Ácido, crítico e divertido : Yuri Marçal ganha especial na Netflix

Carioca é o primeiro humorista negro na América Latina com programa do tipo na plataforma

Publicado em 3 de junho de 2022 às 06:37

- Atualizado há 10 meses

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. por Foto: Thiago Jesus/Divulgação

Yuri Marçal se permitiu sonhar, mas nem mesmo seus sonhos davam conta da realidade que já se materializou bem em frente aos próprios olhos: o rapaz da Zona Norte carioca, hoje com 28 anos, se tornou o primeiro humorista negro da América Latina a ter um especial na Netflix. Com Ledo Engano, que estreou na quinta-feira (2) na plataforma de streaming, Yuri faz um apanhado da carreira, consolidada nos últimos seis anos. 

 O especial começa provocativo com um discurso ao som de um beat do rapper Djonga, da música Ladrão. A mãe de Yuri faz um discurso emocionado, falando sobre o valor do preto, até arrematar que o preto que tem mais valor é seu filho. As cortinas se abrem, a voz de Djonga sobe: ‘abram alas pro Rei’. Questionado se imaginava ser essa realeza quando iniciou a carreira, Yuri arremata: “de forma alguma”.

 “Nem pensava muito sobre isso. É uma consequência do trabalho bem feito, do talento e eu fico muito feliz, honrado que seja eu e que isso seja um ponto de partida para outros e para mais especiais meus. Cara, é importante demais, mas tem que ser natural. Nós temos humoristas, homens e mulheres, aqui no Brasil, que são excelentes e tem que estar mesmo nas plataformas, com show lotado, trabalhando”, afirma. 

 No especial, ele fala bastante de histórias com sua família: a antiga homofobia da mãe, o medo de cortar o cordão umbilical do filho de forma errada e o próprio crescimento do garoto, Ícaro, de 6 anos; e sua relação com o candomblé.

 “É um material meio que antigo, entre 2017 e 2019. Estou na expectativa de boas risadas e ver esse lado meu solo, ácido também. Espero que tenha muitas visualizações e um feedback positivo. Tem tanto tempo que estou trabalhando nesse projeto, pensando em cada linha, piada. Vai ser polêmico”, cutuca.

Ator de formação, Yuri conta que as ideias para suas piadas vêm do cotidiano. “Normalmente as piadas surgem em minha cabeça quando estou ou totalmente sozinho, tomando banho, na hora de dormir, andando na rua, correndo ou quando eu estou conversando. Anoto e começo a desenvolver a ideia, histórias para a determinada situação”, explica.

 Yuri tira sarro de suas próprias dores e vivências e faz piadas para pautar discussões sérias sobre igualdade e respeito na sociedade. Em uma cena de Ledo Engano, ele narra, de um jeito muito engraçado, a reação de pessoas brancas na praia de Búzios (RJ) quando ele chega na areia. Uns viram a cara e outros protegem a sandália: “A gente rouba uma coisa que a gente não tem, sandália eu tenho, né?”, ironiza.    

 “Para mim é como é para todos, dentro das suas peculiaridades. Mas é como ser um médico, porteiro, recepcionista preto. Só que dentro da comédia eu tenho uma voz e levo essas narrativas para o palco, porque, infelizmente, também pertencem ao meu cotidiano”, pontuou.

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Muitas viagens

 Vivendo uma ótima fase e cheio de projetos, Yuri se apresentou no Theatro Municipal no último domingo, lotando o maior palco carioca - pouco afeito à comédias. Yuri também está em cartaz no cinema com o filme Vale Night - onde faz  par romântico com a atriz Lin da Quebrada - e protagonizou Mussum - O Films, onde interpreta o comediante na fase jovem.

 Além da visibilidade, ele diz que outro prazer que o trabalho lhe proporciona são as viagens. “Sai do país pela primeira vez por conta do trabalho para gravar uma série. O lance da viagem é o que mais me alegra e o lado ator de poder viver pessoas, que sempre vai ser um presente”.

O humorista se apresentou duas vezes em Salvador: em 2018, no Teatro Jorge Amado, quando precisou abrir sessão extra, e quatro anos depois. “A Bahia é boa demais. Como pode, né? Ontem numa live falei que as duas vezes que fui a Salvador, sai apaixonado. O público de Salvador e o de BH são as melhores plateias do Brasil porque têm as melhores pessoas. A forma de rir é diferente, de aplaudir é diferente, de comemorar as mensagens que a gente passa. Salvador virou um caso de amor mesmo”, disse.