Afro Fashion Day 2018: última seletiva em Itapuã teve 90 inscritos

A grande final está marcada para 12 de Novembro, no Salvador Shopping (Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura)

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  • Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 18:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Renato Santana

Convidados a passar uma tarde em Itapuã, 90 adolescentes e jovens negros de Salvador e Região Metropolitana participaram nesta quinta-feira (25), no espaço de eventos da Villa Bahiana, da quinta seletiva de modelos não agenciados da quarta edição do Afro Fashion Day, evento do CORREIO que celebra o Mês da Consciência Negra. 

O momento de conhecer os vencedores será em 12 de novembro, no Salvador Shopping (Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura), na mesma data em que será realizado um bate-papo sobre moda e afroempreendedorismo com profissionais renomados do ramo. Os ganhadores vão desfilar na quarta edição do AFD no sábado, 24 de novembro. Bianca Lanini, 14, foi com a avó, Rita Santos, 63 A mesa de jurados desta etapa foi composta pelo fotógrafo Thiago Borba e pela modelo Julia Magalhães. Thiago participa da equipe do Afro Fashion Day há 3 anos e se diz surpreso a cada edição.  “São sempre novas belezas de pessoas que estão aí nos seus bairros, esperando uma oportunidade. Nosso desafio é identificar essas pessoas e dar um palco para elas se mostrarem e representarem a cultura afrodiaspórica na Bahia”, conta.

Borba destaca ainda como Salvador se lança à frente na realização de um evento como esse. “A gente está tocando num tema que é urgente no mundo. Fazemos um projeto que passa de ter um apelo regional e ganha um apelo internacional”, reforça ao mencionar como pautar questões raciais no ramo da moda é, também, pensar no desenvolvimento global. Vanessa Lopes, 20, mora em Itapuã; André Lucas França, 19, veio de Lauro de Freitas Júlia Magalhães colabora na produção do Afro Fashion desde ano passado e considera o projeto grandioso. “Além da admiração por toda concepção da ação, entendo que é uma grande oportunidade para todos envolvidos profissionalmente. Nós podemos compreender o mercado da moda e a importância do trabalho, que é para além de fazer um evento”. A booker, que foi convidada para o júri pela sua experiência, enfatiza que o seu olhar busca sair do convencional.  “Não observo apenas a beleza, mas também a simpatia, a segurança, a representatividade. Evito o padrão. A comunidade negra já sofre com o preconceito, com o racismo. Tentar encaixar pessoas dentro de padrões não tem sentido”.

A seletiva contou com diversos perfis. Adolescentes e jovens com o mesmo objetivo: ocupar as passarelas do evento de moda afro que homenageia o mês da Consciência Negra. Os participantes estavam ansiosos e muitos foram acompanhados por parentes, como Bianca Lanini, de 14 anos. Ela, que em 2017 foi eleita Garota Periférica do Subúrbio, contou com a presença e incentivo da avó, Rita Santos, 63. “Minha avó me motiva e está em todos lugares comigo. O apoio da família é importante”, conta a estudante que avalia o Afro como “a oportunidade para alavancar a carreira” e possível “divisor de águas” em sua vida. Rita, avó de Bianca e coordenadora nacional da Associação Nacional das Baianas do Acarajé (ABAM ), celebra a existência de uma ação como o AFD para o enfrentamento a estigmatização sofrida por pessoas que vestem tecidos com referência às matrizes africanas. “A minha roupa, o meu torço, são minhas roupas do dia a dia. Não é folclorização. E por isso é valioso mostrar as marcas que trabalham com a estética afro, porque precisamos naturalizar o que é nosso”, ressalta.

Na mesma linha, Patrícia Souza, de 26 anos, considera o Afro como estratégico. “As passarelas são extremamente racistas e excludentes. A maioria das modelos é branca. Uma ação como essa move as estruturas”, conta a moradora do bairro da Boca do Rio. Patrícia, apesar de nunca ter desfilado, já foi modelo fotográfica em projetos voltados para empoderamento e feminismo, como o ensaio “100 Mulheres Negras”, da fotógrafa Helemozão. Patrícia Souza mora na Boca do Rio e foi concorrer na seletiva de Itapuã Vanessa Lopes, 20, moradora de Itapuã e gasista, profissional que faz instalação residencial de gás natural, conta que foi pela curiosidade. “Quero representar a população negra e o meu bairro”, afirma ela, que tem tem 1,78m. A seletiva contou ainda com pessoas de outras cidades, como André Lucas França, de 19 anos, morador de Itinga, em Lauro de Freitas. “Sempre que tem um curso sobre moda em Salvador, eu participo, mesmo morando longe. Minha avó é costureira e eu sempre vi os croquis dela e comecei a me inspirar, a desenhar e a entender de estilo. Como tenho altura, posso tentar a carreira de modelo. Espero conseguir para mostrar que gente preta merece estar nas passarelas, no topo e com respeito”, disse empolgado.

As seletivas percorreram cinco bairros da capital baiana – Curuzu, Plataforma, Tancredo Neves, Pelourinho e Itapuã e reuniram mais de 500 inscritos. A final acontece em 12 de novembro, no Salvador Shopping (Teatro Eva Herz), junto com um bate-papo sobre afro-empreendedorismo. Os vencedores vão desfilar em 24 de novembro, na quarta edição do AFD. Realizado pelo Jornal Correio, com apoio do Salvador Shopping, Casa Salvador e Califórnia Media House, o Afro Fashion Day dá visibilidade para modelos negros, cultura afrobrasileira e os trabalhos de marcas locais.

*Colaborou para o CORREIO