Adeus, 'Ratatouille': dedetização expulsa ratos da Feira de São Joaquim

Só em 2021, 16 pessoas já tiveram leptospirose e uma morreu da doença em Salvador

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  • Luana Lisboa

Publicado em 12 de julho de 2021 às 20:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

Embora na ficção eles sejam engraçadinhos, no mundo real, os roedores são motivo de pavor: todo ano, as chuvas de inverno trazem maior risco de leptospirose à população de Salvador. Em 2021, 16 pessoas já tiveram a doença transmitida através da urina dos roedores e uma delas morreu, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Para evitar esses casos, a Prefeitura tem intensificado as ações de controle químico e, nesta segunda-feira (12), foi a vez da Feira de São Joaquim receber a intervenção.

Trinta profissionais, dentre eles agentes de combate às endemias, biólogos e veterinários, iniciaram a ação que faz parte das operações especiais deflagradas pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para monitorar as principais avenidas, córregos e canais, praias e praças da cidade.

Além das chuvas como maior propagador da leptospirose, a grande oferta de alimentos atrai os animais. “Aqui, existem mais de 7 mil feirantes, uma oferta enorme de alimentos e descarte irregular de inservíveis e matéria orgânica como vemos na parte da enseada, onde vai dar no mar foram encontradas as tocas ativas com um maior acúmulo de roedores”, explica a diretora de Vigilância à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Andrea Salvador.

A ação faz parte de um trajeto de ciclos. São feitos, pelo menos, três ciclos de intervenção química por local. O trabalho pode ser finalizado ao longo da semana, caso seja necessário. Quanto aos outros locais de intervenção, Sete Portas e Água de Meninos frequentemente a recebem. A última mobilização feita em São Joaquim aconteceu em fevereiro.

De acordo com a agente da CCZ, Lindinalva Silva, a situação que ela encontra nesses locais é precária. Após a higienização, ela conta o que encontrou: “muita sujeira, lixo, esgoto aberto e muitos animais na Feira de São Joaquim. Colocamos bastante veneno e uma isca, que amarramos no arame e inserimos na toca. Quando o rato vai tomar banho, se lambendo, ele acaba ingerindo o veneno”.

Papel do cidadão Seu Raimundo Nogueira tem 67 anos e trabalha na feira há 55. Ele diz que conviver com os roedores já é parte de sua rotina. “Lugar que tem comida e lixo é igual a aglomeração de rato, não tem como evitar. Dá para diminuir um pouco, mas acabar é difícil. Se até dentro do supermercado tem rato, imagine aqui”, opina.

Mário Menezes, de 75 anos, descreve: os ratos grandes ficam mais próximos ao mar e os pequenos, dentro das lojas. “Tem muito rato e muita barata também. A operação pode ajudar, mas resolver não tem como”, avalia o comerciante.

Nesse ponto, a chefe do setor de vigilância e controle das zoonoses, Cristiane Yuki, afirma que a forma de resolver totalmente o problema deve passar pelo apoio do cidadão. “A intervenção química é apenas um paliativo. Se a população continuar acumulando entulhos, descartando lixos e alimentos de forma inadequada, outros ratos irão aparecer. Recomendamos que os moradores adotem a prática de dispensar os resíduos somente em horários próximos aos da coleta diária”.

Os cidadãos também podem solicitar a visita das equipes do Programa de Controle da Leptospirose através do Fala Salvador 156.

Leptospirose Caso tenha pisado em poças de água recentemente, fique ligado. A leptospirose é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada leptospira, presente na urina de roedores e transmitida ao homem. Em situações de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama tornando vulnerável qualquer pessoa que tiver contato com a água das chuvas ou lama contaminadas. As leptospiras presentes na água penetram no corpo humano pela pele, principalmente se houver algum arranhão ou ferimento.

Os sintomas mais frequentes são parecidos com os de outras doenças, como a gripe e a dengue. Os principais são: febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas (batata-da-perna), podendo também ocorrer vômitos, diarreia e tosse. Nas formas mais graves, geralmente aparece icterícia - coloração amarelada da pele e dos olhos - e há a necessidade de cuidados especiais.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo