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Abelhas sem ferrão para ampliar biodiversidade em Salvador


 

Projeto Doce _SSA faz parceria com Prefeitura Municipal para implantação de meliponários nas hortas urbanas espalhadas na capital

  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 20/01/2019 às 07:00:00
Atualizado em 05/05/2023 às 18:46:06
. Crédito: Divulgação

Até o final deste ano, Salvador vai contar com meliponários nas 22 hortas urbanas da cidade, além de um terraço de criação de abelhas sem ferrão na nova sede da Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (SECIS), no bairro do Comércio. Para quem não sabe, mais que produzir mel e própolis, as abelhas são responsáveis por fazer a polinização de diversas plantas importantes para o consumo humano, a exemplo de pinha, melão e pêssego entre outras. 

A ideia de implantar meliponários na cidade surgiu com o arquiteto George Almeida que, em dezembro de 2018, durante a realização da edição baiana da Virada Sustentável, apresentou o Laboratório Vivente das Abelhas no Parque da Cidade, ofertando ao público uma série de atividades voltadas para o compartilhamento de experiências com esses animais, a exemplo da degustação do mel extraído diretamente das colmeias.

“A Virada foi a madrinha desse projeto e agora partimos para mobilizar recursos e agentes que possam colaborar com essa proposta, que visa promover o desenvolvimento sustentável por meio da educação ambiental, em áreas verdes urbanas, ancorado em três vertentes: educação, entretenimento e diálogo”, esclarece George.

De acordo com o secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, André Fraga, o Poder Público Municipal apoia a iniciativa e a escolha de começar com essa proposta pelas hortas vem justamente aproveitar o engajamento das comunidades onde esses equipamentos estão implantados.

“Estamos conversando com as cooperativas e os criadores de abelhas sem ferrão. Nossa proposta é fechar esse ciclo ambiental, que começa nas hortas e pomares e tem nas abelhas uma ferramenta ecológica de polinização”, completa o representante da Prefeitura.

Embora ainda não tenha uma data definida para início da implantação do projeto, a expectativa é a de que Salvador possa, dentro de pouquíssimo tempo, ampliar sua biodiversidade, além de oferecer uma fonte de renda e de terapia para as comunidades que adotarem as colmeias de abelhas sem ferrão. As abelhas sem ferrão constróem suas casas dentro de troncos ocos de árvores, mas também podem viver em pequenas caixas de madeira (Foto: Divulgação) Bioarquitetura  Inquieto e insatisfeito com um modelo de arquitetura tradicional, George Almeida sempre pensou numa arquitetura para além do aspecto comercial ou estético. “Sempre achei que poderia pensar em algo que fosse propositivo para a Cidade”, diz o idealizador do projeto.

Ele recorreu a uma experiência vivida na Itália, onde uma instalação arquitetônica comportava numa distância segura do público visitante, a presença de colmeias de abelhas com ferrão para mostrar a importância desses insetos na polinização e manutenção dos ecossistemas naturais e agrícolas. Nascia então o projeto Doce_SSA.

Para Almeida, o Doce_SSA possibilita ver a arquitetura como instrumento de transmissão de uma mensagem ética de cuidado com o ambiente, servindo de palco para o habitat efetivo, numa relação equilibrada entre natureza e o equipamento construído. 

Maliponíneos

Segundo a bióloga Carola Lima, no Brasil há uma grande variedade de abelhas sem ferrão, conhecidas como meliponíneos.

“Os tamanhos desses insetos variam de 0,2 a 2 centímetros e os mais conhecidos são das espécies Uruçu, Jataí, Arapuá e Tiúba”, diz.

Das 300 espécies brasileiras, 60 são encontradas na Bahia. Elas montam suas moradias dentro de árvores ocas ou ainda em cupinzeiros e locais mais altos. Nas cidades, elas são criadas em caixas pequenas, e não ocupam muito espaço.

“Elas podem ser criadas racionalmente em qualquer lugar e por qualquer pessoa: alérgicos, crianças e idosos. No geral os cuidados são poucos, no manejo é preciso ter cuidado com a manipulação dos discos de cria, pois são muito sensíveis. Devem obrigatoriamente ter sombra e não oferecem nenhum risco para humanos ou animais domésticos”, completa a bióloga. 

Carola ressalta que o tamanho da população influencia na produção de mel. “(Uma colmeia da ) A  abelha Uruçu (Melipona scutelaris), com cerca de 4 mil indivíduos, produzem de 1 a 10 litros por ano. Já a Apis melífera, por possuir de 50 a 70 mil indivíduos, chega a produzir de 10 a 80 litros no ano”, completa.

Para ela, a implantação de meliponários na cidade é completamente viável, visto que esses insetos não causam nenhum malefício para humanos e animais domésticos, ajudam a potencializar a qualidade e a produção em hortas e pomares, além de contribuírem para o aumento da biodiversidade através da polinização.

“As abelhas são de vital importância para conservação ambiental e produção de alimentos no mundo”, finaliza.