Ação de grafitagem ocupa espaço cultural no Subúrbio

A atividade integra a programação do Festival da  Cidade, em celebração aos 470 anos de Salvador

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  • Luan Santos

Publicado em 23 de março de 2019 às 14:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor

Com um olhar tímido e curioso, a pequena Beatriz Sales, de 10 anos, olhava  atenciosa para o colorido que dava forma às paredes da escola modelo  Subúrbio 360, localizada em Coutos, na manhã deste sábado (23). Por lá,  quem comandava os trabalhos era o grafiteiro Bigode, que, ao lado de  outros artistas do estado e da própria região do Subúrbio, levaram a  grafitagem para a comunidade. A ação foi organizada pelo Espaço Boca de  Brasa da escola, projeto da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

Ao ver os desenhos ganhando forma, Beatriz ficava encantada e queria,  também, dar sua contribuição. Ao lado do pai, o motorista Anderson Sales,  32 anos, ela foi até o mural e conversou com Bigode. Pediu para incluir um  tom mais alaranjado na roupa da menina que o grafiteiro desenhava. "Eu  disse a ele que ficou mais bonito", disse, aos risos. 

Além de Beatriz, outras crianças, jovens, adultos e idosos participaram da  atividade no Subúrbio 360, que integra a programação do Festival da  Cidade, que ocorre em alusão aos 470 anos de Salvador e e prossegue até o  dia 31 com 60 atividades artísticas, culturais, esportivas e de lazer em 20  pontos da cidade. 

Outras ações marcaram a manhã no Subúrbio 360. Além da grafitagem, o  dia teve atividades de artes marciais, teatro e música. Na tarde deste sábado,  as ações serão realizadas no Espaço Cultural Boca de Brasa que fica no  Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), em Valéria. A grafitagem fica  com os sprays de Lee27. 

Beatriz e Anderson foram em família para ver a arte do grafite e as demais  atividades realizadas no espaço. O Subúrbio 360, diga-se de passagem, faz  parte da rotina dos quatro integrantes da família - a dona de casa Meire  Rose, 32 anos, e a filha mais velha do casal, Bianca, de 11 anos. 

Meire faz pilates no local e Bianca faz aulas de vôlei e jiu jitsu. Beatriz, por  sua vez, estuda em uma escola municipal pela manhã e, à tarde, vai ao  Subúrbio 360 para atividades na Escolab, projeto feito por meio de parceria  entre a Secretaria Municipal da Educação, Google e a SmartLab. Só  Anderson que ainda não faz nenhuma atividade, embora acompanhe a  esposa e as filhas. 

"A gente vai ficando sedentário", disse, sorrindo. "A comunidade se reúne  aqui. Tem atividade para todo mundo", completa Meire, enquanto Bianca  conta encantada sobre as aulas. "A gente já teve aula de grafite, faço vôlei e  jiu jitsu e gosto das demais", disse. 

Beatriz diz não ter preferência. "Gosto de tudo. A gente brinca bastante. Já  aprendi grafite e quero fazer meu próprio desenho um dia", diz. 

Para Bigode, o grafite vem ganhando cada vez mais espaço nas escolas em Salvador. "É uma linguagem que dialoga com eles, com o que eles trazem da realidade deles. A inspiração vem dessa realidade. As crianças, os jovens, não querem mais só paredes pintadas de cinza quando, na rua, eles veem cores", diz. 

Já Grafi, artista local que também participou da ação, diz que a arte é parte do desenvolvimento das crianças. "Isso que estamos fazendo aqui deve ser ampliado. Na arte, a criança traz a realidade dela", afirma. 

Edital O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, anunciou, no Subúrbio, o  lançamento da quinta edição do edital Arte Todo Dia, projeto voltado para  apoiar as produções nas comunidades de Salvador. O investimento será de  R$ 750 mil no total. Serão selecionados 30 projetos, que receberão R$ 25  mil cada um. 

"Sendo que cada projeto deve ter pelo menos 80% de seus integrantes da comunidade. Queremos pelo menos três projetos de cada prefeitura bairro. O objetivo é que todas as regiões da cidade sejam contempladas", afirmou.

Segundo Guerreiro, o Boca de Brasa terá ao longo do ano três oficinas: Teatro, com foco na dança; cinema e TV; e música - do tambor ao computador. As inscrições para as oficinas estão abertas até o próximo dia 5 de abril, mês em que as atividades serão iniciadas. 

O gerente dos espaços culturais da FGM, Chicco Assis, ressalta que a proposta do Boca de Brasa é fortalecer a produção local. "Sempre focamos em pensar formas para potencializar aquilo que vem sendo produzido nas comunidades, dialogar com esta produção. 

O professor de música Nairo Elo diz que a proposta das oficinas é audaciosa: fazer com que os participantes aprendam conteúdos teóricos e práticos de música e, após as aulas, possam fazer suas próprias produções musicais. "Começamos pelos ritmos, leitura de partituras, apresentamos os softwares", conta. 

Já a professora de teatro Zeca de Abreu afirma que pretende trabalhar as relações dos participantes e quer a presença da família nas oficinas. "Como eles se veem, seus desejos, suas histórias. Queremos trazer isso para cá, fazer questionamentos, de onde eles vêm, o que querem transformar", diz. 

Por sua vez, a professora de cinema e TV Dayane Sena revela que pretende incentivar produções sobre as localidades dos alunos. "Eles terão conceitos de produção audiovisual, roteiro, captação de recursos, editais. O foco vai ser na comunidade, numa perspectiva mais positiva, com criatividade", afirma.