Adeus à mãe das gordinhas: amigos e familiares despedem-se de Eliana Kertész

Políticos, artistas e comunicadores compareceram à cerimônia de cremação do corpo da artista plástica e ex-vereadora

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 26 de março de 2017 às 22:30

- Atualizado há um ano

(Foto: Divulgação)Antes, um rápido pulo na praça em que estão as três grandes, volumosas e arredondadas peças em bronze. Em poucos minutos, grupos de amigos, turistas e famílias inteiras estavam posando ao lado das obras de Eliana Kertész. Apesar de o nome da autora não ser tão popular, as “Gordinhas de Ondina”, como ficaram conhecidas, estão, sem dúvida, entre as obras de arte mais famosas das ruas de Salvador.“Essas gordinhas são massa! São a cara da Bahia!”, disse a dançarina Tainá Oliveira, 21 anos, que passava com amigas pelo local e resolveu guardar imagens de recordação. “Ela resumiu em três peças o perfil da mulher brasileira. A gente tem volume! Vai dizer que Gisele Bündchen nos representa?”, questionou Tainá, sem saber que o verdadeiro nome das obras é exatamente Meninas do Brasil.Família também fez passeio por Ondina e tirou foto com 'As Gordinhas'(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Enquanto as famílias se divertiam com as criaturas em uma ensolarada tarde de domingo, o salão de cremação do Cemitério Jardim da Saudade ficava lotado para quem foi se despedir da criadora. Políticos, artistas, publicitários, empresários e comunicadores compareceram ao último adeus à mulher que fez muito mais que suas três mais famosas obras.

Não houve velório. Vítima de um câncer, Eliana morreu em casa e teve o corpo levado direto para uma breve cerimônia de despedida. Casada por muitos anos com o ex-prefeito Mário Kertész, quando foi primeira-dama, Eliana foi também vereadora, secretária de governo e publicitária. Diante da importância de seu nome e, mais recentemente, sua obra, o prefeito ACM Neto determinou que a área que abriga as Gordinhas receberá o nome de Praça Eliana Kertész.

"A obra de Eliana Kertész transformou aquele espaço em um local de visitação de turistas e baianos. Ela deu vida àquele lugar", disse o prefeito. Apesar de nos últimos anos ter se firmado como artista plástica, Eliana teve uma marcante carreira política. Especializada em ciências políticas e planejamento econômico, filiou-se ao PMDB em 1981, um ano antes de se candidatar a vereadora.A área que abriga as esculturas "Mulheres do Brasil", as"Gordinhas de Ondina", receberá o nome de Praça Eliana Kertész (Foto: Lélia Dourado/Divulgação)Em 1982, elegeu-se com 94 mil votos - o equivalente a 17,3% dos votos válidos, a maior votação para o cargo no país inteiro, marca até hoje inigualada entre as capitais. Na segunda administração de Mário Kertész como prefeito de Salvador, Eliana licenciou-se do cargo e assumiu a Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Também foi coordenadora de Turismo da Bahia.

“Conheci Eliana há 54 anos, no vestibular para administração. Uma amizade grande, depois um grande amor que nos gerou 4 filhos. O casamento acabou, mas a amizade seguiu até o último momento. Um exemplo de criatividade, uma vereadora fantástica! Muitos amigos. Uma vida muito bonita”, disse Mário, bastante emocionado. "Na política, Eliana Kertész foi uma grande vereadora. Uma votação espetacular. Uma mulher de grande estima”, confirmou o ex-governador Roberto Santos.

O governador Rui Costa comentou a morte de Eliana em sua página no Facebook. “A Bahia perdeu uma artista plástica que deixou um importante legado para nosso estado. Sua arte e sua sensibilidade continuarão presentes entre nós”. Fora da política, Eliana descobriu as artes em 1991. Criou suas próprias técnicas e desenvolveu inicialmente 33 gordinhas. As esculturas em barro evoluíram para pó de mármore, resina, bronze e fibra de vidro.

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Exposição

O sucesso gerou outros inúmeros convites, inclusive o de fazer as Gordinhas de Ondina. Eliana também fez esculturas das mulheres que marcaram os principais romances do escritor Jorge Amado na versão gordinha. A exposição, em parceria com a artista plástica Maria Adair, no Museu Rodin, foi levada para Portugal, França, São Paulo, Rio e Ilhéus.

No ano passado, a artista foi eleita madrinha do concurso A Mais Bela Gordinha da Bahia. Apesar de ter outras obras, a contestação aos padrões de magreza tornou-se sua marca. “Uma artista absolutamente original. Extrapola o estético e avança para a vanguarda nos campos do comportamento e da política", opinou Fernando Guerreiro, diretor da Fundação Gregório de Matos.

"Eliana fez com genialidade uma obra forte, feminista, revolucionária. Não é fácil ser politicamente correta e não ser chata”, disse o secretário de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), Guilherme Bellintani. Na cerimônia de cremação, gente de todas as áreas. Do marqueteiro João Santana ao médium José Medrado, do cientista político Paulo Fábio aos músicos Márcio Melo e Gil Melândia. Enquanto isso, Ondina vibrava com as Gordinhas. “O padrão de beleza normalmente exaltado é outro. Essa obra é genial”, disse a dona de casa Elaine Chagas, acompanhada do marido, da filha e da enteada. 

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