ACM Neto: ‘Não podemos ficar entre dois extremos’

Prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM espera que o país supere polarização entre esquerda e direita

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 21:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr.
ACM Neto, prefeito de Salvador por Betto Jr.

A disputa eleitoral deste ano está longe da  definição, acredita o prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto. Enquanto alguns consideram a campanha em sua reta final, o líder político lembra que o período para a escolha dos governantes este ano é mais curto e com menos tempo para a apresentação das propostas. Em entrevista exclusiva para o CORREIO, o prefeito falou sobre as expectativas em relação aos candidatos apoiados pelo DEM, a disputa do segundo turno e sobre o trabalho para conciliar a rotina como gestor da capital baiana e de um partido político em período eleitoral. 

Como o senhor está vendo essa reta final da campanha neste ano?

Primeiro que eu não acho que estejamos na reta final de campanha ainda. Faltam 18 dias para as eleições, mas esta foi uma campanha que começou tarde demais, foi muito mais curta e só está aquecendo agora. Tenho andado nas ruas, na capital e no interior, e tenho visto que só agora as pessoas começam a entrar no clima de campanha. Parece um pouco com Copa do Mundo. Vai chegando perto e as pessoas dizem ‘o Brasil não está no clima da Copa’, mas quando chega, todo mundo entra no clima. Nós estamos mais ou menos neste momento. Por isso, eu acho que muita coisa ainda pode acontecer até o dia 7 de outubro, seja no plano federal ou no plano estadual. Até aqui a eleição está marcada pela prisão (do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e a facada (no candidato pelo PSL, Jair Bolsonaro). 

O que o senhor acredita que dá para fazer em 18 dias?

A propaganda tradicional ficou meio escondida para o eleitor, há uma poluição de campanha muito grande. E o noticiário, que tem maior relevância, ficou concentrado nesses dois episódios (a prisão e a facada). Agora, as coisas voltam ao seu equilíbrio. E veja que ontem a declaração do economista Paulo Guedes, que é o chefe da área econômica da equipe de Bolsonaro, permitiu que pela primeira vez durante toda essa campanha se discutisse um elemento da proposta econômica de Bolsonaro – justamente a ideia de recriar a CPMF (tributo que era cobrado sobre movimentações financeiras), algo que é rechaçado pela classe média, onde está o eleitor de Bolsonaro. Aí, por exemplo, existe uma janela para se explorar uma contradição. Há espaço para mostrar que em 30 anos de vida pública, ele não teve a capacidade de aprovar um projeto relevante para o Brasil. Nós não sabemos quais são as propostas dele para educação, saúde, segurança e a economia. 

O candidato teve que desautorizar o economista.

E ele (Bolsonaro) já disse que não entende nada de economia, que é o Paulo Guedes quem vai mandar nessa área. Esse é o  tipo de risco que não podemos correr. Agora é hora de deixar a emoção de lado e pensar no que é necessário para enfrentar os grandes problemas do país. Não podemos entrar em mais uma aventura. A campanha de Geraldo Alckmin mostra que Bolsonaro é um tiro no escuro e o PT é a volta à escuridão. De certa maneira, o impeachment (de Dilma Rousseff) ajudou o PT a limpar um pouco a sua barra, em função do desastre que é o governo (do presidente Michel Temer). E parte da população esqueceu que os graves problemas vividos hoje foram criados pelo PT.

E aqui na Bahia?

Aqui, nós começamos a campanha com um candidato muito desconhecido. Nós sabíamos disso, que Zé Ronaldo (DEM) tem amplo conhecimento em Feira de Santana e região, mas era desconhecido no restante do estado. A partir de agora é que as pessoas estão começando a prestar atenção ao programa de televisão. Eu não tenho dúvidas de que ele está crescendo. À medida em que a campanha avança, ele vem sendo cada vez mais reconhecido. Esse número que aparece na pesquisa (Ibope/TV Bahia), é um número com o qual eu não concordo. Nós entramos com um pedido de auditoria na pesquisa.

O questionamento é em relação ao resultado, que coloca o candidato Rui Costa (PT) em primeiro lugar, ou em relação aos números?

Sabemos que Rui ainda está na frente de Zé Ronaldo, mas nós temos a convicção de que os números são menores, em função do crescimento de Zé Ronaldo. Aí, quando fomos examinar a pesquisa tem coisas que não encaixam. A principal é o resultado em Salvador. Dá zero para ele na espontânea e ele fica atrás do candidato Orlando Andrade do PCO na estimulada. 

Qual é o caminho para Zé Ronaldo?

Nossa estratégia é continuar com uma agenda intensa de eventos. Agora, vamos nos dividir. Em um mesmo dia, Zé Ronaldo estará numa região da Bahia e eu em outra. Intensificamos a agenda aqui em Salvador, inclusive com a minha presença. Tenho feito eventos, mesmo sem a presença dele. No interior, estamos ativando as nossas lideranças, para levar a campanha para as ruas. Uma campanha fria só favorece a quem está no mandato. Então, coube a nós esquentar a campanha. Esta semana, realizei um evento com multiplicadores, que reuniu duas mil pessoas, pedindo empenho e trabalho. O fato de eu me dividir com ele na campanha pelo interior vai permitir que tenhamos mais visibilidade.

Como o senhor recebe a crítica do governador, de que estaria mais preocupado com política do que com a gestão da prefeitura?

Todo mundo entende que eu sou um agente político, nós estamos a pouco mais de duas semanas da eleição e que é legítimo que eu me envolva neste processo. É natural. Eu tenho sacrificado meus finais de semana, qualquer tempo livre, para conciliar as atribuições de presidente do partido e de prefeito da cidade. Não há nenhum prejuízo à dinâmica da prefeitura. Quem acompanha minha agenda vê que estou todos os dias nas ruas inaugurando obras, lançando projetos. Agora, o governador mostra o seu espírito pouco democrático. 

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Como o senhor viu a declaração dele a respeito do Centro de Convenções, de que haveria uma conversa entre vocês sobre o assunto e que ele soube pela imprensa do projeto municipal?

O governador está mentindo. Além disso, mostra que é invejoso e a incompetência do seu governo. Antes de fechar o Centro de Convenções da Bahia (CCB), a Sucom mostrou que ele não tinha mais condições de funcionar. Não quis transformar isso em debate político. Eu pedi que fosse tratado tecnicamente, para que o próprio governo tivesse a iniciativa de fechar. Ele fechou, enterrou R$ 60 milhões na tentativa de reformar um espaço que desabou no dia 23 de setembro de 2016. Depois, eu soube, como todo mundo, que havia uma ideia de construir um centro de convenções no Comércio. 

O senhor soube pela imprensa, ou em um encontro com ele, como foi dito pelo governador?

Nunca tratamos uma pauta específica de centro de convenções. O governo nunca nos apresentou um projeto, nunca apresentou nem mesmo uma ideia conceitual do que seria este centro de convenções. Tivemos conhecimento pela imprensa, mas não foi adiante e o governo mudou para uma terceira versão, de construir no Parque de Exposições. Em nenhum momento procurou a prefeitura, nem a mim como prefeito para tratar do assunto. E eu vendo o tempo passar. Quando houve o desabamento era véspera de eleição, eu poderia ter prometido para me aproveitar da comoção, fui provocado por minha equipe de comunicação, e não fiz. Não quis polêmica.  Em 2017, o setor hoteleiro e de turismo faz um estudo que mostra a perda de R$ 2 bilhões em movimentação financeira na cidade pela inexistência de um centro de convenções em um intervalo de quatro anos. Eu determinei a minha equipe que fizesse um estudo porque não acreditava mais em uma solução estadual. Aproveitei duas receitas extraordinárias do município – não comprometi os recursos para saúde e educação. Peguei os recursos das vendas da folha de pagamentos da prefeitura e da alienação fiduciária de terrenos. Agora, Salvador vai ter o seu centro de convenções. Rui Costa e o PT tiveram 12 anos para resolver este problema.  

Os analistas políticos colocam uma forte possibilidade de um segundo turno entre um candidato de direita e outro de esquerda. Pelas pesquisas, hoje os nomes seriam Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (PT). Neste caso, para onde o senhor iria?

Bom, em primeiro lugar, graças a Deus a eleição não é hoje. Volto a dizer que espero que não cheguemos ao dia da eleição com esses nomes à frente.

Mas o senhor considera válida a hipótese da polarização entre a esquerda e direita na eleição, ou acha possível quebrar isso?

Eu espero que o Brasil consiga quebrar isso. É muito ruim para o Brasil a gente viver um segundo turno entre os dois extremos. Eu lhe digo como cidadão, não como político, eu não me identifico genuinamente com nenhum desses dois extremos, não me vejo nos ideários deles, nem em suas propostas. Não me vejo nos pensamentos de Haddad, nem nos de Bolsonaro. Não me sinto representado em um segundo turno entre a extrema direita e a extrema esquerda. Acho que para o Brasil é fundamental termos uma alternativa de centro no segundo turno, para não ficarmos reféns de um país dividido. O maior receio que eu tenho é o de que as urnas não sirvam para a gente virar a página de uma crise que vivemos desde 2014. A maior preocupação que eu tenho é a de que esta crise se estenda por mais quatro anos. O preço que pagaremos se isso acontecer será altíssimo. Vitória de Haddad ou de Bolsonaro vai levar à manutenção dos radicalismos, das posições extremadas. A gente não precisa disso. Eu confio na possibilidade de as pessoas acordarem para o risco que o país corre.