'Achei que era o fim do mundo', diz moradora da Boca do Rio sobre vendaval

Após ventania, quatro casas tiveram os telhados demolidos pela prefeitura

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  • Nilson Marinho

Publicado em 31 de maio de 2018 às 16:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO Se a humanidade foi praticamente exterminada pela primeira vez com um dilúvio – está no Velho Testamento –, dessa vez a responsável por tentar conseguir tal feito, ao menos para alguns moradores da Boca do Rio, em Salvador, seria a força dos ventos. Exageros à parte, teve gente que achou que o aparente fim do mundo, nessa quarta-feira (30), tinha como epicentro o final de linha do bairro. Para ser mais preciso, entre as ruas da Tranquilidade e a Narciso das Neves.

Era finalzinho da manhã e o tempo não estava dos melhores. De repente, um vendaval chegou e foi levando tudo o que estava pela frente. Em segundos, barracas, toldos e telhados foram lançados a vários metros de distância. Moradores e comerciantes não sabiam de onde o 'furacão' vinha, e nem para onde ia, e se agarraram às forças superiores: “Deus é mais! (…) Tô com medo”, dizia uma moça. “Tá brincando com as coisas de Deus?”, comentou um rapaz, num vídeo, enquanto a ventania bagunçada tudo.

Os ventos foram responsáveis por destelhar oito residências nas ruas da Tranquilidade e Narciso Neves. Quatro delas tiveram que ter a cobertura demolida pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) logo após o incidente, pois as estruturas corriam o risco de desabar. 

Fim dos tempos A doméstica Marta dos Santos, 50, estava na sala de estar quando o vento começou a agitar a cumieira da casa. Sem saber o que acontecia, protegeu o cachorro e, pela janela de residência, viu um sombreiro, sacos, panos e pedaços de telhas no ar."Eu fechei a janela, tomei um susto. Fazia muito barulho e tinham panos pretos e urubus voando. Eu imaginei muitas coisas, achei que era o fim do mundo, né? O apocalipse!", conta Marta. [[publicidade]]

Prejuízos Na casa da doméstica, o prejuízo foi relativamente pequeno. Apenas duas telhas foram arrancadas. Mas vizinhos tiveram prejuízos bem maiores, como o comerciante Carlito Cerqueira, 79, que teve todo o telhado do terceiro andar da sua residência destruído pela força dos ventos. 

"Eu estava almoçando, na sala, quando, do nada, ouvi o barulho forte. Fiquei sem saber o que estava acontecendo. O vento arrancou isso tudo aí", conta o comerciante, apontando para o que restou do telhado de fibrocimento. Todo o suporte de alvenaria do terceiro andar também foi arrancado. Carlito Cerqueira, de azul, ainda avalia o tamanho do prejuízo (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) "Isso é madeira boa, resistente, de massaranduba, só para ter uma ideia de como foi forte", completa, sem saber estimar ainda o valor total do que foi perdido. 

Notificação Carlito, assim como outros moradores, receberam da Codesal uma notificação alertando sobre os riscos que os telhados, já destruídos, traziam aos moradores.

A notificação alertava: "Fica notificado a proceder a contratação de um profissional credenciado e habilitado pelo CREA, para realizar as intervenções pertinentes para fins de recuperação dos imóveis. Mantendo o mesmo evacuado até que seja sanado o risco de desabamento do telhado".

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A secretária Conceição Silva, 57, também recebeu a mesma notificação do órgão. A sua área de serviço, localizada no segundo piso da casa, ficou completamente destruída. Um prejuízo de mais de R$ 4 mil, calculou ela. 

Conceição estava no trabalho quando ficou sabendo, por telefone, que os ventos também tinham feito uma visita a sua residência. Ao chegar na rua, o susto: "Pensei que tivesse acontecido uma tragédia porque toda a equipe da Codesal estava aqui. Aos poucos fui me acalmando. Eu estava muito preocupada com meu filho e a minha jabuti Julieta, que costuma ficar do lado de fora da casa", contou. 

Balanço Durante esta quarta (30), a Codesal tinha registrado até o final da tarde 49 ocorrências. Destas, 22 foram ameaças de desabamento, cinco ameaças de deslizamentos, três deslizamentos de terra, quatro orientações técnicas, uma árvore ameaçando cair, três avaliações de imóveis alagados, dois desabamentos parciais, três destelhamentos, três alagamentos de imóveis e três infiltrações. Não houve registro de pessoas feridas.

*Sob a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro.