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Afro Fashion Day homenageia blocos afro e exalta beleza da estamparia


 

Estilistas vão receber tecidos e padronagens de seis blocos para criar peças originais para desfile, que acontece em novembro

  • Da Redação

Publicado em 14/10/2019 às 06:20:00
Atualizado em 20/04/2023 às 09:27:07

Um ano depois de as cores reinarem quase absolutas na passarela do Afro Fashion Day, são as estampas que agora ganham destaque. Isso porque, em sua quinta edição, o evento que celebra o Mês da Consciência Negra faz referência aos blocos afro de Salvador, sobretudo no que diz respeito à estética de suas fantasias. São seis os homenageados: Olodum, Filhos de Gandhy, Malê Debalê, Ilê Aiyê, Muzenza e Cortejo Afro. Além de cada um ter sediado uma das seletivas, encerradas na última sexta-feira (11), todos doaram tecidos para os estilistas e designers de acessórios interessados em criar peças a partir das padronagens e cores que marcam o Carnaval há mais de 40 anos.  “Este ano, o Afro Fashion Day reúne 36 estilistas e 13 designers de acessórios (veja lista no fim desta reportagem). Não foi uma regra que eles usassem os tecidos, é algo opcional, mas mais da metade vai aderir.  Fizemos um sorteio, e cada bloco ficou com um grupo de marcas. O único que fizemos uma restrição foi o Filhos de Gandhy, cujo tecido poderá ser trabalhado apenas em looks masculinos. Prezamos pela essência do bloco”, explica Fagner Bispo, curador de moda do evento há cinco anos. Filhos de Gandhy exploram estampas com branco e tons variados de azul; no ano passado, fantasia incorporou o amarelo e foi motivo de polêmica no Carnaval (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Para ele, a palavra de ordem é mesmo a reinvenção. “Eu sempre tive vontade de trazer a percussão para o desfile, mas eu não queria abordar de forma muito óbvia. Daí, surgiu a ideia de abordar isso através dos blocos afro. A primeira reunião que fizemos foi em janeiro, e logo em seguida começou uma movimentação em torno disso por diversas marcas. A Farm, que agora tem uma coleção assinada por Alberto Pitta, do Cortejo, homenageou o Olodum no Verão passado. A Soul Dila, que é uma marca parceira do Afro, também criou estampas inspiradas nesse universo”, recorda Bispo. Identidade Nas histórias das diásporas africanas, os tecidos coloridos  e estampados foram um dos elementos de identificação de grupos que, obrigados a cruzar o Atlântico nos navios negreiros, tinham neles uma possibilidade de reencontro.  Pedaços desses panos chegaram a ser usados por mulheres na fabricação de pequenas bonecas feitas à mão e atadas com nós - conhecidas como abayomis -, que eram levadas pelas crianças apartadas dos pais, na esperança de um dia revê-los. Passados tantos anos, os tecidos continuam preservando essa função de pertencimento. Estampa assinada por Goya Lopes, estilista que participa desde a primeira edição do Afro Fashion Day (Foto: Amanda Oliveira) “Os blocos afro surgiram aqui com muita influência do movimento negro dos EUA, da década de 60. Tudo tem uma sequência, e hoje vem trazer um subsídio para gente. Jota Cunha, um dos precursores da estamparia afro aqui na Bahia, deu a cara do Ilê Aiyê. Quando eu comecei, ele já estava com estamparia, cores, contexto, tudo definido”, lembra a designer de moda Goya Lopes, que participa do Afro Fashion Day desde a primeira edição. Há 30 anos, quando ela meçou a utilizar referências afro em peças para o dia a dia, quase não havia pessoas interessadas em produzir moda para negros, e os elementos da cultura negra eram explorados tão somente pelos blocos afros. Alberto Pitta transformou tecidos estampados em telas na exposição Estéticas em Desalinho, em cartaz até dia 27 de outubro, no Museu de Arte Moderna da Bahia (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO) “Na verdade, tudo vem do bloco afro. E não é exagero! Até a primeira metade da década de 60, não existia uma estética baiana. Quando surge o Ilê Aiyê, os primeiros traços, a exploração de signos, a Bahia, e sobretudo Salvador, começa a ganhar esse contorno estético. A estampa afro-baiana vem desse lugar, do Carnaval, dos discuros de afirmação da cultura e das artes, e chega até hoje”, comenta o artista plástico Alberto Pitta, do Cortejo Afro.

Há quase 20 anos é ele quem assina a concepção artística do bloco, cujo slogan é “elegantemente sofisticado”. Sua trajetória, no entanto, começou com o Olodum. “No início, os blocos escolhiam homenagear países africanos que alcançavam a independência, e pegavam elementos, máscaras, símbolos. Eu sempre fiz diferente, sempre fiz releituras. Daí também vem o princípio do que se entende por estampas baianas e africanas. O que eu fazia era daqui, a minha compreensão sobre orixás, adereços, instrumentos”, destaca Pitta, que quando chegou ao Cortejo assumiu a missão de fazer algo totalmente diferente do que havia marcado o Olodum. “Estreamos no Cortejo o branco sobre o branco, a contra-cor”, recorda. Olodum é conhecido pelas cores verde, vermelho, amarelo e preto, sempre usadas em conjunto  (Foto: Magali Moraes/ Divulgação) Desfile Apesar de manterem a identidade visual que os diferencia na Avenida, ano a ano cada bloco produz metros e metros de tecido com estampas relacionadas a um tema específico. A trama de desenhos conta histórias diversas, e as cores e os  grafismos dão a unidade necessária. No caso do Ilê Aiyê, dois artistas são responsáveis pelos 44 tecidos que o bloco já produziu: de 1980 a 2005, o artista visual Jota Cunha; daí em diante, Mundão.Identidade visual do Ilê Aiyê foi criada pelo artista visual J. Cunha, na década de 70; desde 2006, é Mundão quem assina fantasias, que a cada ano explora um tema (Foto: Divulgação) Seguindo a estética e a cartela de cores, o desfile do Afro Fashion Day estará dividido em seis momentos, cada um dedicado a um bloco.

"É algo que é muito forte, sim. Ano passado, como o tema era cores, eu solicitei que as marcas investissem em criações monocromáticas, mas mesmo assim houve muito look estampado. Claro que há marcas que apostam no minimalismo, mas mais da metade trabalha com estampas. Acho que a gente vive em uma cidade que inspira muito isso", comenta Fagner. Já a estilista e designer de moda Madalena Silva,  da Madá Negrif, acredita que o interesse pelas estampas transcende os limites da cidade."Quem compra a minha marca, faz questão de mostrar que está usando a Madá Negrif, e essa identificação vem muito pela estampa" - Madalena Silva, da Madá Negrif A estilista Madalena Bispo, da Madá Negrif, vende roupas estampadas para todo o Brasil; nas malhas, rostos de mulheres; nos tecidos, padronagens com elementos e símbolos afro-brasileiros (Foto: Divulgação) Já a estilista e designer de moda Madalena Silva,  da Madá Negrif, acredita que o interesse pelas estampas transcende os limites da cidade.”Eu vendo para todo o país e as estampas são sempre muito requisitadas, sejam as autorais, sejam os tecidos estampados de fábrica. Eu vendo para o Brasil inteiro pela loja virtual, e a procura não difere. Eu consigo vender minhas peças com aceitação, sem diferenciar de estado para estado”, avalia. A marca participa do Afro Fashion Day desde a primeira edição, e sempre investiu em estampas na passarela. “Sempre usei e digo mais uma vez: vai ter estampa sim!”, comemora. Para a figurinista Dete Lima, uma das fundadoras d'O Mais Belo dos Belos, se no início havia uma conexão muito forte com os tecidos e a moda africana, hoje há mais naturalidade e diálogo com a moda local.  ”Antes era preciso pedir a alguém que vinha de viagem. O uso das estampas também mudou. Hoje, vestimos cores mais fortes com muito orgulho. Ver outras pessoas também usando essas roupas é um avanço muito grande”, comenta. O Malê Debalê foi criado em 1975, no bairro de Itapuã, inspirado na Revolta dos Malês, na qual escravos de origem islâmica se rebelaram reivindicando liberdade e poder. Em 2006, o The New York Times classificou o bloco como o maior balé afro do mundo (Foto: Robson Mendes/ CORREIO) Para os representantes dos blocos afro e também para os estilistas que aceitaram o desafio de criar a partir das padronagens de antigos Carnavais, o Afro Fashion Day é uma oportunidade de fortalecer a moda local. “Os blocos fazem parte da história da cidade. É uma bela homenagem, e um grande desafio transformar um tecido carnavalesco que conta essa história em uma roupa que vá pra passarela”, comenta Madalena. Tecido do Cortejo Afro; produções assinadas por Alberto Pitta são confeccionadas no galpão do bloco, em Pirajá O evento celebra o Mês da Consciência Negra através da valorização do talento dos modelos negros e da criatividade de marcas, estilistas e designers de acessórios baianos.

O Afro Fashion Day 2019 é uma realização do jornal CORREIO com apoio do Salvador Shopping.

TMARCAS DE ROUPA 1 Abanto 2 Adriana Meira Atelier 3 Ateliê CasaLinda 4 Black Atitude 5 Cantuai 6 Carol Barreto 7CP2P 8 Cynd Biquíni 9 Closet Clothing 10 Com Amor, Dora 11 Costa Ribeiro 12 Crioula 13 Colabzona  14 Filipe Dias 15 Goya Lopes 16 Incid 17Jeanne Gubert 18 Jeferson Ribeiro 19 João Damapejú 20 Katuka Africanidades 21Lú Samarato 22 Madame Nalwango 23 Marc Bell 24 MB Conceito 25 Meninos Reis 26 Mônica Anjos 27N Black 28 Negrif 29 Porto de Biquíni 30 Realeza 31Regina Navarro Bella Oyá 32 Rey Vilas Boas 33 Silverino Ojú 34 Soudam 35 Soul Dila

MARCAS DE ACESSÓRIOS1 Ateliê 2 Boutique Negralá 3By Aninha 4Kelba Deluxe 5 La Abuela 6 Maria Coruja Ateliê 7 Outerelas 8 Preta Brasil 9 Sonbrille 10 Sou Diva, Tá Bom Pra Você 11 Turbanque 12 Wari 13 Ziê