como positiva a relação virtual que está mantendo na quarentena. Junto com a sua psicóloga, ela conseguiu organizar horários que se encaixem na sua nova rotina, que envolve as aulas da faculdade, também online.

Isabela e Milla acham que as sessões em casa não são tão confortáveis quanto as visitas nos tradicionais consultórios. “A coisa boa de ser presencial é que acontece em um local seguro e exclusivo, só eu e ela”, avalia Milla, que fez um trato com os familiares. Nos 50 minutos da sessão, eles devem manter distância.

O “olho no olho” também faz falta para Isabela, que valoriza muito o momento das  consultas. “Antes tinham outros elementos na semana, como um exercício físico ou um passeio fora de casa. E agora não temos mais isso”, completa.

Conforto Segundo os especialistas, o ideal é que o ambiente da consulta se mantenha o mais confortável possível, em um local da casa onde o paciente se sinta bem e possa ter acesso à internet. É o que Fernanda Burgos tenta fazer durante as sessões da clínica que é sócia, que tem como público alvo crianças e adolescentes. No caso das crianças, ela diz que  é preciso também “transformar o ambiente para que ele seja mais lúdico”.

Entre os assunto mais debatidos durante as sessões, claro, estão os reflexos do nosso momento atual. Daí a importância de não interromper a relação e de externar as angústias causadas pelo isolamento e as incertezas que ainda estão na nossa frente. Marcelo lembra que, em situações de medo como essa, muitas pessoas acabam trocando a sensação de impossibilidade pela de impotência, o que potencializa ações mais complexas dentro de cada um.

“O medo amplia porque o vírus não é algo palpável e isso toca no narcisismo de cada um. Uns lidam com a impossibilidade, que é entender o que está acontecendo e saber que, por enquanto, não há o que fazer. Já outros vêm como impotência, de o tempo todo acreditarem que algo pode ser feito e muitos podem acabar se expondo ao vírus por isso”, avalia Braz.

Os psicólogos alertam que é importante cuidar do corpo sim, mas não devemos negligenciar nossa mente.

*com orientação da editora Ana Cristina Pereira