Aeroporto de Salvador está sob nova direção; usuários dizem o que esperam

Situação do terminal assusta visitantes e empresa que o assumiu esta semana

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 02:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO

O Aeroporto Internacional de Salvador está em novas mãos. Desde a última segunda-feira (2), o grupo francês Vinci Airports assumiu a direção do terminal soteropolitano. No entanto, a reparação dos problemas identificados por turistas e moradores não será fácil - fontes ligadas à empresa afirmam que a situação do aeroporto surpreendeu os executivos, que vão ter mais trabalho do que esperavam.

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As primeiras mudanças que serão realizadas pela Vinci, segundo nota emitida pela assessoria, serão a instalação de Wi-Fi de alta velocidade, melhorias nos banheiros, no sistema de ar-condicionado e na sinalização.“Nossa equipe está mobilizada para oferecer a melhor experiência possível aos passageiros em sua jornada pelo aeroporto. E esperamos que esta experiência melhore ao longo do tempo, com a entrega das obras”, afirmou o grupo, em comunicado.A Infraero se pronunciou por meio das redes sociais, afirmando que encerra uma história de sucesso nos aeroportos de Salvador e Florianópolis, que também passou para a iniciativa privada.

“Agradecemos à comunidade catarinense e baiana pelo convívio e a cada empregado que ali dedicou seus melhores anos de trabalho. Reafirmamos nosso papel estratégico de fomentar a aviação e fazer crescer o modal aéreo no país”, afirma a empresa. Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO Estrutura O secretário municipal de Cultura e Turismo, Claudio Tinoco, afirma que o aeroporto precisa de investimentos para ampliar o número de voos nacionais e internacionais e o fluxo de visitantes para a capital e todo o estado.“Exigimos providências emergenciais e definitivas para os problemas básicos de infraestrutura e serviços que contribuíram para a degradação do principal portão de entrada da nossa capital”, afirmou o secretário, destacando que acredita na “capacidade comercial e operacional da Vinci”.O titular da Secretaria do Turismo do estado (Setur), José Alves, diz a expectativa em relação à nova administração do aeroporto é positiva.“Desde que eles ganharam a licitação, nós procuramos a Vinci não apenas para acompanhar e dividir as ações no aeroporto mas também para cobrar as ações prometidas. Será um sucesso”, afirma o secretário da Setur.A longo prazo, a empresa pretende também realizar alterações estruturais, como obras nas duas pistas existentes e na área de abastecimento das aeronaves, além da renovação do terminal de passageiros.

José Alves afirma que há expectativa de resolução de algumas demandas em curto prazo, como limpeza de banheiro e do saguão e funcionamento de elevadores e escadas-rolantes. “Até meados de 2019 teremos mudanças mais radicais, como ampliação de saguão, ampliação de portões de embarque - a previsão é sair de 12 e chegar a 22 gates”, ele antecipa.

A empresa afirma na nota que atuará “com foco na melhoria da qualidade de serviços, geração de tráfego aéreo e estímulo de atividades não relacionadas à aviação, desenvolvendo também as áreas comerciais no terminal”. Setor de check-in do Aeroporto de Salvador (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) Críticas Quem chega no aeroporto a partir de Salvador tem uma boa impressão causada pelo bambuzal na entrada. “O ‘túnel’ de bambus dá um ar de leveza, charme e diferencial ao aeroporto”, conta a internacionalista manauense Caroline Moreira, 41 anos.

No entanto, a boa impressão se limita ao paisagismo. “Na alta estação, como as esteiras são pequenas e próximas, a área de desembarque interna fica um pouco abarrotada de pessoas, dificultando o trânsito. Os 'fingers' possuem temperatura elevada, em especial no Verão. E os banheiros ainda são um pouco velhos e apertados”, lembra ela, que já esteve na cidade “umas 30 vezes”, entre viagens de trabalho e lazer.

Caroline reclama também da usabilidade do terminal. “O aeroporto necessita de mais assentos na área de check in. Muitas crianças e idosos ficam esperando os familiares finalizarem o check in e não têm onde se apoiar”, conta ela, que já esteve em 16 estados brasileiros e 16 países ao redor do mundo.

A arquiteta curitibana Francielle Schreiner, 27, faz uma ressalva em relação identidade visual do aeroporto. “O aeroporto é genérico e com pouco apelo estético. A pessoa não se sente chegando em Salvador. Poderia ser qualquer outra cidade, em qualquer outro estado”.

“Me incomodei muito com a falta de limpeza no banheiro e a área de check in é confusa. A disposição não facilita quem tá com pressa e é mal sinalizada”, diz Francielle, que passou por aeroportos de oito estados e 17 países.“A funcionalidade é imprescindível num equipamento como esse, mas pelo aeroporto ser o primeiro contato do usuário com a cidade, as boas impressões deveriam começar ali”, diz ela, que considera o aeroporto soteropolitano o pior do Brasil.A arquiteta passou pelo terminal nas cinco vezes que esteve na capital baiana. “Acho os aeroportos de Brasília e de Curitiba os melhores. Em Salvador tem pouca sinalização - eu sempre tenho que perguntar para alguém até como chego no embarque a partir do local onde despacho a bagagem”, lembra a curitibana, que passou pela capital baiana mais recentemente em dezembro de 2017, a passeio.

Silvana Oliveira, jornalista de 51 anos, viajou nesta terça (3) de Salvador para Belo Horizonte e se assustou com a situação do terminal. “O ar-condicionado parecia que não funcionava. As pessoas estavam suando, grudentas, você sentia aquele cheiro abafado no saguão. O banheiro é uma coisa à parte: o lixo estava abarrotado, o chão e o sanitário sujos e algumas torneiras não funcionavam”.“É deprimente você ver a terceira maior capital do país com um aeroporto daquela forma, tão desorganizado! Acho que a empresa que chegou tem que acelerar o passo para que a gente tenha uma boa imagem, um bom atendimento e que faça jus às taxas que todos nós que passamos por aquele terminal aeroportuário pagamos a cada viagem”, acrescenta Silvana, que esteve no aeroporto nesta terça (3).Mais mal avaliado pelos usuários Em outubro do ano passado, uma pesquisa realizada pela Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República mostrou o aeroporto da capital baiana o pior do país. O estudo ouviu 13.649 usuários, no embarque e desembarque, dos 15 principais aeroportos do Brasil nos meses de julho, agosto e setembro de 2017.

O Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães ficou com nota 3,95, em uma escala que vai de 1 a 5 - único que ficou abaixo da meta estipulada pela Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias (Conaero). O aeroporto mais bem avaliado foi o de Viracopos, com nota 4,78.

A jornalista Silvana Oliveira concorda com o resultado. “O aeroporto é muito ruim. É quente, cheio, você tem dificuldade de pedir informações porque não tem muitos atendentes, o check in não anda… Eu lamento muito e fico com vergonha. A gente tem tudo para ser um dos melhores do Brasil, não só em termos aeroportuários”, diz a paulistana que mora em Salvador há mais de 10 anos.

O francês Ulysse Legendre, 30, é engenheiro eletricista e passou por pelo menos 60 aeroportos ao redor do mundo.“Salvador é uma das maiores cidades do Brasil, uma importante cidade turística e o aeroporto é do porte de uma cidade muito pequena. Não existe um bar ou um restaurante depois do local do check in para distrair e passar um tempo”, reclama Ulysse, que já esteve em Salvador 10 vezes.“O aeroporto é a primeira coisa que você vê numa cidade e às vezes num país. Ter um aeroporto bonito, bem cuidado e moderno é começar com o pé direito. É péssimo ser recebido em um lugar ruim”, completa ele.

A esposa dele, a engenheira mecânica Danielle Oliveira, 28, ressalta também o problema no atendimento. “Uma vez eu estava voltando de um trabalho com um colega egípcio e ele teve um problema com o passaporte. Estávamos atrasados para embarcar e a funcionária não falava inglês. Se eu não estivesse lá para ajudar, ele teria perdido o voo. Foi chocante ver isso acontecer numa cidade turística e que recebeu a Copa do Mundo e as Olimpíadas”, destaca a baiana.

Cristina Andrade, gerente da loja O Que a Bahia Tem, localizada no aeroporto, diz que é urgente o conserto do ar-condicionado, banheiros e prospecção de novos voos para o local. “Falta estrutura para receber os passageiros” ela diz.

Liderança perdida Em dezembro do ano passado, o aeroporto de Salvador perdeu para Recife a liderança no número de passageiros no nordeste.

Segundo dados da Infraero, entre janeiro e novembro de 2017, 6.953.015 passageiros circularam pelo aeroporto de Salvador, sendo 281 mil deles provenientes de voos internacionais. Em Recife, o número foi 7.009.895, dos quais 322 mil pousaram ou decolaram de destinos fora do país. Foi a primeira vez que o aeroporto soteropolitano perdeu a liderança para o terminal da capital pernambucana.