A verdade é que os nossos afetos nunca chegam sozinhos

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Publicado em 9 de novembro de 2018 às 13:35

- Atualizado há um ano

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Alguém disse "Seja uma pessoa boa, mas não perca tempo provando isso.”   Na linguagem do amor essa citação faz todo o sentido. Quem tenta provar que é merecedor de afeto, raramente consegue ser amado. Parece óbvio, mas não é!   O nosso desejo de amar, de ser amado, de viver um romance arrebatador, muitas vezes bloqueia a visão de quem somos e, principalmente, sobre quem o outro é.   A verdade é que os nossos afetos nunca chegam sozinhos. Eles costumam vir acompanhados dos seus agregados, quando não são os filhos de outros relacionamentos, o cachorro ou a nova planta da sala, são as carências, os sonhos e as idealizações. Por vezes todos juntos. Os filhos a gente ama, o cachorro a gente acolhe, a planta a gente rega, mas as projeções nem sempre são fáceis de administrar. No começo tudo é lindo! “Ela tinha os olhos cor de mar que ele sempre gostou. Ele tinha o abraço protetor que ela nunca encontrou”.    “Foram feitos um para o outro”, pensava ele.  “Pertenciam-se”, acreditava ela.    Mas na dança da vida nem sempre estamos cadenciando os mesmos passos e ouvindo os mesmos ritmos. Essa descoberta revela então: um deles não amava na mesma medida. Não era tão legal quanto parecia. E não se importava tanto quanto se imaginava.   Assim surge uma nova realidade. Brota no calendário um novo marco da relação: o dia do abandono. Ele não será celebrado, tampouco lembrado com carinho, mas selará uma nova etapa da vida. A casa passará a acolher apenas um deles. A outra xícara não terá mais a marca do batom dela. O travesseiro não afagará mais a barba dele. Um dos molhos da chave da casa não fará mais companhia para o outro.   As conversas foram trocadas pelos ruídos de um coração apertado. A dor do abandono é descoberta. Uma angústia que não pode ser explicada. É composta de um vazio que amarela o riso, avermelha os olhos e acinzenta a alma. Dói de um jeito que parece eterno. Dói de um jeito que não quer conversa com mais ninguém. Dói!   O tempo passa e a dor está lá. Ocupando os cômodos da casa para a qual não se quer voltar. Até que um dia a dor começa a se despedir. Ficará, por um algum tempo, apenas o vazio.   Mas apesar da dor, aprendemos a importância do vazio. Sem ele não podemos dar lugar a novos sentimentos. Não podemos acolher a nós mesmos, ao que sobrou e ao que renasceu depois da tempestade. Se formos alunos inteligentes emocionalmente teremos aprendido com a dor sobre a importância do amor próprio. Não ficaremos buscando um amor novo e perfeito. Compreenderemos que boas pessoas, em primeiro lugar, precisam ser ótimas para si mesmas, e que o perfume da autoconfiança é a melhor fragrância de todas.   E caso surja um novo amor, ele poderá ser de fato novo! O ciclo não se repetirá com a “mesma pessoa” em um outro rosto. Será de fato uma nova pessoa em um novo rosto. Acima de tudo escolheremos uma pessoa que saiba amar e ser amada. Uma pessoa que não roubará nossas cores, mas que compartilhará conosco os seus melhores matizes.    Lígia Guerra é psicanalista, escritora e palestrante, autora do livro Amor Sustentável (Editora Sextante)

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