Afro Fashion Day impulsiona geração de modelos baianos mundo afora

Muitos desfilaram no evento pela primeira vez, e foram "pegos" por olheiros

Publicado em 18 de novembro de 2019 às 10:00

- Atualizado há um ano

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Após quatro edições, o Afro Fashion Day se consolida como um importante degrau para a carreira de jovens modelos negros da Bahia mundo afora. Dos que estiveram na passarela ano passado, pelo menos cinco já estão bombando fora do estado - e todos já estão articulados para dar início à carreira internacional, sendo representados por agências de renome em Paris, Nova Iorque, Londres e Coreia do Sul. 

Na narrativa da maior parte deles, o evento promovido pelo CORREIO em celebração ao mês da Consciência Negra é encarado como uma "vitrine única", cuja proporção para as suas carreiras está no mesmo nível da São Paulo Fashion Week, maior semana de moda da América Latina, e para onde boa parte deles também vão depois do Afro.

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O scouter Vivaldo  Marques, 19, acredita que a comparação não é despropositada. Tanto assim, que nos últimos anos tem lançado suas apostas no Afro Fashion Day. Vivaldo é responsável por descobrir, desenvolver e apresentar novas caras para a moda. Entre os meses de novembro e janeiro, o jovem "olheiro" vem para Salvador disposto a encontrar as meninas capazes de provar que "uma brasileira, negra, baiana, pode sim vender qualquer produto e estrelar campanhas de marcas famosas".

"Se depender de mim, na Bahia, não vai ter mais modelo baiana. Estreou aqui, quero todas representando o Brasil fora. Infelizmente, ainda não temo um mercado de moda fortalecido aqui, que dê oportunidades de crescimento. A visibilidade elas ganham lá fora", afirma.

Assim como as inúmeras modelos que apresentou no Afro e que hoje ganham o mundo, Vivaldo acredita que o evento mudou sua vida por completo. Desde os 14 anos, ele, que já pensava em trabalhar com moda, se descobriu um caçador de talentos. Filho da era digital, usa as redes sociais como aliada em suas descobertas. A modelo baiana Melissa Moreno durante o desfile da marca Aluf (Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite) "Se eu achar uma menina 2h da manhã no Instagram, eu vou ligar para ela imediatamente. Eu não tenho horário comercial, sou 24h, igual a caixa eletrônico. Foi assim com a Melissa Moreno, que desfilou no Afro em 2016 e volta esse ano ao evento. Hoje, ela é apontada como a nova Jourdan Dunn. Encontrei ela no Facebook há quatro anos, ela trabalha como designer de sobrancelhas, fui na casa dela às 3h da manhã e não tinha nem aplicativo naquela época", lembra, ao desacar a agilidade como algo fundamental para a profissão."O meu maior sonho não é ser mais rico, nem o melhor, mas é quando as pessoas pensarem em Bahia, pensarem em mim. Conseguir a Bahia levar o mundo" - Vivaldo MarquesMas Vivaldo também gosta de bater perna pelo interior da Bahia, onde geralmente encontra belezas não lapidadas. Caso de Josana Santos, 18 anos, ex-marisqueira descoberta em Salinas das Margaridas. Da estreia no Afro Fashion Day do ano passado para cá, muita coisa mudou na vida da jovem, que já desfilou no SPFW, onde representou as marcas BobStore e ModemStudio, foi capa da Vogue Brasil Noiva, e fez campanha da Jhon Jhon, Nike, MAC - esta, ainda prestes a ser lançada. Hoje mora em São Paulo, e se prepara para carreira internacional. A modelo Josana Santos estreou na passarela do SPFW durante o desfile da grife Bobstore (Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite) Também representada por ele, Monique Lemos, 15, participa pelo terceiro ano consecutivo do Afro Fashion Day, e já tem como certo o que estará fazendo nos próximos meses. “Modelando em Nova York e falando inglês”, afirma sem deixar nenhuma dúvida de que vai conquistar mais esse sonho.

“Para os modelos que estão começando é muito importante participar do Afro Fashion Day. Agrega muita coisa ao currículo, já que em Salvador não temos grandes eventos de moda”, afirma Lucas Evangelista, 23, que depois de desfilar na edição de 2016 do AFD partiu para uma carreira internacional e não conseguiu mais voltar. “A demanda está muito grande e não vai ter como, mas é uma energia incrível pisar naquela passarela”, diz o top descoberto pela One.

O booker da One Models é  Pepê Santos, que para encontrar suas apostas criou até um concurso próprio, o Beleza Black. A agência tem 17 modelos no AFD esse ano, liderando a lista. Em segundo lugar está Vivaldo Marques, com sete. Outro olheiro importante que todo ano marca presença no desfile é Vinny Vasconcellus. “Eu descubro pedra bruta, transformo em diamante e  coloco no mercado”, brinca ele, que sempre participa de concursos de beleza como jurado, focado nesses novos rostos.

O produtor de moda e curador do Afro Fashion Day, Fagner Bispo, diz que o Afro Fashion Day tem a característica de lançar muitas promessas para o mundo da moda, e para muitos modelos estar no evento é a chance de ter sua vida mudada. " Costumo dizer que todo ano fico órfão de vários modelos, porque eles acabam tomando esse rumo natural que é fazer carreira em São Paulo ou em outras cidades do mundo, mas a cada edição surgem novas caras, novas promessas e novos sonhos, que acabam preenchendo essa lacuna", finaliza.“O Afro Fashion Day abriu muitas portas para mim e eu aprendi muito. É algo muito profissional, muito semelhante ao São Paulo Fashion Week, tanto a emoção de subir na passarela quanto em relação a estrutura” - Gabriel Pitta, descoberto pela One Models Bahia, desfilou nas edições de 2016 e 2017 do AFD Gabriel Pitta abriu o desfile da Patbo no SPFW N47 (Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite)