Adolescente fica paraplégico após levar tiro em ação policial em Pernambués

Caso foi no dia 9 de junho; família acusa PMs de serem responsáveis por disparo

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  • Carol Aquino

Publicado em 22 de junho de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

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O sonho de ser jogador de futebol e quem sabe até jogar uma Copa do Mundo terminou em uma noite que parecia ser de festa. Na madrugada do sábado (9), um adolescente de 16 anos soltava fogos com os amigos na localidade da Baixa do Manu, em Pernambués, perto de casa, mas acabou atingido por um tiro nas costas durante uma incursão da Polícia Militar. Ficou paraplégico. Familiares foram nessa quinta-feira (21) à Corregedoria para denunciar o caso. Garoto de 16 anos sonhava em ser jogador de futebol e já estava até matriculado em uma escolinha (Foto: Arquivo Pessoal)  A família do garoto acusa os PMs de entrarem atirando na comunidade, sem que houvesse motivo. “No dia 8 foi o dia da Guerra de Fogos, que é uma tradição da Baixa do Manu. Ele foi baleado na madrugada. A polícia devia ter conhecimento disso, já que é uma festa que acontece há muitos anos”, revelou a advogada da família, Lorhaine Blanco.

Moradores comentaram que esse tipo de ação dos militares é rotineira. No dia do ocorrido, apontaram que nada de anormal acontecia na localidade. Não havia homens com armas ou drogas. Também não houve revide dos tiros. 

Homens armados Já a PM aponta, em nota enviada ao CORREIO, que uma equipe foi acionada pela Central de Comunicações da Secretaria da Segurança Pública da Bahia para atender a uma denúncia sobre dez homens armados na Rua da Legalidade, em Pernambués. Chegando lá, os policiais teriam sido informados de que o grupo fugiu em direção à Baixa do Manu, onde alegam que foram recebidos a tiros e revidaram o ataque. 

“Em seguida, ao realizar incursão a pé na localidade os policiais encontraram um adolescente de 16 anos alvejado e caído ao solo. A vítima foi imediatamente socorrida para o Hospital Roberto Santos”, diz um trecho da nota da PM, sem apontar se o garoto teria sido vítima de um disparo dos supostos criminosos ou dos próprios policiais. 

Paraplégico A bala ficou alojada na coluna, e o garoto deu entrada no Hospital Geral Roberto Santos em estado grave. “Ele passou por cirurgia e não corre mais risco de morrer, mas o laudo médico aponta que ele ficou paraplégico e é irreversível”, conta a advogada da família.

O adolescente também perdeu o controle das funções urinárias e agora precisa usar fraldas o tempo todo. Uma sonda foi colocada nele para recolher a urina.  

“Ele não sabe que está paraplégico em definitivo. A gente está esperando a assistência social do hospital disponibilizar uma psicóloga para contar a ele”, relata Lorhaine. “Ele está muito abalado, só faz chorar e não está se alimentando direito. Ele tinha o sonho de ser jogador de futebol e no hospital fala muito nisso, que ele não vai poder mais jogar”, completa, acrescentando que o garoto estava matriculado em uma escolinha de futebol. 

Na esperança de que ele possa pelo menos ter certa independência, os médicos solicitaram a transferência do Roberto Santos para o hospital de reabilitação Sarah Kubitschek. O pedido ainda não foi atendido por falta de vagas, segundo a família. 

A mãe do garoto está desesperada. Além de ter que ver o filho jovem preso a uma cama, ela vai parar de trabalhar para tomar conta do adolescente. Chefe de família, ela tem outros três filhos e sustenta a casa sozinha com o salário de empregada doméstica. 

Denúncia Na busca por Justiça, a mãe do garoto e duas testemunhas foram até a Corregedoria da Polícia Militar nessa quinta-feira (21) e denunciaram o caso. Um procedimento investigatório foi iniciado. Em nota ao CORREIO, a PM informou que “o comando da 1ª CIPM (Pernambués) vai instaurar uma sindicância para apurar as circunstâncias da ocorrência".

Na segunda-feira (25), a família vai ao Ministério Público para também fazer uma denúncia. “A sede da família é por Justiça”, disse a advogada.