Afro Fashion Day quebra padrões de racismo na moda

Evento cresceu de conceito e ampliou a inclusão

Publicado em 19 de novembro de 2017 às 13:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Uma mulher gorda e de vitiligo. Um homem de vestido vermelho, salto agulha e brincos. Várias modelos com peso acima do padrão. E muita, muita beleza, autoestima, afro-baianidade e poder. Criado pelo CORREIO para celebrar o mês da Consciência Negra e dar visibilidade a modelos negros e ao trabalho de marcas locais, o Afro Fashion Day mostrou ontem que não cresceu só de tamanho. Cresceu de conceito e ampliou a inclusão.

Com 100 looks, o triplo da primeira edição,o AFD 2017 abriu espaço para as minorias dentro do universo afro. A estética black estava em todo lugar, claro, mas não havia padrões rígidos para vestir uma das peças das 42 marcas baianas. Bastava ser negro e ter atitude. “Estou morrendo de ansiedade. Não dormi essa noite, 5h estava de pé”, dizia, antes do desfile, Bell Rocha, 26, modelo plus size com mais de 20 mil seguidores no Insta.

Os quatro elementos da natureza (fogo, terra, água e ar), traduzidos na figura geométrica do triângulo, deram o tom do AFD, tanto na programação visual quanto nos modelitos, na música e nas apresentações de dança que intercalaram os desfiles. Para fazer essa junção, o show fashion teve direção artística de Nara Couto. Segundo ela,o AFD resignifica o movimento afro. “A moda brasileira mantém uma estética que coloca de fora os negros. O Afro Fashion Day inova nessa estética. O que a gente vê hoje aqui é o afro contemporâneo”, disse Nara. Assista ao desfile completo do evento.

Nara conseguiu unir os olhares do VJ Gabiru, do DJ Telefunksoul, da companhia Lekan Dance, coordenada pelo bailarino Ed Cruz e do produtor de moda Fagner Bispo. “Este ano exageramos!”, brincou Fagner, destacando a grande sacada de, além de ampliar a inclusão, buscar modelos nas ruas de Salvador. No total, oito modelos garimpadas em concursos realizados em cinco bairros da cidade formaram o casting.

Sonhos Nos camarins, histórias de superação e força de vontade entre as 58 mulheres e 42 homens. Sonhos de negros e negras tão reais quanto qualquer outro. Mas, com o desafio de enfrentar um mercado restrito e preconceituoso. “O Afro Fashion Day é uma vitrine que vem para quebrar um pouco com isso.Temmuitagente boa sem espaço”, diz Rejane Santos, 19 anos, que em janeiro deve ir morar em São Paulo e tem boas possibilidades de carreira internacional.

Rejane é um dos achados de Vinny Vasconcellus, da The Agency, que lapidou Ana Flá- via. Ela estourou no AFD do ano passado e se tornou a primeira negra a vencer o concurso da Ford Models, em São Paulo. “Estou de olho em uma modelo desta edição, que não foi selecionada, mas em breve estará nas passarelas internacionais”, avisa Vinny.

Criado pelo jornal CORREIO, o Afro Fashion Day 2017 foi realizado com patrocínio da Avon, apoio institucional da Saltur e da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Senac, Vizzano, BellacorEsté- tica, Sebrae, Ebam e Edy Diamond.