Adeus, hot dog! Pirão de aipim é a grande sensação do Carnaval de Salvador

No circuito Barra-Ondina é possível encontrar pratos entre R$ 8 e R$ 15

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 5 de março de 2019 às 07:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Vinícius Nascimento/CORREIO

Quem anda pelos circuitos de Carnaval já percebeu que um prato vem fazendo sucesso pela festa: o pirão de aipim. Normalmente algo entre carne do sol, calabresa, bacon, frango ou tudo isso junto. Neste ano, o pirão desbancou o tradicional hot dog como o queridinho para matar a fome dos foliões. 

Com um ponto de venda na Rua Afonso Celso, pertinho do Beco da Off, o bacharel em letras Hebert Breno, 26, avisa logo: quem passa em sua barraca não esquece.

O pratinho de pirão sai a R$ 8 e ele conta que consegue vender cerca de dois panelões por dia, o que rende cerca de 120 porções. Ele também tem coxinhas e hambúrgueres, mas nada faz tanto sucesso quanto o pirão.

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A foliã Luara Costa, 23, aprovou o pirão e disse que vai marcar o ponto. Segundo ela, que saiu para a rua todos os dias, o prato é uma espécie de santo para "enfrentar a cachaça"."Tem que ter algo além do combustível pra manter a gente vivo. O pirão é gostoso, alimenta bastante. Eu gosto muito, tomara que a moda continue", contou a folião, que saiu do bairro da Caixa D'Agua com o objetivo de pegar a pipoca de Pabllo Vittar.Há pirão de todo os tipos e todos os preços pelo circuito Dodô, o Barra-Ondina. A média de preço varia entre R$ 8 e R$ 15. Na Barraca do Ripe, que fica em frente à Caixa Econômica da Barra e é tocada pelo casal Clóvis Barbosa, 67, e Sueli Barbosa, 58, há pratos de R$ 10 e R$ 15 - o mais caro tem camarão como acompanhamento. 

Clóvis prefere ser chamado de Bigode, apelido com referência um tanto quanto óbvia. Ele é aposentado da Petrobras e começou a trabalhar vendendo comida na rua há cerca de 10 anos. Começou no estádio de Pituaçu, depois passou para a Ladeira da Fonte, nas imediações da Fonte Nova, e há sete anos decidiu com sua esposa que iria se arriscar no Carnaval. E o investimento deu certo. Clóvis e Sueli vendem comida no Carnaval há 7 anos. Desde o ano passado estão investindo no pirão de aipim (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) A maratona é longa: desde a última terça-feira (26) eles estão com seu ponto. Chegam às 13h e só deixam o circuito entre 6h e 7h. Mas em absolutamente todos os dias a panela carregando cerca de 50 kg de pirão volta vazia. Na última segunda-feira de Carnaval, não foi diferente. E não foram raras as vezes que apareceu um folião para perguntar “tem pirão aí, moço?”. Eles venderam tudo antes da meia-noite.

Além do pirão, Bigode e dona Sueli também vendem churrasquinho e bebidas diversas entre água, cerveja, refrigerante e suco. O vendedor contou que só nos alimentos ele investiu R$ 1,6 mil. Isso sem contar as bebidas. A média de pratos de pirão vendidos por dia gira entre 210 e 250 unidades, o que representa um total de R$ 2,5 mil vendidos. Ou seja: só com a venda de pirão o casal consegue pagar todos os alimentos e ainda tira R$ 900 de lucro.“Graças a Deus está dando certo. Temos clientes que saem lá de Ondina, no final do circuito, atrás da gente. Como trabalhamos no estádio, também tem torcedor que vem atrás da gente porque já criou um vínculo. Aí fica legal”, contou Sueli.E tem pirão por todo o canto. Bem perto da Barraca de Bigode e Sueli, o casal Juli Rodrigues, 22, e Júnior Bros, 24, aproveitavam um pratinho de pirão. Júnior já estava no segundo e contou que a comida estava sustentando sua folia em sua primeira ida ao Carnaval neste ano. Morador do Trobogy, ele estava trabalhando nos outros dias da festa.“Pirão é bom demais. Sucesso que chegou pra ficar!”, exclamou Júnior, que estava em seu segundo prato. Casal Júnior e Juli compraram pirão por R$ 10. Ele chegou a repetir o prato (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Conquistando o cliente No meio de tanta oferta, é preciso se diferenciar. A afirmação é de Clóvis Barbosa, ou simplesmente Bigode. E o vendedor diz que o seu maior marketing é o sabor do pirão que ele mesmo faz. Sueli é responsável pela carne, que é frita na hora em cima da chapa da barraca. O casal divide as atividades para que ninguém fique sobrecarregado.

“Pra fazer esse tanto de pirão precisa de braço e ele tem mais força que eu. Mas leva jeito, uma pena que já acabou, senão dava um pouquinho para provar”, desafia Sueli.

Bigode se recusa a contar qual a receita para fazer um pirão de aipim tão saboroso. “A gente dá o nome, mas nem sempre o apelido”, contou o vendedor afirmando que precisa manter segredo para continuar bem nas vendas.

A única coisa que ele deixou clara sobre sua receita é que na barraca dele o que vende é pirão de verdade e que já viu muita gente vendendo purê pelo circuito. Segundo Bigode, nesse caso não há a mesma sustância, tampouco sabor.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier